Na segunda reportagem da série “Contribuição do agro na matriz energética brasileira” destacamos o papel do biodiesel, um dos principais biocombustíveis produzidos no Brasil, capaz de reduzir em até 80% a emissão de gases de efeito estufa em comparação ao diesel, conforme dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
O Brasil se destaca como um dos principais produtores e exportadores agrícolas do mundo, contribuindo na oferta global de alimentos, bioenergia e bioprodutos, além de ser um importante mitigador dos efeitos da emergência climática. Para aumentar a eficiência produtiva e reduzir os impactos ambientais negativos, o agronegócio brasileiro adota cada vez mais práticas sustentáveis e tecnologias inovadoras.
O setor agrícola brasileiro vem adotando práticas sustentáveis e tecnologias inovadoras para aumentar a eficiência produtiva e reduzir os impactos ambientais negativos.
Exemplos dessas práticas são a agricultura de precisão, a gestão sustentável dos recursos naturais e o investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento, estratégias que visam promover uma produção agrícola mais sustentável e resiliente.
Para se ter uma ideia, de acordo com dados do Balanço Energético Nacional de 2023, o agronegócio produziu 66% de toda a Oferta Interna de Energia (OIE) renovável no Brasil em 2022. Quando consideradas as fontes renováveis e não renováveis, o agro gerou 31% da OIE e consumiu apenas 4,8% do total de energia distribuída no país. O setor é um importante produtor de bioprodutos, sendo o segundo maior produtor de biodiesel do mundo, contribuindo com 26% da produção global de biodiesel e 27,5% da de etanol.
O Papel do Biodiesel
O biodiesel é produzido a partir de fontes renováveis, como óleos vegetais e gorduras animais. Sua contribuição para a matriz energética brasileira é notável.
- Redução de Emissões: Comparado ao diesel convencional, o biodiesel reduz significativamente as emissões de gases de efeito estufa. Isso é fundamental para enfrentar os desafios climáticos globais.
- Oferta Interna de Energia (OIE): De acordo com o Balanço Energético Nacional de 2023, o agronegócio brasileiro foi responsável por 66% de toda a OIE renovável no país em 2022. O agro também gerou 31% da OIE total, consumindo apenas 4,8% da energia distribuída.
- Líder na Produção Global: O Brasil é o segundo maior produtor mundial de biodiesel, contribuindo com 26% da produção global. Além disso, o país é responsável por 27,5% da produção global de etanol.
Maior demanda por soja
O aumento do teor de biodiesel na mistura ao óleo diesel, de 12% para 14%, entrou em vigor em março de 2024 conforme resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Essa mudança deve favorecer a indústria da soja, pois o grão representa 70% da matéria-prima para o biodiesel. A cadeia produtiva da soja sentirá o impacto dessa mudança na oferta e demanda.
A cadeia produtiva da soja, fornecedora da principal matéria-prima para a produção no Brasil, deve sentir o maior impacto da nova mistura sobre o seu quadro de oferta e demanda.
Em 2023 o óleo respondeu por 69% da fabricação do biocombustível no país. Gorduras animais, em expansão, já respondem por outros 10%.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) calcula que a produção do biocombustível chegará a 8,4 bilhões de litros em 2024. A indústria de biodiesel deve elevar em quase 28% a demanda por soja para processamento de óleo neste ano, principal matéria-prima do biocombustível.
Segundo projeção da consultoria StoneX, a indústria de biodiesel deverá consumir 36,8 milhões de toneladas de soja em 2024 contra 28,8 milhões no ano passado. Com esse volume, a fabricação do biocombustível pode alcançar o recorde de 8,9 milhões de metros cúbicos. A produção do biocombustível aumenta em linha com o consumo, estimado em 8,8 milhões de metros cúbicos.
Em 2023, as empresas do setor de biodiesel entregaram 7,34 bilhões de litros às distribuidoras, alta de 20% em relação ao comercializado em 2022 e cerca de 7,7% superior ao seu melhor desempenho, registrado em 2021.
Produção sustentável
Produzir com sustentabilidade é uma estratégia de negócio fundamental para os produtores rurais que buscam aumentar a rentabilidade da atividade agrícola, proteger o meio ambiente, expandir a base de recursos naturais e melhorar a qualidade de vida das famílias e comunidades envolvidas no agronegócio.
A Coopercitrus vem se dedicando significativamente a práticas sustentáveis, implementando iniciativas como o plantio direto e de cobertura, a integração lavoura-pecuária-floresta, a restauração florestal e a diversificação de culturas. Essas ações concretas refletem o compromisso da cooperativa com a sustentabilidade.
O consultor de sustentabilidade na Coopercitrus, Bóris Wiazowski, destaca que a cooperativa cumpre um papel importante ao atuar em prol de uma agricultura eficiente e sustentável. “Contribuímos para o desenvolvimento da agropecuária ao gerar economia de escala, aumentar a eficiência, resiliência e lucratividade da atividade. Além disso,
fornecemos assistência técnica, crédito rural, seguro agrícola, serviços e acesso a tecnologias inovadoras, impulsionando o desenvolvimento e a competitividade dos cooperados.”
Renovabio: Aliado para a produção sustentável de biocombustíveis no Brasil
Instituído pela Lei nº 13.576/2017, o RenovaBio visa reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa no setor de transporte. O programa estimula a produção e o consumo de combustíveis provenientes de energia limpa, como o etanol de cana-de-açúcar. O RenovaBio está em vigor desde dezembro de 2019.
O Brasil assumiu compromissos durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21) em 2015, estabelecendo metas anuais de descarbonização para o setor de combustíveis com o objetivo de aumentar a participação de bioenergia na matriz energética brasileira para cerca de 18% até 2030. Isso resultará na redução de mais de 700 milhões de toneladas de carbono lançadas na atmosfera nesta década.
O programa RenovaBio possui três eixos estratégicos:
- Metas de Descarbonização: O governo define metas anuais para 10 anos, que são desdobradas para os distribuidores de combustíveis.
- Certificação da Produção de Biocombustíveis: Os produtores certificam sua produção voluntariamente e recebem notas de eficiência energético-ambiental.
- Crédito de Descarbonização (CBIO): As notas de eficiência são multiplicadas pelo volume de biocombustível comercializado, resultando na quantidade de CBIOs que um produtor pode emitir e vender no mercado. Um CBIO equivale a uma tonelada de emissões evitadas, o que é comparável a sete árvores em termos de captura de carbono.
Até 2029 o RenovaBio compensará emissões de gases causadores de efeito estufa equivalentes ao plantio de 5 bilhões de árvores. Isso corresponde a todas as árvores existentes na Dinamarca, Irlanda, Bélgica, Países Baixos e Reino Unido combinadas.