Antonio Júlio Junqueira de Queiroz fala sobre os desafios de estimular a produção com sustentabilidade, a conectividade no campo e a bioenergia para desenvolver o setor.
Antonio Júlio Junqueira de Queiroz assumiu, em janeiro, uma pasta extremamente estratégica para o estado: a Secretaria de Agricultura de São Paulo. O desafio é novo, mas a ligação de Queiroz com o agro é de berço. Formado em Administração (Esan/FEI) e pós-graduado em Negócios Imobiliários (FAAP), foi secretário adjunto da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento de São Paulo entre 2007 e 2011. Atuou como tesoureiro da Sociedade Rural Brasileira de 2002 a 2007, na qual também foi conselheiro até 2020. É membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP, do Conselho Consultivo da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus) e do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo. Em entrevista à revista Coopercitrus, ele ressalta que sua gestão vai focar fortemente no pequeno e médio produtor. A missão da pasta, segundo ele, é orientar os agricultores a produzir com sustentabilidade. Nessa direção, o novo secretário fala do papel fundamental das cooperativas na disseminação da cultura de inovação e no desenvolvimento tecnológico dentro das propriedades rurais.
Coopercitrus – Qual é a sua relação com a Coopercitrus?
Antônio de Queiroz – Me sinto em casa porque faço parte do quadro de associados da cooperativa há muitos anos. Sou da região e conheço muito bem o potencial da nossa cooperativa. Inclusive utilizo a carteirinha do meu pai, que, se não estou enganado, é o cooperado número 185. Quando meu pai faleceu em 2001, pedi que mantivessem seu número de cooperado. Inclusive tenho recebido os balancetes para imposto de renda e observei que a cooperativa, nos últimos anos, registrou resultado positivo. Meu pai também foi fundador da Frutesp e o projeto de construção foi feito pela Promon Engenharia, empresa onde ele trabalhava. Também fui membro do Conselho de Administração da Credicitrus e me desliguei para assumir o novo cargo. A ligação com a cooperativa é antiga.
Coopercitrus – Quais são as prioridades da sua gestão à frente da Secretaria? Na sua visão, qual o principal desafio?
Queiroz – O meu principal pedido ao governador Tarcísio de Freitas foi que, durante a minha passagem pela secretaria, olhássemos mais para o pequeno e o médio produtor do estado de São Paulo. Temos, hoje, por volta de 408 mil propriedades, sendo que 190 mil têm até 22 hectares. Então, estamos falando de uma gama muito grande de pequenas propriedades rurais do estado. Nossa passagem na secretaria olhará muito de perto e com bastante cuidado para esse pequeno e médio produtor.
Coopercitrus – A agenda ESG (Environmental, Social and Governance) é uma das pautas que o setor agropecuário tem acompanhado. Nesse contexto, quais são as iniciativas que o senhor pretende implementar para promover a sustentabilidade, inclusive para o pequeno produtor, que é prioridade da pasta?
Queiroz – A secretaria tem a grande missão de orientar o pequeno e o médio sobre como produzir de maneira sustentável e, assim, conseguir vender melhor os produtos, melhorar a vida das pessoas e atingir os mercados externos. O Brasil, hoje, é um grande produtor de alimentos, nós temos que fazer aquilo que o nosso cliente final quer. A nossa grande missão é orientar e fazer que esses pequenos e médios produtores produzam da melhor forma possível. Além disso, nós teremos também um programa muito importante, que será a criação de pagamentos sobre serviços ambientais. São Paulo, hoje, tem 23% de reservas, o Código Florestal pede que tenhamos 20% e esse diferencial, no nosso entender, tem que ser valorizado. Portanto, temos que procurar medidas para que o pequeno e o médio produtor recebam sobre esse ativo. Falamos em todo mundo de problemas climáticos. O Brasil é um grande produtor de alimentos e grande preservador do meio ambiente e temos que usar isso como uma moeda a nosso favor. Podemos melhorar muito a nossa agricultura sem derrubar uma árvore sequer, pois temos muitas terras degradadas e acredito que podemos seguir por essa rota. Além disso, já que estamos falando diretamente com a Coopercitrus, é importante que a cooperativa nos ajude a advogar o CAR (Cadastro Ambiental Rural). O produtor precisa dar o aceite para que tenha o PRA (Programa de Regularização Ambiental). Com ele, o produtor terá acesso a recursos de vários bancos e fazer sucessão familiar, comprar e revender terras. Portanto, o CAR é importantíssimo. Rogo para que os produtores vejam o seu CAR e deem seu aceite, concordando ou não e vamos seguir esta linha. É muito importante para a vida das pessoas e é importante que elas entendam isso. Eu já fiz o meu CAR nas duas fazendas que tenho e eles foram perfeitos. Isso veio para ajudar as pessoas e não para penalizá-las. É para ajudar a melhorar a vida das pessoas. Esse é o grande recado. O governo está aqui para ajudar e orientar.
Coopercitrus – Qual sua visão sobre a importância da agricultura de precisão e das tecnologias para o desenvolvimento do agronegócio? Como a pasta pretende estimular a adoção da tecnologia no campo?
Queiroz – Uma das grandes metas deste governo é digitalizar tudo e pretendemos modernizar e facilitar a vida das pessoas e do produtor rural. Para isso, precisamos ter sinal da internet que funcione em todas as regiões, principalmente nas propriedades rurais e nas casas de agricultura. Conheço muito bem o trabalho que a Coopercitrus oferece na agricultura de precisão, é bárbaro. Hoje, a gente não erra nem dois centímetros à esquerda, nem dois centímetros à direita. Aliás, a grande missão e vantagem da Coopercitrus é que ela conta com um quadro muito bom de funcionários e técnicos, além de estar sempre à frente do seu tempo. Acredito que a Coopercitrus poderá também trabalhar em parceria conosco. A Coopercitrus está de parabéns.
Coopercitrus – A segurança no campo é uma pauta que vem ganhando cada vez mais destaque. Quais ações que o senhor pretende desenvolver para melhorar a segurança no campo e proteger os resultados dos produtores rurais?
Queiroz – Temos o programa segurança no campo. O governo disponibilizou várias caminhonetes bem equipadas para que os municípios possam usar na vigilância das propriedades. Nós estamos modificando esse programa, melhorando para que todas as cidades que receberem as caminhonetes possam usá-las da melhor forma possível em defesa das propriedades rurais. Sobre a segurança, temos dois pontos importantes para salientar: o primeiro é que São Paulo não vai aumentar nenhum tipo de imposto na área da agricultura; o segundo, muito importante, é sobre invasão de terras. Aqui, em São Paulo, a ordem é a seguinte: Invadiu? Vai desocupar. São Paulo é um estado sério e nós queremos continuar dando segurança jurídica tanto às populações da cidade quanto as do campo. Essa é bandeira do estado. Estou vendo que vários governadores estão, agora, se pautando na rapidez do governador Tarcísio de Freitas. São Paulo realmente é vitrine, tudo o que fazemos, vários estados copiam. São Paulo é um estado maravilhoso, é uma usina de ideias. Então, vamos seguir essa linha.
Coopercitrus – Ouvir as demandas dos produtores rurais é fundamental para entender as necessidades do setor. De que forma o senhor pretende estar mais próximo dos produtores rurais?
Queiroz – Temos as redes sociais da secretaria que podem ser usadas de uma forma muito inteligente. Também temos 43 Câmaras Setoriais onde são debatidos assuntos pertinentes à produção de São Paulo. Além disso, o meu gabinete está aberto a todos os produtores, prefeitos, vereadores. Estamos aqui para ouvir sugestões, críticas e para tentar melhorar a vida das pessoas. A grande missão desse governo é melhorar e dar dignidade ao cidadão do estado de São Paulo. Estarei em Bebedouro no dia 23 de março para a inauguração de uma pequena usina da Cooperativa de Produtores Rurais de Agricultura Familiar (Coperfam) e terei um encontro com os amigos da Credicitrus. Estou devendo essa visita há algum tempo à cidade.
Coopercitrus – O senhor tem fortes raízes cooperativistas. Na sua visão, como as cooperativas contribuem com o desenvolvimento do setor agropecuário?
Queiroz – A minha relação com a Coopercitrus é antiga, desde a época em que meu avô lançou a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Monte Azul Paulista. Temos em nosso DNA o cooperativismo e estamos assistindo a uma mudança muito grande do cooperativismo no Brasil. As cooperativas seguem fortes e terão um espaço muito grande. Estamos vendo que as cooperativas rurais e as de crédito estão crescendo de uma forma assustadora. Estão fazendo sombra a grandes bancos e empresas. Estive no Canadá para conhecer a cooperativa Desjardins e vejo que, unidos, sempre seremos mais fortes. Acho que essa é uma ideia que deu certo e vamos trabalhar no Brasil para que sejamos cada vez mais fortes juntos. Acredito muito no Brasil, precisamos ter diálogo e conversar. Quando a situação é difícil, a conversa tem que ser calma. A eleição acabou e temos que manter um bom diálogo a nível estadual e federal. Temos que aproveitar que o Brasil é a bola da vez. Precisamos ter juízo porque, como eu disse, vamos ser os maiores produtores de alimentos do mundo. Ninguém segura o Brasil. Tem um ditado no interior que diz: A gente não pode largar do rabo do boi. Não é isso? E é isso o que temos que fazer.
Coopercitrus – Quando o senhor assumiu o cargo, qual era sua visão sobre o ano de 2023? Ela mudou? O que o senhor espera para este ano em tendências, acontecimentos ou fatos que podem mudar os rumos do setor?
Queiroz – O ano de 2022 foi um ano muito difícil e de muita polarização. Sempre tivemos a preocupação de como seria a relação do governo estadual com o federal, pois os ânimos estavam muito aflorados. Acredito que, com o diálogo, podemos caminhar bem, precisamos conversar e ter entendimento.
Temos problemas sanitários na vizinhança, como a influenza aviária, que é um perigo. Esse importante setor faturou R$ 92 bilhões em 2022. Somos os maiores produtores de aves e ovos. Acredito que esse é um grande problema, temos que saber enfrentá-lo e a nossa Defesa Sanitária em São Paulo é muito preparada. Estou conversando com o ministro de Agricultura, Carlos Fávaro, e conversei com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, sobre o setor de borracha natural. Também sou produtor de borracha e entendo perfeitamente a dificuldade que todo mundo está passando. Para o setor da cana-de-açúcar, vejo um grande futuro pela frente. No setor de carnes, por conta da ameaça da vaca louca, os preços caíram, mas logo devem se recuperar. Os grãos, parece-me que vão bem. Precisamos ter fé, trabalhar e ser firmes, porque, se ficarmos dependendo de notícias de jornal e televisão, não faremos nada. O agricultor tem um grande mérito. Ele trabalha, levanta cedo e toca a vida. É essa a mensagem que eu gostaria de deixar: Acredite, trabalhe e toque a sua vida para frente. Existe uma máxima que diz: “Se o governo não atrapalhar, já está ótimo”. Então, é isso que temos que fazer.