Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Vinícius Cambaúva
Beatriz Papa Casagrande
Sem dúvidas, o ano de 2023 foi recheado de incertezas e desafios no mundo todo e para o agronegócio não seria diferente. A desaceleração na demanda, taxas de juros mais altas, conflitos geopolíticos, eventos climáticos em diversas regiões, impactando a produção em importantes países produtores; são só algumas das adversidades que os produtores rurais tiveram que enfrentar ao longo do último ano. Mesmo assim, o agro brasileiro foi capaz de entregar resultados surpreendentes.
Começando pelas exportações, nosso país alcançou o impressionante valor de US$ 166,5 bilhões, um novo recorde. Esse montante representa um aumento de US$ 7,68 bilhões ou 4,8% superior ao registrado em 2022 (US$ 158,9 bilhões), segundo dados da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
A quantidade embarcada de produtos do agro foi o principal fator de influência nesse desempenho, tendo em vista a safra recorde de grãos 2022/23, que fechou em 319,8 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Desse montante, 193,0 milhões de toneladas foram exportadas, um valor 24,3% maior ou 37,7 milhões de toneladas acima do que em 2022 e representando uma participação externa de 60,3% na totalidade dos grãos produzidos pelo Brasil. Assim, o agronegócio foi responsável por praticamente metade (49%) de tudo o que o Brasil vendeu para o mercado internacional em 2023.
Além dos grãos, outros produtos também foram responsáveis pelo aumento do volume exportado, como as carnes (+5,4%), o açúcar (+15,1%), sucos (+6,0%), frutas (+5,9%), couros e seus produtos (+19,7%). Contudo, os setores que mais colaboraram em receita foram o complexo soja (US$ 67,3 bilhões|40,4%); carnes (US$ 23,5 bilhões | 14,4%) e complexo sucroalcooleiro (US$ 17,3 bilhões | 10,4%), cereais, farinhas e preparações (US$ 15,5 bilhões | 9,3%) e produtos florestais (US$ 14,3 bilhões | 8,6%).
Para 2024, o Ministério da Economia estima exportações brasileiras (todos os setores) em US$ 348 bilhões. Na nossa avaliação, o agro deve manter a participação de 49%, fechando em torno dos US$ 170 bilhões, mesmo com o desafio de preços e limitações na oferta, observados neste momento.
O Valor Bruto da Produção (VBP) – produção agropecuária multiplicada pelos preços médios recebidos pelos produtores, ou seja, a renda no campo – atingiu R$ 1,168 trilhão em 2023, um crescimento de 2,5% frente a 2022, com alta de 4% nas lavouras (R$ 819,1 bilhões) e queda de 0,7% na pecuária (R$ 348,9 bilhões). O estado do Mato Grosso continuou sendo o protagonista, com VBP de R$ 185 bilhões, seguido por São Paulo (R$ 144,9 bilhões) e Paraná (R$ 143,2 bilhões).
Ainda sobre o VBP, para 2024, o Ministério da Agricultura projeta uma queda de 0,2%, ficando em R$ 1,166 trilhão. Para as lavouras, o montante financeiro deve ser de R$ 818,9 bilhões, praticamente o mesmo valor atingido no ano passado. Isso porque, apesar da queda esperada para milho (-12,7%), soja (-1,4%) e algodão (-11,8%), outra grande parte dos produtos agrícolas tem expectativas de alta para esse ano. Dentre os principais destaques, estão: arroz (+29,9%), laranja (+28,3%) e trigo (+24,2% – revertendo a queda significativa de 2023, de -41,7%). Esta dinamicidade das cadeias do agro demonstra a força do nosso setor: enquanto algumas culturas passam por momentos mais críticos (preços/custos), outras vivenciam um crescimento, o que, na média, sustenta a participação do setor na economia brasileiro.
Na pecuária, o valor deve continuar caindo em 2024, para R$ 347,2 bilhões (-0,5%). Esse cenário é puxado, principalmente, pela carne bovina, que deve retrair 4,8% (R$ 129,3 bilhões), sendo que o setor já fechou 2023 com queda de 9% (R$ 135,7 bilhões). Soma-se a isso o contexto também desfavorável para o leite (-3,6%) e ovos (-9,5%) neste ano. Todavia, a carne de frango deve se recuperar da queda de 2023 (-2,4%) e aumentar sua receita em 10,1%, possivelmente alcançando um recorde de R$ 100 bilhões em faturamento. Já os suínos, que cresceram significativos 9,2% no ano anterior, devem continuar aumentando, porém de maneira mais tímida, 0,2%, em 2024 (R$ 34,2 bilhões).
O ano que se inicia promete novos desafios nas mais diferentes esferas que fazem parte do agronegócio. A estratégia principal para este ano deve ser a de “sempre ficar melhor, antes de ficar maior”, ou seja, construir margens e aumentar a competitividade, para depois pensar no crescimento do negócio. Que 2024 seja mais um ano de muito trabalho, dedicação e prosperidade a todos!
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness Scholl (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração pela FEA-RP/USP e Instrutor “In Company” na Harven Agribusiness School. É especialista em comunicação estratégica no agro.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.