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Tendências no Agro: Cooperativa é uma organização que fortalece as pessoas

“O resultado do bom trabalho do cooperativismo chama-se prosperidade e é importante que o nosso cooperado tenha essa percepção”.

O ano de 2022 foi bastante produtivo e recheado de resultados positivos para o cooperativismo. A sua participação em temas estratégicos na política, como nas relações institucionais no Brasil e no mundo, acarretou novos negócios, produtos e serviços ofertados, melhorando o desempenho socioeconômico do país.
Em entrevista exclusiva à Revista Coopercitrus, o presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Márcio Lopes de Freitas, ressalta que, mesmo diante de um cenário adverso, a união do movimento fará a diferença em 2023.

Coopercitrus – Como é a sua relação com a Coopercitrus?

Márcio – Tenho uma relação muito forte com o cooperativismo. O meu avô e meu pai foram presidentes da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp), fui doutrinado pelo cooperativismo e segui esse caminho. Fui presidente da Cocapec de Franca e da Sicoob Credicocapec por dois mandatos e, depois, fui para Ocesp. Sempre tive uma relação com as cooperativas da região e, quando expandi meus negócios para a área de grãos, me tornei cooperado da Coopercitrus. Tenho orgulho de ser cooperado em Patrocínio Paulista. Tenho propriedade rural na cidade e utilizo os serviços da Coopercitrus há muitos anos. Também sou cooperado da Credicitrus por herança da Credicoonai, que foi incorporada pela cooperativa financeira. Então tenho uma relação forte e uma ligação muito carinhosa com a família Coopercitrus. Sei que a cooperativa tem feito um bom trabalho, investindo em tecnologia, mercado e desenvolvimento de soluções ao quadro de cooperados. Acompanho como cooperado e como presidente da OCB. Posso falar de uma cadeira que poucas pessoas têm a oportunidade de acompanhar.

Coopercitrus – O senhor se reuniu com a diretoria da Coopercitrus e da Credicitrus. Como foi esse encontro?

Márcio – Foi uma alegria visitar a Coopercitrus e poder conversar com a diretoria e, especialmente, ter a oportunidade de me comunicar com os cooperados, associados, funcionários da grande família Coopercitrus, que são a razão de ser da cooperativa. Na conversa, tivemos uma aproximação mais intensa. Depois de uma conversa com o presidente do Conselho da Coopercitrus, em Brasília, no fim do ano passado, nós estreitamos o conhecimento. Eu queria que a minha equipe conhecesse melhor a cooperativa e que a Coopercitrus também conhecesse melhor a OCB para ter mais interatividade. São duas entidades que se alinham. A Coopercitrus é filiada da OCB desde a sua fundação, e precisamos estar mais integrados para jogar o jogo mais alinhado. O nível de demandas da Coopercitrus é muito importante, pois quando essas demandas são solucionadas, elas não só ajudam seus cooperados, mas também milhares de cooperativas, porque a Coopercitrus é uma grande referência. Acredito que isso vai funcionar bem, porque o nível de relacionamento é muito bom, principalmente diante dos desafios que estamos vivendo agora, considerando as mudanças globais e as transformações do mundo e, em especial, as do Brasil, que vive um momento de tensão política institucional que infelizmente deve permanecer. Nós temos que estar muito organizados enquanto movimento cooperativo, porque não importa se é a Coopercitrus, a Credicitrus, a Unimed ou se é outra cooperativa da região, todos nós temos o mesmo propósito. O nosso propósito é trazer benefícios para os nossos cooperados.

Coopercitrus – Quando as cooperativas se unem ao redor de uma entidade como a OCB, qual o resultado dessa união?

Márcio – Prosperidade. O resultado do bom trabalho do cooperativismo chama-se prosperidade e é importante que o nosso cooperado tenha essa percepção. O desenvolvimento econômico é obrigação e, para sua validação, deve  agregar valor e redução de custo na produção. Quando a cooperativa atua da maneira correta, unificada dentro dos valores e dos princípios, esse resultado se estende à sociedade, gerando um processo de desenvolvimento regional, muito mais amplo. Ela sai da alçada do cooperado beneficiado e vai para a alçada da comunidade em que a cooperativa está inserida, começando pelos próprios funcionários que trabalham e seu entorno. Quando se tem a presença da cooperativa numa cidade, o fator de desenvolvimento dessa região é 10% maior que o da outra que não a tem. Em 2022, o movimento cooperativista brasileiro movimentou R$ 580 bilhões somando todas as 5.700 cooperativas, que abrangem 19 milhões de cooperados pelo Brasil. A nossa meta é atingir R$ 1 trilhão até 2027 e alcançar 30 milhões de cooperados. Temos potencial e queremos gerar prosperidade para o cooperado, a sua família, os funcionários e a comunidade onde a cooperativa está inserida.

Coopercitrus – O que o agronegócio pode esperar em 2023?

Márcio – Teremos um ano de safra cheia, pelo menos na região da Alta Mogiana, com clima favorável, preços dos produtos agrícolas das principais commodities em alta e preços internacionais bons com o atual câmbio. Obviamente, o nosso setor financeiro continua surfando essa onda e, com isso, todo o processo dos demais ramos do cooperativismo. Vejo o ano estrategicamente muito positivo para o cooperativismo de uma maneira geral, com o foco maior no agro, mas também se desenvolvendo para outros setores. Uma preocupação que está no sentimento de todos é qual será o impacto do novo governo nas mudanças de rumo e nas orientações de políticas públicas. E a nossa função é ficar atento a isso. Estou visitando todos os novos ministros e apresentando o cooperativismo brasileiro, os nossos números e as nossas metas. Não estou reivindicando coisas, mas mostrando como nós podemos ser parceiros no processo de desenvolvimento do nosso país. O desafio maior é convencer o novo governo da seriedade e do desenvolvimento das cooperativas, o que não é difícil, pois as cooperativas têm feito isso naturalmente. No mais, o cenário é positivo se não houver grandes mudanças de rota, e não acredito que haverá mudanças nas orientações de políticas públicas.

Coopercitrus – Dentro desse contexto, qual é a importância das cooperativas para os cooperados?

Márcio – A cooperativa tem que tratar o cooperado como cooperado e como pessoa e não pelo tamanho do seu negócio. Todos são iguais. Esses valores e princípios que o cooperativismo adota é um processo de justiça social que poucas atividades econômicas conseguem e temos cumprido essa missão. O ritmo do desenvolvimento brasileiro vem obedecendo essa linha ética de valores e princípios e estou muito firme nesse propósito. Aprendemos no decorrer da vida que governos e políticas públicas são importantes, mas elas não são fundamentais. Temos que desenhar a nossa estratégia independente das estratégias de governo. Se o governo vier nos ajudar, ótimo, vamos acelerar; se não vier, vamos caminhar também e gerar os nossos resultados. É dentro dessa linha que o cooperativismo vem trabalhando e não fica numa relação clientelista com o governo, então, quando se muda alguma orientação política, não há risco em tudo aquilo que planejamos.

Coopercitrus – Considerando-se os princípios do cooperativismo, quais são as maiores diferenças entre uma cooperativa de produtores rurais e uma revenda voltada a produtores rurais?

Márcio – A cooperativa prioriza pessoas, e a revenda, o dinheiro. A cooperativa cuida de pessoas, seres humanos. Já a revenda é uma instituição comercial. Com todo o respeito que tenho por eles, a revenda cuida da capacidade financeira que a pessoa tem. Já na cooperativa, você vale enquanto pessoa, cada pessoa é um voto, cada indivíduo é um sócio. Na revenda, você vale o que você tem de dinheiro.  Essa a diferença fundamental, falando fora das caixinhas dos conceitos oficiais e pessoas. Cooperativa é uma organização de pessoas, não é uma organização financeira.
Na revenda, os sócios daquela empresa investem dinheiro, e quem tem mais dinheiro manda mais. O que eles esperam disso? O resultado do dinheiro deles. A cooperativa espera o resultado do seu cooperado. Quando tudo dá certo, a cooperativa presta os seus serviços e ainda sobram recursos, de quem é a sobra? Na revenda, é do sócio que investiu mais dinheiro e, na cooperativa, é do cooperado, pequeno, médio e grande, na proporção do que ele movimentou na cooperativa. O fato de seguir esses valores dá uma condição de equilíbrio muito maior, mesmo em um mercado muito competitivo. Às vezes, o pequeno cooperado diz que determinada loja ofereceu um produto um pouco mais barato do que a loja da Coopercitrus. Se não tivesse a Coopercitrus, qual valor será que custaria esse produto? A Coopercitrus é a referência do mercado e é natural que a loja queira convencer o produtor de que o melhor negócio é comprar com ela. Posso garantir para esse cooperado que, às vezes, haverá uma diferença nos valores, mas, ao considerar todo o pacote, a assistência técnica, o leque de produtos que a cooperativa oferece, a área financeira e todo o escopo da cooperativa, ele terá muito mais do que o desconto oferecido pela revenda. O cooperado tem que se tornar cada vez mais consciente de que a cooperativa dá essa força de impulsão dentro do mercado. Não estou dizendo que as empresas são ruins, mas são empresas com focos diferentes. São pessoas que agem no mercado com o objetivo de resultado econômico para elas, enquanto, na cooperativa, o resultado econômico é para os cooperados.

Coopercitrus – O mercado exige cada vez mais produções sustentáveis, como as cooperativas contribuem para que pequenos, médios e grandes produtores adequem seu modelo com base no ESG (Ambiental, Social e Governança), tema tão debatido no agro?

Márcio – O ESG é fundamental para todas as atividades no mundo. Quem não se engajar na produção sustentável está fora do jogo. O mundo está em evolução e em transformação e esse mundo é composto por um mercado global que cobra isso. As novas gerações estão cobrando esse comportamento humano diferenciado e sustentável. Essa responsabilidade acaba sendo maior para quem produz os produtos da agricultura. Então as cobranças serão mais intensas pelo mercado e pelas novas gerações. Essa não é uma visão detalhada do mercado, é uma tendência do mercado global e tenho visto as cooperativas se empenharem muito nesse processo para desenvolverem projetos que visam mostrar a capacidade de resgate de carbono, a sustentabilidade dos processos e os produtos gerados na agricultura. São programas de sustentabilidade muito forte e vejo isso na Coopercitrus. O case da Coopercitrus foi apresentado na COP27, em Brasília, com mais três cooperativas. A OCB tem um programa que, por enquanto, foi batizado de ESG COOP para divulgar todas as boas ações das cooperativas. Queremos trabalhar muito forte com capacitação e treinamento para as pessoas atuarem dentro das cooperativas. Isso é fundamental. Quem não tiver um carinho para o ESG terá dificuldade de acesso ao mercado. Quem consegue fazer isso com eficiência é a cooperativa, que tem uma relação muito mais estreita com o cooperado. Temos que aproveitar isso como ferramenta de fidelização com o cooperado e acredito que isso já está acontecendo.

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