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Estimativas para a safra 2025/26 de cana-de-açúcar

A moagem de cana-de-açúcar no acumulado da safra 2025/26 até 1º de agosto somou 306,2 milhões de toneladas, representando uma queda de 8,6% ou 28,7 milhões de toneladas a menos em relação ao ciclo anterior (334,9 milhões de toneladas), segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia). Quanto à qualidade da matéria-prima, o Açúcar Total Recuperável (ATR) acumulado do ciclo soma 126,85 kg/t, também em retração, mas de 4,8% em relação ao mesmo período anterior (132,90 kg/t), sendo o menor nível dos últimos 10 anos.  

O regime de chuvas foi desfavorável no desenvolvimento da lavoura, com precipitações abaixo do ideal, e na colheita com clima úmido, impactando de forma conjunta a produtividade (TCH) e a qualidade (ATR). Olhando somente entre abril e julho, a produtividade agrícola caiu 10% em um ano, atingindo média de 79,84 t/ha, de acordo com o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira). Combinada à queda de quase 5% no ATR, a redução resultou em uma retração próxima a 15% no ATR por hectare (TAH). A perda foi generalizada em todo o Centro-Sul, chegando a 18% em Goiás, 19% em São José do Rio Preto, 23% em Minas Gerais e 25% em Ribeirão Preto, com exceção apenas do norte do Paraná e da região de Assis (SP), que apresentaram melhor desempenho.

Dessa forma, a temporada 2025/26 já aponta sinais de retração com as quedas no teor de ATR e produtividade, reflexos climáticos e impactos herdados da temporada anterior. Um levantamento realizado pelo NovaCana com especialistas aponta que com o 1º trimestre concluído, há consenso de que a moagem no Centro-Sul será menor do que a de 2024/25, embora ainda haja divergências quanto à dimensão da quebra. Enquanto isso, o mercado segue dividido para o açúcar, mas o etanol já mostra maior variabilidade, influenciado por fatores como adoção do E30, competitividade do açúcar frente ao biocombustível, capacidade de cristalização das usinas e crescimento do etanol de milho. 

Em relação ao açúcar, a Hedgepoint reduziu sua projeção de produção do Brasil para 40,9 milhões de toneladas, com exportações em 31,9 milhões, destacando os impactos da estiagem inicial e dos incêndios de 2024 na produtividade, embora indicadores de vegetação apontem possível recuperação na segunda metade da safra. O desvio para o etanol perdeu força, e as usinas devem manter cerca de 52% da cana destinada ao açúcar, o que pode apertar os estoques de etanol e sustentar os preços do adoçante. Mesmo com redução na estimativa de produção global, o balanço do adoçante na safra 2025/26 ainda aponta para um superávit, segundo projeções do Itaú BBA. Houve recuo nas projeções de produção no Brasil e Europa, mas no sul e sudeste da Ásia o cenário é outro, com expectativa de que a produção na Índia cresça 18% no ano, 12% no Paquistão e 8% na Tailândia. Dessa forma, o superávit global reduziu de 2,7 para 1,7 milhões de toneladas. 

Do lado do etanol entrou em vigência a nova regulamentação federal que aumenta a mistura de biocombustíveis na gasolina (etanol) e no diesel (biodiesel) comercializados em todo o país. O percentual de biodiesel no diesel cresceu de 14% para 15%, enquanto a mistura de etanol na gasolina passou de 27% para 30%, o que deve adicionar 1 bilhão de litros de demanda de anidro já nesta safra, de acordo com o Itaú BBA. Já no âmbito internacional, os Estados Unidos abriram investigação sobre o etanol brasileiro, embora o comércio bilateral já seja pequeno e esteja em retração (queda de 70% entre 2019 e 2024), mas o governo brasileiro e a indústria defendem que ambos os países unam esforços para expandir mercados de etanol no mundo, em vez de travar disputas comerciais. O Brasil reafirma a legitimidade da tarifa de 18% sobre o etanol norte-americano e destaca que não concede subsídios à produção, ao contrário dos EUA, que apoiam fortemente o milho e o açúcar via programas governamentais. A diplomacia brasileira propôs ampliar cooperação em iniciativas como a Aliança Global em Biocombustíveis e em combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), cuja demanda deve crescer a partir de 2027.  

Diante desse cenário, podemos dizer que as perspectivas seguem cercadas de incertezas na cadeia da cana-de-açúcar. A safra 2025/26 deve ser observada com cautela, com as variáveis do campo e do mercado interagindo de forma complexa e desafiadora para todo o setor, mas o Brasil tem resiliência para provar sua força mais uma vez e continuar abastecendo o mundo!

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). 

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é associada na Markestrat Group, engenheira agrônoma pela ESALQ/USP e mestra em Administração na FEA-RP/USP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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