A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes para o agronegócio brasileiro, sendo responsável por gerar energia, açúcar e etanol para o país e para o mundo. No entanto, após inúmeros ciclos, as produtividades tendem a cair. Assim, o canavial precisa passar por um momento de renovação. Este processo é conhecido como reforma do canavial.
Tradicionalmente, a reforma do canavial era vista como um período de custos elevados, em que o produtor investia no preparo do solo e ficava sem receita econômica até a implantação da nova soqueira. Hoje, no entanto, esse cenário vem mudando, e cada vez mais agricultores estão aproveitando a reforma para integrar outras culturas ao sistema. Dentre elas, há plantas de serviços como a crotalária e/ou culturas de exploração econômica, como o amendoim e principalmente a soja, que tem ganhado destaque como alternativa estratégica.
Nos últimos quatro anos, a prática da renovação do canavial com a soja ganhou espaço no campo e surpreende pela versatilidade e capacidade de agregar agronomicamente e economicamente ao produtor. E, nesta crescente adoção da cultura na rotação, um dos temas abordados no 10º Congresso Brasileiro de Soja, realizado em Campinas (SP), foi justamente a experiência da semeadura de soja em áreas de reforma de cana, onde tive a oportunidade de compartilhar as práticas de campo com o público presente. Este tema reforça o quanto a integração entre culturas vem trazendo avanços significativos para a agricultura e ganhos reais ao produtor, além de contribuir para melhoria agronômica do solo e o sistema produtivo com um todo.
A soja como parceira na reforma
A introdução da soja na reforma do canavial traz vantagens em diversas frentes. Do ponto de vista econômico, a colheita dos grãos gera uma receita adicional ao produtor, diminuindo o impacto financeiro de um período que antes era considerado improdutivo. Do ponto de vista agronômico, a soja contribui para a fertilidade do solo por meio da fixação biológica de nitrogênio, reduzindo a dependência de adubos nitrogenados para a cultura seguinte.
Além disso, a soja proporciona a rotação de culturas, prática que ajuda a quebrar ciclos de pragas, doenças e plantas daninhas específicas da cana por poder utilizar moléculas que, na cana, não poderiam ser utilizadas. Essa diversificação é uma forma eficiente de reduzir custos futuros com defensivos, e ao mesmo tempo, melhora a qualidade do solo e de sua estrutura física.
Outro ponto relevante é a cobertura do solo. A palhada da soja serve como proteção contra a erosão, conserva umidade e favorece a atividade biológica, proporcionando condições mais favoráveis para o desenvolvimento da nova cana.
Boas práticas para o sucesso da integração
Para que a reforma com soja seja bem-sucedida, algumas recomendações técnicas devem ser observadas:
Escolha da cultivar – É importante selecionar variedades de soja adaptadas à região e ao calendário da reforma. | Manejo da fertilidade – Planejar a adubação focando tanto na soja quanto na cana que virá em seguida, garantindo o melhor aproveitamento dos nutrientes. |
Semeadura direta na palhada – Esta técnica reduz custos, preserva a estrutura do solo e mantém maior teor de matéria orgânica e umidade no sistema. | Logística agrícola – Um bom planejamento de operações evita atrasos na implantação da cana após a colheita da soja, garantindo que o ciclo produtivo siga dentro do calendário ideal. |
Essas práticas, quando aplicadas em conjunto, potencializam os resultados e permitem que o produtor alcance produtividades consistentes em ambas as culturas.
O papel da cooperativa e da inovação
A Cooperativa, como protagonista do setor e fomentadora de novas tecnologias no campo, conta com o suporte do departamento técnico para prestar o apoio necessário ao cooperado na realização da reforma do canavial, e por isso criou o programa RENOVA SOJA. Este programa tem os seguintes pilares:
Retirar a cana entre setembro e outubro e destruir a soqueira com herbicidas ou roçadeira; | Escolher a variedade de soja adequada para cada região, considerando o ciclo, a resistência a pragas e doenças, o potencial produtivo e a qualidade dos grãos; |
Fazer análise de solo e as correções de acordo com as recomendações técnicas; | Plantar as sementes de soja de acordo com as orientações de profundidade e espaçamento; |
Preparar o solo com gradagem ou escarificação, ou optar pelo plantio direto sobre a palhada da cana; | Fazer o controle das plantas daninhas, pragas e doenças, usando métodos integrados e produtos registrados para a cultura, evitando herbicidas com residual longo que possam prejudicar a cana-de-açúcar; |
Portanto, suporte técnico tem sido essencial para que os produtores entendam o manejo adequado, escolham as cultivares corretas e façam os ajustes necessários em cada realidade de campo.
Conclusão: um futuro sustentável
A reforma do canavial com soja representa mais do que uma técnica de manejo. Ela é um exemplo claro de como a agricultura pode evoluir de forma sustentável, integrando culturas, otimizando recursos e oferecendo múltiplas vantagens ao produtor.
Com planejamento adequado e boas práticas, além do suporte técnico, o agricultor transforma um período de custos em uma fase de geração de renda, melhoria do solo para o ciclo seguinte e ainda diversifica a sua produção. É um sistema em que todos ganham, especialmente o cooperado.
Portanto, o futuro da canavicultura está intimamente ligado à capacidade de inovação do produtor. E a soja, sem dúvida, é uma parceira estratégica nessa jornada.