A agropecuária está inserida em um mercado cada vez mais complexo, ambíguo e volátil, onde as organizações estão em constante mudança a fim de se adaptarem e aprimorarem a geração de resultados positivos e planejados. Para se sobressair nesse contexto e conquistar o seu espaço no mercado, é necessário que as empresas do agro entendam as novas exigências impostas pela sociedade e pelo meio ambiente e se adaptem a elas.
Com o crescente aumento da população, a demanda por alimentos e produtos derivados do agro tem crescido na mesma direção. Contudo, em um cenário onde os recursos produtivos são escassos, deve haver a adoção de boas práticas produtivas e inovações que promovam o círculo virtuoso entre produção e preservação. Dessa forma, o foco na disponibilidade de recursos e de informações necessárias para medir e analisar os processos e, assim, promover sua melhoria contínua torna-se essencial. No intuito de estimular a adoção de práticas agrícolas sustentáveis e fomentar a responsabilidade empresarial, diferentes plataformas e setores disponibilizam abordagens, como programas de boas práticas agrícolas, padrões de certificação socioambiental e acordos setoriais, os quais têm se mostrado efetivos ao promover ferramentas que possibilitam o planejamento e a orientação dos produtores rurais na tomada de decisão, no atendimento às legislações aplicáveis, na mitigação dos riscos e na captura de oportunidades da atividade rural, o que resulta em redução de custos, ganhos de produtividade e oferta de serviços de qualidade. Essas abordagens aceleram a adoção de ferramentas e práticas que promovem processos produtivos, cadeias de valor e produtos ajustados a normas socioambientais internacionais, que vão ao encontro das expectativas dos produtores, dos consumidores e da sociedade.
Os produtores rurais têm acesso a um vasto conjunto de padrões voltados à agricultura sustentável, como FSA/SAI Platform, Global GAP, Fairtrade, Rainforest Alliance, ProTerra, Bonsucro, RTRS, Soja Plus. Esses padrões têm em comum o suporte à definição e à priorização de ações que fortalecem a agenda de sustentabilidade da atividade rural, pois promovem uma visão integrada das diferentes etapas do processo produtivo, fortalecendo as atividades e gerando mudanças significativas nas ações sociais, ambientais e de governança dos empreendimentos agrícolas.
Na jornada para a certificação, o produtor rural deve considerar as demandas de mercado, os benefícios comerciais e as necessidades de sua operação. O equilíbrio entre esses fatores irá agregar valor às rotinas da propriedade, gerando oportunidades de troca de conhecimento e aprendizagem.
De forma indissociável, a jornada da sustentabilidade promovida pelos diferentes padrões de certificação tem melhorado a gestão, a produtividade e a eficiência, reduzido custos e riscos e facilitado o acesso a linhas de crédito mais competitivas. Como resultado, há a valorização do empreendimento e de sua lucratividade para além dos benefícios externos de mercado.
Fora da porteira, essas certificações agregam valor ao produto e aos consumidores, que terão a seu dispor produtos de qualidade e produzidos com responsabilidade socioambiental, e fortalecem a sociedade em geral, que usufrui de relações sociais mais justas e serviços ecossistêmicos promovidos pelas propriedades, como preservação da biodiversidade, produção de água de qualidade e mitigação das mudanças climáticas.
Com a palavra, cooperados que conquistaram certificação em suas produções
“Certificamos nosso café quando já tínhamos uma produção estruturada, por isso não precisamos mudar para cumprir os requisitos, porque eles já faziam parte da nossa rotina. A certificação garante uma melhor remuneração, gera sincronismo entre o trabalho, a segurança, a sustentabilidade, o viés econômico e o socioambiental. Faz sentido nesse momento o produtor rural ser certificado, porque mostra ao mundo que sua produção é oriunda de um sistema que respeita o meio ambiente e o colaborador”.
Lucas Oliveira, cafeicultor certificado pela RainForest Alliance
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“As certificações geram mais credibilidade para o mercado consumidor, sendo ele nacional ou internacional, nos proporcionando um pagamento justo pelo produto. Com essa mesma credibilidade, também nos beneficiamos para linha de crédito, para nos ajudar quando necessário nos investimentos, como tecnologias em máquinas, implementos e insumos para cultivo, refletindo, então, no nosso dia a dia. Temos mais facilidades e tranquilidade para continuarmos com nossa atividade mesmo em momentos difíceis, nas adversidades comerciais e também climáticas, já que a nossa empresa é a céu aberto”.
Sidnei Sant’Ana, citricultor certificado pela Fairtrade
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“É um orgulho muito grande ser parte de um programa em parceria com minha cooperativa e ter uma propriedade certificada. Isso me fortalece como produtora e demostra que, quando os atores da cadeia trabalham com um propósito comum, as nossas histórias ficam mais bonitas e os elos ficam mais fortes e relevantes. A certificação nos prepara para competir em mercados globais, levando em consideração os aspectos sociais e ambientais do empreendimento. É o caminho da sustentabilidade e da rastreabilidade, levando transparência ao consumidor. A propriedade certificada, muito mais do que um prêmio pela certificação, representa a soma dos resultados de cada dia de trabalho, de cada evolução. É um processo de melhoria contínua em cuidar da terra, do meio ambiente, das pessoas e de produzir os melhores grãos de café. Ser certificada tem uma relevância muito grande para a minha vida e para a visão de futuro do meu negócio”.
Marisa Helena Contreras, parceira do projeto Nucoffee Sustentia – Rainforest Alliance
“Para um processo que busca certificação, torna-se necessário estruturar e adotar um conjunto de ações e práticas sustentáveis. Na pecuária, isso envolve a proteção das reservas legais, a conservação do solo para melhorar a fertilidade, uma pastagem de qualidade, genética e conforto térmico. Quando investimos em boas práticas, aumentamos a produtividade e nos diferenciamos do mercado. Isso é sustentabilidade”.
Celso Manzatto, pesquisador da Embrapa