O que esperar da habilitação de mais plantas para a exportação de carne bovina para a China? Com custo da alimentação em queda e reposição estável, primeiro giro pode ter bons resultados.
Em 12 de março o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) anunciou que a China habilitou 38 frigoríficos brasileiros para exportar carne bovina, de aves e suína, sendo o maior número de plantas autorizadas de uma só vez.
Desse conjunto, 24 plantas são produtoras de carne bovina, nove de carne de aves e um estabelecimento de carne bovina termoprocessada. Também foram habilitados quatro entrepostos, sendo um de carne bovina, dois de frango e um de suínos — o estabelecimento em Itajaí-SC, foi habilitado como entreposto para exportação de carne de frango e suína.
As plantas habilitadas para a exportação de carne bovina e carne bovina termoprocessada estão em Mato Grosso (6), Mato Grosso do Sul (6), Pará (4), Rondônia (3), Goiás (2), São Paulo (1), Tocantins (1), Minas Gerais (1) e Rio Grande do Sul (1). Acompanhe a distribuição na figura 1.
Figura 1.
Distribuição das novas plantas frigoríficas habilitadas à exportação de carne bovina no Brasil, por estado.
Com esse anúncio, serão 65 plantas habilitadas à exportação de carne bovina.
O que muda no mercado do boi gordo pós-anúncio?
Pouca coisa muda.
No curto prazo, com mais compradores buscando pelo “boi China” e a possibilidade do produtor em cadenciar a oferta (enquanto as pastagens ainda têm capacidade de suporte), a perspectiva é de que os preços fiquem firmes e que ocorra um aumento momentâneo do ágio em relação ao boi comum.
Mas, com o preço pago pelos chineses pela carne bovina brasileira bem abaixo dos melhores momentos (figura 2), impactando na margem da indústria, os compradores não devem ceder à pressão de alta; e com mais fornecedores disponíveis, a tendência é de que os preços sejam pressionados.
Figura 2.
Preço médio, em mil US$/t, da carne bovina in natura, exportada à China.
De olho no primeiro giro de confinamento
O confinamento é uma parte do modelo de produção pecuária. Quando o assunto é alívio da pastagem e aumento do estoque de arrobas, com a reposição mais “em conta”, surge uma estratégia interessante.
A terminação em confinamento (seja em boitéis ou em confinamentos próprios) serve para aumentar o giro e auxiliar a compra da bezerrada. Apesar da queda nos preços do boi gordo e da reposição, os preços dos insumos caíram com mais intensidade, principalmente os que compõem a dieta dos bovinos. Veja na figura 3.
Figura 3. Variação dos preços das diferentes commodities agrícolas em São Paulo nos últimos doze meses.
Com o quadro vigente, o preço médio da diária nos confinamentos em São Paulo caiu de R$17,00 para R$15,32 em doze meses, segundo o “Índice de Custo de Produção de Bovinos Confinados — USP”.
Já a referência de preço para o boi magro, que responde por 70% do custo do confinamento, caiu 13,9% em doze meses.
Sob esse cenário estimamos a rentabilidade do primeiro giro neste ano.
Estimativa de rentabilidade do primeiro giro de confinamento
Em abril, com o outono e o avanço do período seco, acontece o primeiro giro, com término em julho.
Considerando um confinamento em São Paulo, com a entrada da boiada no começo de abril, duração de 90 dias, ganho de peso diário de 1,6 quilo e rendimento de carcaça de 56%, projetamos o resultado da atividade.
Foi considerada uma diária média de R$15,00/cabeça e o preço de aquisição do boi magro em R$2,95 mil por cabeça (Scot Consultoria), referência em meados de março.
A venda ocorrerá em meados de julho. Considerou-se a cotação do contrato futuro de boi gordo na B3, com vencimento em julho/24. A cotação estava em R$233,50/@, no fechamento de 12/3/2024.
Confira, na tabela 1, os parâmetros adotados e a estimativa de resultado por bovino confinado no primeiro giro em 2024.
Tabela 1. Estimativa de resultado econômico da engorda de bovinos no primeiro giro de confinamento em São Paulo em 2024.
No cenário apresentado, o resultado previsto é de lucro de R$93,54 por cabeça confinada. Os resultados apresentados referem-se ao boi gordo sem ágio para exportação.
Ressaltamos que os resultados projetados podem ser melhores, principalmente relacionados à estratégia de aquisição da reposição e dos insumos, além do uso de ferramentas de trava de preços, que podem garantir margens (uma vez que os custos estão bem estabelecidos). Além do resultado financeiro proporcionado pelo confinamento, a relação de troca para categorias mais jovens (bezerros) ainda está interessante para o recriador/invernista, e aliviar o sistema de produção em pastagem entre os meses de abril/maio, considerado o período de “safra de bezerros” pode promover oportunidades de bons negócios.