O cooperativismo é um pilar essencial para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil. Esse modelo organizacional une produtores com objetivos comuns, promovendo estratégias que impulsionam tanto a geração quanto a distribuição de renda. Atuando em todos os elos da cadeia produtiva do agronegócio, as cooperativas permitem que pequenos e médios produtores tenham acesso facilitado a novas tecnologias, assistência técnica, insumos com preços mais atraentes, armazenagem, comercialização e maior agregação de valor em seus produtos.
Dessa forma, as cooperativas possibilitam uma gestão mais eficiente de custos, facilitando a adoção de práticas inovadoras e sustentáveis. Essas organizações também têm papel crucial no desenvolvimento social no campo, promovendo capacitação e incentivando a inclusão econômica das comunidades. Além disso, esse modelo de negócio pode abrir portas a mercados que antes talvez fossem inalcançáveis, bem como superar desafios que, individualmente, seriam difíceis de enfrentar.
Historicamente, o movimento cooperativista brasileiro ganhou força no início do século XX, impulsionado pela necessidade de organização dos pequenos produtores que buscavam maior segurança econômica, acesso a crédito e melhores condições de comercialização. Desde então as cooperativas foram se consolidando; hoje o Brasil é um dos maiores exemplos de sucesso mundial em cooperativismo agropecuário.
Olhando apenas para o setor agropecuário brasileiro em 2023, as cooperativas ficaram divididas da seguinte forma: insumos e bens de fornecimento (66,6%); produtos não industrializados de origem vegetal (58,0%) e animal (33,5%); serviços (32,8%); produtos industrializados de origem vegetal (27,4%) e animal (17,4%); e escolas técnicas de produção rural (2,2%). Além disso, os dados do Anuário Coop mais recente, liderado pelo Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), apontam para um total de 1,2 mil cooperativas que uniram mais de um milhão de cooperados e geraram 257,1 mil empregos diretos.
O cooperativismo agro somou um faturamento de cerca de R$ 423,2 bilhões em nosso país, com ativos totais de R$ 274,2 bilhões e um capital social de R$ 23,6 bilhões. As sobras do exercício alcançaram R$ 20,5 bilhões, com investimentos expressivos de R$ 11,7 bilhões em salários e benefícios para seus funcionários em 2023. As cooperativas tiveram papel fundamental na exportação, processamento e venda de produtos agrícolas, contribuindo diretamente para o superávit da balança comercial brasileira. Somado a isso, o setor de crédito cooperativo registrou crescimento notável, facilitando o acesso a financiamentos para pequenos produtores e empreendedores.
Em direção ao futuro, o Anuário Coop aponta que as políticas públicas serão essenciais para garantir um ambiente que equilibra aspectos tributários, comerciais e produtivos, favorecendo segurança e confiança ao setor privado para seguir investindo e gerando resultados. Mesmo em um cenário de alta volatilidade e desafios econômicos, o cooperativismo agropecuário continua a se destacar ao oferecer suporte aos cooperados, funcionando como um escudo contra perdas e auxiliando os agricultores a manterem suas atividades. Apesar da queda nos preços e aumento dos custos, o modelo cooperativo se mostra resiliente, permitindo que os produtores enfrentem esses obstáculos com maior estabilidade.
A tendência do cooperativismo no Brasil é ser cada vez mais pautado na intercooperação e diversificação, o que já vem sendo observado nos últimos anos com a expansão desse movimento para regiões como Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Além disso, ao promover a sucessão rural e fortalecer a permanência das novas gerações no campo, as cooperativas agropecuárias estão plantando um futuro mais sustentável e próspero, enraizado no compromisso com a inclusão e o desenvolvimento coletivo.
O cooperativismo no agronegócio brasileiro é mais do que uma simples união de produtores — é um modelo de organização que transforma vidas e constrói oportunidades. Em um país como o nosso, de dimensões continentais e com grandes diferenças socioeconômicas, as cooperativas são, sem dúvida, parceiras fundamentais para o crescimento e avanço rumo a uma agricultura mais inclusiva, eficiente e sustentável.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.