As mulheres têm conquistado cada vez mais lugares de destaque em diversos setores da sociedade. Na agricultura, não é diferente. Para se ter uma ideia, o número de mulheres gerindo propriedades rurais no Brasil alcançou quase um milhão, fato que as torna responsáveis pela gestão de pelo menos 8,5% do PIB nacional, segundo a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).
Filha e neta de produtores rurais, a cooperada Rosecler Borella, de Cristalina, Goiás, assumiu o desafio de gerir os negócios da família após o repentino falecimento do irmão. Desde então, ela vem praticando uma gestão eficiente e inovadora no cultivo de soja.
Assim como em qualquer segmento, no negócio familiar, é preciso conquistar a confiança dos seus líderes e Borella mostrou estar mais do que preparada. Com as mudanças implantadas, a produtora rural alcançou aumento de 30% na produtividade, passando de 27 mil sacas de soja para 35 mil sacas.
Ela relata que, ao retornar para a fazenda, além da dor da perda, se deparou com grandes desafios para administrar os negócios: “Foi preciso quebrar alguns paradigmas que existiam e encarar a fazenda como uma empresa. Sem desmerecer a antiga gestão, tive de provar que as mudanças eram necessárias, pois existia certa desconfiança por parte do meu pai e provei na minha primeira safra, quando produzimos 20 sacas a mais por hectare. Depois disso, ele me disse que não iria se intrometer mais”.
Visão gerencial para avançar no campo
Formada em administração de empresas, a agricultora investiu em um sistema de gestão para melhorar a administração geral da fazenda. Com essa estrutura, ela pôde planejar melhor seus investimentos, entender a hora ideal de comprar insumos e tomar decisões mais acertadas.
“O sistema é importante para termos um panorama geral dos negócios e ajuda muito na tomada de decisão. Hoje, ao fim de cada safra, sabemos qual foi o custo, pois tudo é contabilizado, desde a troca de um parafuso até a alimentação dos funcionários. Esse histórico é importante para as futuras produções”, exemplifica.
Outra importante mudança foi a separação das finanças da pessoa física e da jurídica: “Senti o negócio, observei como eram as entradas e saídas e fiz um estudo de quanto era preciso produzir para arcamos com todos os compromissos. Como somos uma empresa familiar, todos precisam receber sua fatia do bolo. Além dos salários, também tínhamos que separar o Pró-Labore. Hoje, arcamos com toda a produção com recursos próprios”, afirma.
Novos horizontes na sucessão
A produtora rural se orgulha da história que a família construiu na agricultura: “Quando os meus avós e os meus pais saíram do Rio Grande do Sul para morar em Goiás, buscavam oportunidades para produzir em terras maiores, então desbravaram o cerrado, encontrando terra para o cultivo. Sempre acreditamos e permanecemos na agricultura”.
Para Borella, o processo de transição não foi fácil: “O meu irmão era quem estava sendo preparado para suceder o meu pai na gestão dos negócios da família. Isso era muito bem resolvido entre a gente, éramos em três. Quando o perdemos, foi uma das dores mais fortes da minha vida. Meu pai perdeu um filho e seu braço direito”, conta.
Aprender a ressignificar a dor, transformando-a em aprendizado foi o caminho percorrido pela agricultora: “Minha irmã mais velha não tinha interesse em gerir os negócios e eu não queria que meu pai vendesse a fazenda. Quando ele me pediu ajuda, disse que morreria de desgosto caso ele tivesse que vender ou arrendar a fazenda, que ele demorou uma vida inteira para construir. Isso me motivou assumir a fazenda”, recorda-se a cooperada.
A vontade de continuar o legado da família motiva Rosecler a se aprimorar para exercer uma gestão eficiente: “Em todo o negócio, é preciso ter planejamento; no agro, não é diferente. É preciso analisar diferentes fatores como preço, clima, mercado, mão de obra e produção”.
Para quem está no processo de transição, a cooperada aconselha: “É preciso ter força, determinação, autoconfiança, paciência e humildade, pois não sabemos de tudo. A cada dia, aprendemos mais e mais”.
Para alcançar os melhores resultados em sua lavoura, Rosecler conta com o suporte da Coopercitrus para o fornecimento de insumos, tecnologias e suporte especializado em campo.
Mulheres na liderança do agro
- Quase 1 milhão de mulheres são responsáveis pela gestão de propriedades rurais. Elas administram cerca de 30 milhões de hectares, cerca de 8,4% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais no país. (AGRO + Mulher, 2018)
- Dos mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais identificados no Censo Agropecuário de 2017, 19% têm mulheres como proprietárias, um crescimento de mais de 6% em relação ao censo agropecuário de 2006.
- De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), houve um aumento de 21% no número de mulheres que ocupavam cargos de decisão nas empresas do setor entre os anos de 2013 e 2017.
- A integração entre homens e mulheres tem destaque dentro das propriedades rurais. A prova disso é que a participação feminina é ainda maior (34,75%) quando somadas as mulheres que administram o estabelecimento agropecuário com o cônjuge.
*Adaptado da palestra da Vanessa Sabioni, da AgroMulher.