Iniciamos o período mais aguardado pelo produtor de soja: o plantio. É amplamente reconhecido que um plantio bem executado é o primeiro passo para o sucesso da lavoura. Contudo, alcançar altos índices de produtividade depende de um planejamento detalhado, iniciado antes mesmo da semeadura, com o objetivo de mitigar possíveis falhas.
A seguir, apresentamos orientações fundamentais que devem ser consideradas antes do início das operações de plantio:
PLANEJAMENTO E PREPARAÇÃO
Características da área
É imprescindível reunir informações estratégicas sobre a área a ser cultivada, como altitude, cultura antecessora, cultura subsequente, práticas agrícolas anteriores e particularidades regionais. Esses dados são essenciais para orientar a escolha do ciclo e da cultivar mais adequada ao sistema produtivo.
A altitude, por exemplo, exerce influência direta sobre o ciclo das cultivares, podendo prolongá-lo em virtude de menores variações entre as temperaturas diurnas e noturnas, como ocorre em regiões acima de 600 metros de altitude. Tal condição pode comprometer o calendário da segunda safra.
O conhecimento da cultura antecessora também é relevante. No caso do cultivo de soja sucedendo a cana-de-açúcar, é necessário observar o período residual de herbicidas utilizados anteriormente, que podem apresentar restrições à cultura da soja.

A Figura 1 apresenta os principais herbicidas utilizados na cana e seus respectivos períodos de carência para leguminosas.
Zoneamento agrícola de risco climático (ZARC) e Corretora de seguros
Trata-se de um programa elaborado com o objetivo de minimizar os riscos associados a fenômenos climáticos adversos, permitindo que cada município identifique o período ideal para o plantio das principais culturas, considerando os diferentes tipos de solo e os ciclos das cultivares. Uma ferramenta importante de apoio ao cooperado é o Seguro Agrícola vinculado às recomendações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC).
A Coopercitrus, por meio de sua Corretora de Seguros, oferece suporte completo aos produtores, promovendo maior segurança e proteção para a lavoura durante todo o ciclo produtivo.
Análise de solo
A análise de solo pode ser comparada a um “exame de sangue”: ela identifica com precisão os nutrientes em deficiência, permitindo correções assertivas. O uso de ferramentas como o GEOFERT é fundamental nesse processo, fornecendo dados precisos sobre os nutrientes, mapas de recomendação e arquivos compatíveis com a aplicação em taxa variável.
Em um cenário em que o produtor busca otimizar custos, a análise de solo é uma prática que permite inserir no sistema exatamente o que a planta necessita.
Escolha da semente
O uso de insumos de alta tecnologia perde sua efetividade quando não está acompanhado por sementes de qualidade superior. Conforme a legislação vigente, as sementes de soja devem apresentar, no mínimo, 80% de germinação, sendo que o vigor é o principal diferencial entre lotes que atendem aos requisitos legais e aqueles que, de fato, entregam desempenho agronômico superior.
A escolha de sementes com alto vigor é fundamental para garantir uma emergência rápida, uniforme e com maior tolerância a condições adversas, contribuindo diretamente para o estabelecimento inicial da lavoura e, consequentemente, para o seu potencial produtivo.


Figura 2. Comparação de vigor nas sementes (Fonte: França Neto, EMBRAPA)
Diante da crescente variabilidade climática observada em cada safra, o uso de sementes de qualidade elevada se torna indispensável para assegurar o bom estabelecimento da lavoura, mesmo sob condições desfavoráveis como chuvas intensas, estiagens pontuais ou temperaturas elevadas.
PLANTIO E MANEJO INICIAL
Condições climáticas
É fundamental respeitar a umidade do solo, evitando o plantio em condições de solo seco (“plantio no pó”), uma vez que isso representa um risco elevado. A faixa ideal de temperatura do solo para germinação e emergência da soja situa-se entre 22 °C e 28 °C, o que também favorece a sobrevivência das bactérias fixadoras de nitrogênio.
Abaixo de 10 °C, a germinação é inviabilizada. Além disso, temperaturas inferiores a 20 °C prolongam o tempo de emergência, estimando-se um dia adicional para cada grau abaixo dessa marca.


Figura 3. Avaliações de temperatura no plantio e desenvolvimento da cultura (Fonte: arquivo pessoal e Alexandre Gazolla)
Inoculantes
A adoção das Boas Práticas de Inoculação (BPI) é indispensável para garantir a fixação biológica de nitrogênio (FBN) de forma eficiente, fornecendo o nitrogênio necessário ao longo do ciclo da cultura.
Principais recomendações:
| Verificar o registro no MAPA e o prazo de validade dos produtos; | Utilizar cepas de Bradyrhizobium japonicum ou elkanii; |
| Aplicar a dose correta (1.200.000 células por semente); | Em sementes pré-inoculadas, garantir a recuperação de ao menos 100.000 células por semente. |
A associação com Azospirillum é uma prática crescente que tem apresentado resultados positivos, conforme ilustrado na Figura 4.

Figura 4. Comparação de inoculação em associação com azospirilum (Fonte: Góis,W; Emater PR 2016)
A calagem adequada auxilia na correção do pH, o que favorece o desenvolvimento radicular e a simbiose. Elementos como fósforo (P), cobalto (Co) e molibdênio (Mo) também são essenciais: o fósforo contribui para a formação dos nódulos e fornecimento de energia; o cobalto compõe a vitamina B12 e o molibdênio, as enzimas como a nitrogenase e redutase do nitrato, que participam ativamente da fixação biológica de nitrogênio.
A FBN é uma tecnologia de baixo custo, mas que exige conhecimento técnico rigoroso para seu manejo adequado.
Controle de plantas daninhas
Diferentes áreas dentro de um mesmo talhão podem demandar estratégias específicas para o controle de plantas daninhas. Assim, o reconhecimento prévio da matologia é fundamental para garantir a eficácia dos herbicidas, além de ser essencial respeitar os períodos residuais desses produtos para semeadura da soja.
Uma prática altamente recomendada é a utilização de herbicidas pré-emergentes, e cada um possui uma ação mais efetiva em determinada planta daninha. O quadro 1 sumariza os principais herbicidas pré-emergentes e seus controles nas plantas daninhas.
Quadro 1. Controle médio esperado de plantas daninhas pela aplicação de herbicidas pré-emergentes na cultura da soja

Fonte: CCGL Pesquisa e Tecnologia, 2024
Plantabilidade
A plantabilidade se refere à distribuição uniforme de sementes, na profundidade correta e com população adequada.
O grupo GPD da UNESP Botucatu é referência no assunto e destaca os sete pilares da plantabilidade:
- Qualidade dos insumos (sementes de alto vigor e fertilizantes de boa qualidade física);
- Dessecação e corte da palha (uso do disco adequado ao tipo de palha, que deve estar totalmente seca ou verde – evitar o “meio termo”);
- Manutenção da semeadora (verificar discos de corte, pressão das molas, tubos condutores de sementes, rodas compactadoras e motrizes);
- Profundidade da semente (o ideal para a soja é 3 cm, profundidades excessivas comprometem o desenvolvimento radicular e engrossamento do hipocótilo, como mostra a Figura 5);

Figura 5. Foto: Alexandre Gazolla
- Dosador de sementes (uso correto de discos e anéis para evitar falhas e sementes duplas);
- Velocidade de deslocamento (plantio com maior singulação resulta em melhor distribuição e desempenho);

Figura 6. Singulação na distribuição de sementes de milho em diferentes dosadores (Fonte:GPD)
- Avaliação do plantio (medir CV, falhas e duplas logo no início, para correções imediatas).
A Figura 7 mostra um aplicativo desenvolvido pelo GPD para auxiliar nessa avaliação em campo.

Figura 7. Aplicativo de avaliação de plantio do GPD para cálculo do CV, duplas e falhas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um plantio bem conduzido é o primeiro passo para uma safra promissora. As boas práticas agrícolas são independentes do tamanho da área cultivada e refletem o zelo do produtor com sua lavoura.
Contamos com uma equipe técnica capacitada e pronta para oferecer todo o suporte necessário nesta etapa tão crucial.
Realize o básico bem feito e tenha um excelente plantio.







