Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Vitor Nardini Marques
Vinícius Cambaúva
Neste mês, nosso destaque inicial vai para a preocupação com o custo global dos alimentos e suas consequências na inflação. O índice de preços de alimentos da FAO (Agencia das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) alcançou 159,29 pontos em março, nova alta expressiva, agora de 12,6% em comparação com fevereiro e de 33,6% em relação a março de 2021. O valor é o maior desde o início do acompanhamento, em 1990, e foi puxado especialmente pela alta nos preços de óleos vegetais e de cereais.
Atualizações nos números da safra brasileira de grãos 2021/22, divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em abril, mostram que o volume total de grãos produzidos deve ficar em 269,3 milhões de t, crescimento de 5,4% em relação à produção da safra passada; e pouco superior à previsão de março, que era de 265,7 milhões de t. A soja foi uma das culturas mais prejudicadas pelo clima, com oferta estimada agora em 122,4 milhões de t; em 2020/21, produzimos 138,2 milhões de t, ou seja, queda de 11,4% nesse ciclo. No milho, a oferta total deve ficar em 115,6 milhões de t, alta de 32,7% em relação à safra passada, sendo que a produção da 2ª safra (em andamento) deve crescer 45,8%, com volume estimado em 88,5 milhões de t a depender das condições de clima; vamos ficar na torcida! Por fim, no algodão, a produção deve ser de 2,8 milhões de t da pluma, 19,9% a mais do que as 2,4 milhões de t do ciclo anterior. Na torcida agora para que as culturas de inverno também tenham bom desempenho!
Com fortes estímulos da lacuna de oferta e preços internacionais, agricultores brasileiros devem intensificar as áreas de trigo no país. A StoneX estima que a área possa atingir 3,4 milhões de ha em 2022/23, o que levaria a um crescimento de 20,6% em comparação ao último ciclo; por sua vez, a produção poderia superar as 10 milhões de t, volume nunca antes visto para o cereal.
Nos Estados Unidos, o cultivo de soja na safra 2022/23 deve ser recorde, segundo apurado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), totalizando 36,83 milhões de ha, 4,3% superior ao da temporada passada. Já para o milho, o órgão americano estima uma área de 36,22 milhões de ha (-2,7%), abaixo da expectativa do mercado. Vamos monitorar agora a evolução da semeadura e questões climáticas envolvidas.
A safra 2021/22 de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro foi encerrada com um volume colhido de 262,97 milhões de caixas, um rombo de 10,61% (31,20 milhões de caixas) frente à expectativa inicial de maio de 2021. A combinação de chuvas 27% abaixo da média e de geadas acarretou tamanho reduzido e queda precoce dos frutos. Segundo ano consecutivo ruim para a laranja.
Outra safra recém-concluída e que teve seus números finais divulgados foi a do setor sucroenergético (2021/22) na região Centro-Sul do país. Segundo a UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar), a moagem de cana ficou em 523,11 milhões de t, 13,6% menor que o ciclo passado. Já a área caiu 1,38% e a produtividade em 15,12%, devido às secas e geadas que afetaram as lavouras.
De açúcar, foram produzidas 32,06 milhões de t (-16,64%) na safra 2021/22, com vendas no mercado interno de 8,42 milhões de t de (-4,25%) e as exportações em 23,62 milhões de t (-18,37%), o que dá um total de 32,05 milhões de t vendidas (-15,08%). Já a produção de etanol ficou em 27,55 bilhões de litros (-9,31%), sendo 10,91 bilhões de anidro (+12,57%) e 16,64 bilhões hidratado (-19,55%). Deste total, o milho já representou 3,47 bilhões de litros, crescendo 34,33%. Foram vendidos 27,53 bilhões de litros (-10,67%) na última safra, sendo 10,90 milhões de litros (+8,42%) de anidro e 16,63 bilhões de litros (-19,91%) de hidratado. Deste total, 1,63 bilhão de litros (-39,47%) foi exportado.
Já com a safra 2022/23 em andamento, a moagem no Centro-Sul começa bem atrasada e temos demanda em boas condições, tanto pelos volumes exportados antecipadamente de açúcar quanto pelos bons preços do etanol neste momento. Vamos ficar na torcida pelo bom desempenho no campo!
Os cinco fatos do agro para acompanhar em maio são:
- Avanço dos casos de covid-19 na China e as medidas de restrições nas regiões mais afetadas (lockdown), afetando especialmente a logística de distribuição (fechamento de portos e outros), o que pode elevar os custos com o transporte.
- Os desdobramentos da guerra persistente entre Rússia e Ucrânia. Apesar das tentativas de conversas para acordos de paz, o conflito parece estar longe do fim. Vamos torcer para que termine logo, normalizando a questão dos fertilizantes, dos altos preços e outros.
- Acompanhar a evolução do plantio da mega safra nos EUA. Já há algumas notícias que indicam possibilidade de atrasos em função do clima, e ainda a piora nas condições de lavouras de inverno já estabelecidas, como é o caso do trigo.
- Desenvolvimento da 2ª safra de milho no Brasil. Ao que parece, estamos indo bem e acertamos em antecipar o plantio este ano, aproveitando as janelas pluviométricas, mas o clima segue sendo nossa grande preocupação; estamos na torcida para que jogue ao lado dos nossos produtores.
- Por fim, as movimentações políticas e econômicas no Brasil, com a proximidade das eleições e as medidas sendo tomadas pelo Congresso Nacional.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
Vitor Nardini Marques é mestrando na FEA-RP/USP com formação em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP.Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA-RP/USP.