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Mercado de defensivos exige planejamento e atenção a riscos de escassez

A economista Nathalia Rocha analisa o cenário macroeconômico global, alerta para tendência de alta nos preços e reforça a importância da compra antecipada de insumos

Garantir o defensivo certo, no momento certo, com o melhor custo-benefício possível: esse é um dos principais desafios do produtor rural ao planejar a safra. Para 2025, esse cuidado será ainda mais necessário. O segundo semestre deve ser marcado por ajustes de preços, riscos pontuais de escassez e mudanças na dinâmica de oferta de moléculas importantes.

Essas movimentações são reflexo de fatores econômicos que vão além da porteira. Analisar a capacidade de produção da indústria chinesa, as pressões ambientais sobre o uso de insumos e a influência da taxa de câmbio no custo final dos produtos se torna importante. Por isso, antecipar compras, alinhar expectativas com fornecedores e contar com o apoio técnico da Coopercitrus são ações fundamentais para proteger a rentabilidade da lavoura.

Para esclarecer esse cenário e orientar os cooperados nas decisões que envolvem o uso de defensivos agrícolas, a Revista Coopercitrus conversou com Nathalia Rocha, economista formada pela Esalq-USP e chefe de mesa no Global Crop Protection, área da consultoria YEB Inteligência de Mercado. Com experiência no acompanhamento de tendências globais do setor, ela destaca os pontos de atenção para o produtor e reforça o papel do planejamento como uma vantagem competitiva no campo.

Coopercitrus: O que o produtor pode esperar do mercado de defensivos agrícolas para o segundo semestre de 2025? Os preços devem subir, estabilizar ou cair?

Natalia Rocha: No segundo semestre de 2025, os preços dos defensivos agrícolas tendem a subir, impulsionados por um conjunto de fatores. Entre eles, destacam-se os resultados financeiros negativos acumulados pelos fornecedores nos últimos anos e o esforço atual para recuperar margens de lucro, o que torna mais difícil a negociação em períodos de alta demanda. Paralelamente, os preços dos produtos técnicos na China, especialmente herbicidas como glifosato e glufosinato, continuam próximos das mínimas históricas. Em resposta, os fabricantes chineses estão reduzindo a capacidade de produção, numa tentativa de limitar a oferta e recuperar a rentabilidade. Essa estratégia deve coincidir com o pico da demanda no setor de grãos, o que pode elevar os preços no mercado nacional.

Coopercitrus: A indústria de defensivos na China vem passando por transformações nos últimos anos. Que impactos essas mudanças podem trazer para o mercado brasileiro de defensivos? O que o produtor deve saber sobre isso?

Natalia Rocha: A partir do segundo semestre de 2023, o governo chinês lançou pacotes de incentivos à produção industrial interna, o que contribuiu para o menor custo de produção dos fabricantes de defensivos. Além disso, o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), passou a liberar mais registros para fornecedores chineses, facilitando seu acesso ao mercado nacional. Com isso, a concorrência aumentou e os preços ficaram mais competitivos. Outro fator importante é que a indústria chinesa tem ampliado a produção de produtos formulados, o que permite acesso direto ao mercado brasileiro, sem depender de empresas formuladoras locais.

Coopercitrus: Existe risco de faltar alguma molécula importante no mercado? Quais são as mais preocupantes?

Natalia Rocha: Sim. O formato de compras “da mão para a boca” pelos produtores tem causado gargalos logísticos. Além disso, as fornecedoras estão buscando reduzir custos e não devem manter grandes estoques no mercado nacional. Isso aumenta o risco de desabastecimento. Os herbicidas são os mais preocupantes, por serem de baixa rentabilidade e menor interesse dos fornecedores. Entre as moléculas que podem ter maior impacto estão 2,4-D, glifosato, glufosinato, flumioxazina e amicarbazona.

Coopercitrus: Por que é tão importante o produtor se planejar com antecedência para comprar os defensivos? Como ele pode se organizar melhor para ter o produto certo na hora certa?

Natalia Rocha: O planejamento antecipado é estratégico para otimização de custos e mitigação de riscos logísticos. O ideal é alinhar previamente com o fornecedor as demandas da safra, evitando compras de última hora, que estão sujeitas a atrasos e dificuldades de entrega. Com o cenário atual, deixar para comprar em cima da hora pode comprometer o manejo no campo.

Coopercitrus: A Coopercitrus apoia seus cooperados no planejamento da safra e na escolha das melhores soluções em defensivos. Como esse suporte faz a diferença na estratégia do produtor?

Natalia Rocha: Esse apoio é fundamental. O planejamento oferecido pela Coopercitrus permite ao produtor otimizar custos e reduzir riscos operacionais. Além disso, o acesso a informações de mercado qualificadas garante um suporte estratégico personalizado, ajustado às reais necessidades do cooperado.

Coopercitrus: A variação do dólar ainda pesa muito no preço dos defensivos? O produtor deve se preocupar com o câmbio nos próximos meses?

Natalia Rocha: Sim, a variação cambial tem grande influência, pois os defensivos são majoritariamente importados e precificados em dólar. Esse fator ganha ainda mais peso com o cenário de guerra comercial entre Estados Unidos e China, que traz incertezas ao mercado global. Qualquer mudança ou especulação nesse cenário pode provocar oscilações significativas na cotação da moeda.

Coopercitrus: A pressão por sustentabilidade e novas regras ambientais estão mudando o uso de defensivos. Como o produtor pode se adaptar sem perder produtividade?

Natalia Rocha: O uso de defensivos está passando por uma transformação. Para se adaptar, o produtor precisa adotar estratégias como o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina métodos químicos, biológicos e culturais. O uso de defensivos biológicos tem crescido, e tecnologias como drones e sensores têm ajudado a aplicar produtos com precisão, reduzindo impactos ambientais. A rotação de culturas, o monitoramento constante e a agricultura de precisão também são aliados importantes nesse processo.

Coopercitrus: Os bioinsumos têm crescido no campo. Eles já são uma alternativa viável para o produtor? Em quais situações vale a pena usar?

Natalia Rocha: Sim, os bioinsumos já são uma realidade. Só no Brasil, esse mercado cresceu 15% na safra 2023/24, movimentando R$5,7 bilhões. A expectativa é de um crescimento de 60% até 2030, chegando a R$9 bilhões. Muitos desses produtos têm uso liberado em diversas culturas e vêm apresentando desempenho igual ou superior aos recomendados, por exemplo, no controle de pragas específicas, na fixação biológica de nitrogênio e em sistemas orgânicos ou com restrições ambientais. No entanto, exigem planejamento técnico, pois sua ação é mais lenta e depende de condições ambientais adequadas.


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