EDITORIAS

Cana de açúcar: fonte de energia sustentável

A Revista Coopercitrus traz uma série de reportagem sobre a “Contribuição do agro na matriz energética brasileira”. Neste primeiro episódio, abordamos o potencial do setor sucroenergético na geração de energia.

Com as mudanças climáticas, cresce a demanda por alternativas renováveis para atender à demanda global de energia. Entre elas está a produção de bioenergia, que tem no agro brasileiro um grande fornecedor. O agro desempenha papel fundamental na matriz energética do Brasil, contribuindo significativamente para a geração de energia renovável.

De acordo com dados da última publicação do Ministério de Minas e Energia (Balanço Energético Nacional 2023), 47,4% da oferta interna de energia brasileira foi de origem renovável em 2022. Dessa parcela, o agro tem posição de liderança, gerando 66% de toda a oferta interna de energia renovável, considerando biomassa da cana, lenha e carvão vegetal, lixívia (resíduo orgânico da indústria de papel e celulose), outras fontes renováveis e a participação do agro na geração distribuída de energia solar.

Quando falamos de geração de energia elétrica, a maior participação é de hidroelétricas e de energia eólica. Mas quando olhamos para a Matriz Energética — todas as fontes de energia do país, incluindo energia elétrica e outras —, as hidrelétricas geram 12,5%, frente a 31,5% geração de energia pelo agronegócio. Portanto, podemos afirmar que o agro é o maior produtor de energia renovável do Brasil.

Destaque: O agronegócio é o maior produtor de energia renovável do Brasil, gerando 31,5% da oferta interna de energia do país, ao passo que demandou 4,8% do total consumido de energia em 2022.

Nessa série de reportagens “Contribuição do agro na matriz energética brasileira”, a Revista Coopercitrus aborda cada fonte de energia, mostrando sua produção, mercado, indústria e impacto ambiental. Neste primeiro episódio, a reportagem aborda a cana, o etanol e a biomassa. Aliás, o setor sucroenergético têm um papel crucial na transição energética nacional, como destaca a EPE.

A produção do etanol de cana-de-açúcar é um dos exemplos em que esse ideal de produzir energia renovável é quase atingindo devido ao alto índice de aproveitamento da biomassa de cana. Originalmente, produz-se etanol, e os restos que ficam no campo após a colheita — a palha da cana — em vez de serem descartados, são aproveitados para gerar dois subprodutos comercializáveis: bioinsumos e biocombustíveis de segunda geração.

O biogás obtido desses resíduos atende, por exemplo, à demanda do setor de transportes por matérias-primas renováveis que diminuam a pegada de carbono do setor automobilístico. E os bioinsumos servem como fertilizantes naturais que incrementam a produtividade da própria cana e de outras culturas agrícolas.

Biomassa quebra recorde de geração de energia

O bagaço e a palha da cana-de-açúcar lideraram a geração de bioeletricidade para a rede no País em 2023, com uma oferta de 20.973 GWh, alta de 14% em relação a 2022, segundo boletim apresentado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), com base em dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O gerente de bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza, afirmou que a oferta é equivalente ao atendimento de 4% do consumo nacional de energia elétrica em 2023, ou 10,8 milhões de unidades consumidoras residenciais. A produção com o bagaço e a palha da cana também representou quase 75% de toda a geração de bioeletricidade para a rede no País em 2023, que foi de 28.137 GWh.

“Seriam equivalentes a 25% da geração de energia elétrica pela Usina Itaipu e a evitar as emissões de CO2 estimadas em 4,3 milhões de toneladas, marca que somente seria atingida com o cultivo de 30 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos”, afirmou Souza.


A Aneel prevê que a biomassa em geral cresça 1.155 MW em 2024, o maior valor desde 2013, com a instalação de 24 usinas geradoras, sendo que uma já entrou em operação em fevereiro, com 31 MW.

Dessas 23 usinas, 16 terão resíduos agroindustriais como combustíveis principais (categorizados como bagaço/palha de cana, biogás, capim elefante e casca de arroz), sendo seis em São Paulo, quatro em Goiás, duas em Minas Gerais e uma unidade nos Estados da Bahia, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Roraima.

Setor sucroenergético

O setor de etanol e biocombustíveis é fundamental para o alcance das metas globais relacionadas as mudanças climáticas. O biocombustível e a energia elétrica a partir da biomassa de cana-de-açúcar possibilitam reduzir a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), por evitar a queima de combustíveis fósseis, o que contribui para a demanda crescente por esses produtos, segundo Ricardo Carvalho, diretor comercial e de originação da BP Bunge Bioenergia.

“Por isso, procuramos continuamente aprimorar ou incorporar processos que racionalizem o uso de recursos e reduzam ou eliminem a emissão de gases e de resíduos. Na BP Bunge temos a capacidade de produzir, a partir da cana-de-açúcar, 1,7 bilhão de litros de etanol, o equivalente a abastecer 35 milhões de veículos leves, cerca de 57% da frota brasileira dessa categoria”, avalia Carvalho.

O etanol, como substituto puro para a gasolina, ou combinado com veículos híbridos e, no futuro, com as células de combustíveis, é uma fonte de energia tão ou mais limpa que veículos elétricos à bateria. “Consideramos o etanol de extrema relevância para compor o futuro da mobilidade de baixo carbono, especialmente, em grandes mercados como o Brasil e a Índia, além do potencial de ser uma solução global para substituição do combustível de querosene para aviação”, salienta Carvalho.

Para Carvalho, os desafios da transição energética vêm promovendo o desenvolvimento de diferentes inovações que devem impactar o setor energético nos próximos anos, segundo Carvalho. “Um exemplo nesse sentido é o combustível de aviação sustentável (SAF). Já há no mercado algumas rotas voltadas à produção de SAF, como HEFA (a base de óleos vegetais e gorduras), porém, o processo denominado como ATJ (alcohol-to-jet), que utiliza o etanol como matéria prima, desponta como o que mais se destaca em termos de viabilidade futura, principalmente em função da abundância deste biocombustível e relativo baixo custo”.

É uma inovação cujo potencial de impacto positivo sobre o nosso setor é imenso. Se chegarmos a pelo menos 3% de mistura de SAF à base de etanol no combustível de aviação global, estamos falando de uma demanda condizente com o volume produzido durante uma safra brasileira inteira desse biocombustível.

Nessa direção, segundo Carvalho, a BP Bunge está preparada atender as demandas do mercado relacionadas a esta nova tecnologia. Em outubro de 2023 recebemos a certificação ISCC CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), que confirma que o etanol que produzimos na unidade Ouroeste (SP) está em conformidade com os padrões internacionais e pode ser utilizado como matéria-prima para produção de SAF.

Oportunidades e perspectivas

Para Carvalho, o etanol é um protagonista na descarbonização da matriz de transporte terrestre brasileira, com perspectiva de uma contribuição ainda mais significativa; e outros países têm a oportunidade de integrar o etanol brasileiro em suas estratégias de descarbonização no setor de transporte terrestre.

O etanol de cana-de-açúcar ainda tem uma intensidade de carbono muito menor do que o americano, por exemplo, que é produzido a partir do milho. “Por exemplo, a cadeia de produção do etanol de milho nos EUA gera algo em torno de 80 g de CO2 por mega joule equivalente, ao passo que, aqui no Brasil, o etanol de cana-de-açúcar gera 25 g de CO2 e, com o acréscimo da cadeia logística, este etanol chega aos EUA com aproximadamente 50 g de CO2. Ou seja, o nosso etanol é mais eficiente em termos da pegada de carbono, da produção à distribuição”, ressalta.

Segundo ele, a BP Bunge direciona ações para garantir a redução contínua de sua pegada de carbono na produção de etanol e energia e o consequente aumento da oferta de CBios para o mercado, com projetos que visam as melhores práticas agrícolas, o uso de fertilizantes biológicos e verdes, a redução do consumo de diesel no campo, entre outros.

Carvalho compartilha alguns insights sobre os planos e objetivos da usina com ohidrogênio verde, que, segundo ele, é uma tecnologia em desenvolvimento e que deve encontrar escala de mercado daqui a 10 ou 15 anos.

“Ao mesmo tempo, o Brasil tem uma solução de descarbonização excepcional. O etanol é uma tecnologia comprovada e 85% da frota brasileira tem condições de rodar exclusivamente com ele. Só a produção da BP Bunge equivale a tirar um milhão de carros a gasolina das estradas todo ano”.


Carvalho diz que seu o papel como produtor é aumentar a competitividade do produto no mercado. “De qualquer forma a BP Bunge está sempre atenta às inovações, e nesse momento nossa estratégia está voltada em otimizar a capacidade produtiva das unidades”.

Produtividade

Embora seja considerada uma cultura de fácil condução, a cana-de-açúcar está longe de ser uma atividade simples de lidar, pelo menos para quem busca alta rentabilidade. Planejamento é o ingrediente principal para garantir produtividade, salienta André Rossi, gerente de Desenvolvimento Técnico de Mercado da Coopercitrus.

“O manejo da cana de açúcar tem que passar por alguns pilares de planejamento. O sistema produtivo é fundamental para ter sucesso na execução e rentabilidade da lavoura. O primeiro passo é realizar uma análise de solo bem-feita e investir no projeto de sistematização, pois a cana é sensível às operações mecanizadas. Ao otimizar as linhas de plantio com o planejamento da sistematização, o produtor passa a ter o menor pisoteio de soqueira e, por consequência, alcança uma maior longevidade. Esses são implementos e serviços do Campo Digital que ajudam na formação do canavial e no planejamento da lavoura. Dentre as recomendações agronômicas, a adubação também é essencial para garantir longevidade de soqueira”, explica Rossi.

Investir em mudas de qualidade é outro fator destacado por Rossi. “Isso é fator essencial e a Coopercitrus tem parceria com várias empresas que vendem mudas de sistema, que podem fazer toda a instalação inicial no canavial e que são livres de patógenos, dentro da condução do plantio e de toda a soqueira da cana. Trabalhamos para que os produtores possam ter acesso aos melhores insumos que garantam uma lavoura limpa, livre de plantas daninhas e ataque de pragas, para que o canavial do cooperado tenha maior brotação, maior longevidade, maior ATR e melhor resultado na sua lavoura. Orientamos os nossos cooperados a investir nas boas práticas e a seguir as recomendações técnicas”.

Crescer ao lado do cooperado

Consciente de seu papel como agente de transformação da agropecuária brasileira, a Coopercitrus tem papel relevante na transição para uma economia de baixo carbono. As ações da cooperativa suportam o produtor rural desde o preparo do solo até a colheita de sua safra, oferecendo pacotes tecnológicos que visam a produtividade e sustentabilidade das operações agrícolas a partir de soluções em agricultura regenerativa, irrigação, energia fotovoltaica, seguros agrícolas, distribuição de combustível, insumos, implementos e máquinas agrícolas.

Os cooperados contam com o suporte de nosso time de especialistas, dimensionando a melhor solução de acordo com a realidade de cada cooperado. Essas ações também envolvem, por meio de programas inovadores e parcerias estratégicas, alternativas eficazes para a realização de boas práticas como a recuperação de nascentes e restauração florestal.

Projeto combustíveis do futuro

A Câmara dos Deputados aprovou, em 13 de março de 2024, o Projeto de Lei dos “combustíveis do futuro”, que visa a criação de programas nacionais de diesel verde, de combustível sustentável para a aviação e biometano, mas que também prevê o aumento da mistura de etanol à gasolina e de biodiesel ao diesel. O PL aprovado é de autoria do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP).

O projeto ainda está em tramitação. Com a aprovação na Câmara, será enviado ao Senado, onde pode receber mudanças. Mas, caso seja aprovado sem nenhuma alteração, a nova margem de mistura de etanol à gasolina passará de 22% para 27%, podendo chegar até 35% da composição. Atualmente, a mistura máxima permitida varia entre 18% e 27,5%.

O potencial da cana na transição energética

Maior fonte de energia entre as renováveis, as biomassas líquidas, sólidas e gasosas conquistaram seu espaço na matriz a partir do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). O etanol foi introduzido na década de 1970. Desde então, essa geração aumentou e o país se consolidou como o segundo maior gerador de energia a partir das biomassas.

Etanol: O etanol de cana-de-açúcar é o principal biocombustível do Brasil, e representa cerca de 15,4% da matriz energética total. O etanol é misturado à gasolina e utilizado nos carros flex.

Biodiesel: O biodiesel é outro importante biocombustível do Brasil, e representa cerca de 3% da matriz energética total. O biodiesel é produzido a partir de óleos vegetais e gorduras animais, e pode ser utilizado em diversos tipos de motores diesel.

Bioeletricidade — É um tipo de energia alternativa gerada a partir da queima de biomassa (matéria orgânica), que gera vapor que, por sua vez, é transformado em eletricidade.

Biogás/Biometano — O biogás de cana é o resultado da fermentação por bactérias dos resíduos da produção: vinhaça e torta de filtro. A partir do gás gerado é possível gerar a bioeletricidade, que comentamos acima, e também o biometano.Entre muitos usos, o biometano substitui o diesel em veículos pesados, como caminhões, ônibus e tratores, emitindo 90% menos CO2

Pellets de cana — Além de etanol, gás e bioeletricidade, a biomassa obtida a partir dos resíduos da cana também pode gerar energia a partir de pellets. Os pellets são um combustível sólido gerado com a secagem, compactação e granulação da biomassa. Esses pellets de cana podem substituir o carvão mineral (fóssil) em termelétricas e também são mais vantajosos que outras fontes de carvão vegetal, como a lenha. Mais do que limpa, a energia do agro gera empregos, distribui renda, preserva a biodiversidade e remove carbono da atmosfera. É a energia do nosso presente e do nosso futuro!

ESPAÇO RESERVADO
PARA ANÚNCIOS

Compartilhar nas redes sociais