A taxa de adoção de uso de biológicos em cana-de-açúcar ainda é baixa quando se olha no mercado geral. A percentagem dos produtores que já adotaram a prática de manejo integrado com biológicos chega em torno de 20% da área de produção no país, mas está crescendo a cada ano. À medida em que o agricultor faz uso desta tecnologia, quebra-se o paradigma ao ver na prática que o Manejo Integrados de Pragas (MIP) é uma ferramenta que traz vantagens econômicas, comerciais e ambientais.
O mercado de controle biológico dobrou nos dois últimos anos no Brasil, movimentando mais de R$ 1 bilhão na última safra, conforme dados da IGH Markit. Segundo a pesquisa da Consultoria Blink Projetos Estratégicos com a CropLife, que foram divulgados em abril, o mercado de produtos biológicos deve atingir R$ 3,7 bilhões no Brasil em 2030. Esses dados demonstram o quanto é solido o crescimento na aceitação por parte dos produtores.
Atualmente, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) existem 411 biodefensivos registrados, sendo que houve o registro de 43 em 2019 e de 95 em 2020. Esses dados indicam um mercado com grande potencial de crescimento.
Para a cana-de-açúcar, temos excelentes programas de controle biológico visando o controle das principais pragas da cultura. Atualmente temos produtos registrados para broca da cana, cigarrinha, Sphenophorus e nematoides.
Broca-da-cana – diatraea saccharalis
A broca é a principal praga da cana-de-açúcar. A lagarta jovem se alimenta das folhas e penetra as partes mais moles do colmo, perfurando a cana e abrindo galerias, que servem de entrada para outros microrganismos (bactérias, fungos, etc.). Com a presença da broca ocorre o dano secundário, que é o apodrecimento dos internódios atacados (podridão vermelha).
O controle biológico da broca teve início da década de 70 com a Cotesia flavipes, se tornando o maior programa de controle biológico do mundo até os dias atuais. O parasitismo se inicia por uma picada da Cotesia flavipes, que deposita grande quantidade de ovos no interior do corpo da broca da cana. Desses ovos eclodem larvas que se alimentam do interior da lagarta, que, por sua vez, morre exaurida, sem conseguir completar seu ciclo de vida.
Outra alternativa de controle biológico é o uso da microvespa Trichogramma galloi, que parasita os ovos da broca-da-cana. O uso da microvespa se tornou viável a partir de 2014 com o uso de drone para a soltura da microvespa em campo, obtendo rendimento operacional, melhorando sua distribuição e eficiência. A utilização do Trichogramma galloi é muito interessante, ele preda o ovo da broca, ou seja, antes da broca entrar no colmo e causar dano. Outra vantagem é que o parasitoide não é afetado por temperatura elevada, pelo contrário, a microvespa prefere altas temperatura, ficando mais ativa, procurando os ovos para parasitar mais rápido.
A associação da Cotesia flavipes e Trichogramma galloi tem garantido excelente controle, visto que estas atuam em diferentes fases de desenvolvimento da praga (ovo e lagarta). Três liberações semanais consecutivas de Trichogramma galloi e uma de Cotesia flavipes acarretam em uma diminuição de mais de 60% no índice de intensidade de infestação causado pela broca.
Cigarrinha das raízes – Mahanarva fimbriolata
O controle biológico com Metarhizium anisopliae é um dos principais componentes do manejo integrado de cigarrinhas. A seleção de isolados de Metarhizium anisopliae é uma etapa fundamental para que se possa obter isolados virulentos e de alta produtividade em meio de cultura e, desse modo, proceder a produção em escala comercial.
Em aplicação tratorizada o fungo deve ser aplicado na vazão de 300 a 400 litros de água/ha, utilizando um trator com bicos em pingente com jato dirigido para a base da touceira, de preferência após as 16 horas, para evitar a alta incidência de raios ultravioleta, chegando até a madrugada, período em que a umidade relativa está alta e a temperatura mais amena, minimizando os efeitos do ambiente que podem ocasionar a morte do fungo. Esses cuidados são essenciais para alcançar bom controle.
Sphenophorus levis
Por ser uma praga de solo e atacar a parte basal da soqueira de cana, torna-se mais difícil seu controle. Os inseticidas de uma forma geral têm baixa eficiência, ficando entre 30 e 50%. O controle com biológico tem se tornado uma ótima ferramenta, proporcionando bons resultados.
O uso de Beauveria bassiana para o controle dos adultos tem se mostrado eficaz, com controle superior a 80% já após 30 dias da aplicação. O fungo Metarhizium anisopliae, comumente utilizado para o controle de cigarrinhas na cana-de-açúcar, tem mostrado excelentes resultados no controle de larvas de Sphenophorus levis, quando aplicado com cortador de soqueiras.
Pesquisas mais recentes estão sendo feitas com nematoides entomopatogênico (Steinernema puertoricense, Steinernema rarum) obtendo controle de 80% sobre as larvas do gorgulho, controlando também outras pragas, tais como lagarta Hyponeuma taltula, larvas de corós, broca gigante, cigarrinha-da-raiz e cochonilhas de raiz, dentre outros insetos, com eficiência entre 50 e 80%.
Nematoides
O controle de nematoides é muito relacionado ao equilíbrio de biota do solo, podemos utilizar produtos à base de fungos e bactérias. Muitos produtos são vendidos na fase resistência ou esporo de fungos e bactérias, tornando-as resistentes às condições climáticas desfavoráveis em que podem ser aplicadas no inverno e tendo como resultado um maior tempo de controle dessa praga, pois as condições de calor e umidade no solo que favorecem a multiplicação do nematoide também são favoráveis aos organismos usados para o seu controle.
É importante destacar que o papel do biológico não é substituir o químico. Ele até pode fazê-lo pontualmente em algumas pragas e segmentos, como no controle de nematoides, mas, na maioria dos casos, o recomendado é uma sinergia entre ambos.
Cooperado, para saber mais sobre o uso de controle biológicos na cana-de-açúcar, procure os profissionais da Coopercitrus mais próximos de você.
Cristiano José do AmaralConsultor especialista em cana-de-açúcar da Coopercitrus