A gestão econômica é tão importante quanto a própria produção no campo
Olhe sua fazenda como empresa e lucre mais
O controle financeiro do negócio rural é considerado um dos principais pilares para uma gestão rural eficiente e focada em resultados.
“Para ter uma fazenda competitiva, é preciso ter uma visão de empresa. Os números têm que estar sempre na mão do produtor”. José Odilon
A gestão de uma fazenda vai muito além do manejo operacional de campo. Conhecer números e entender receitas e custos que impactam a atividade são atitudes primordiais para que o produtor rural avalie os resultados e saiba se está tendo lucro ou prejuízo. Dessa forma, ele pode tomar decisões assertivas e se planejar para melhorar os resultados.
Essa é a avaliação do cooperado José Odilon de Lima Neto, de Jardinópolis, SP, que faz parte da quarta geração de produtores rurais da família. Bisneto de agricultor e nascido na fazenda, ele resolveu estudar administração de empresas na capital paulista, onde morou por mais de 15 anos e fez carreira no mercado financeiro. Com o repentino falecimento de seu pai, em 2011, ele voltou às raízes para administrar o negócio rural. Desde então, implantou uma série de processos para a melhoria da gestão, tendo alcançado um resultado bastante satisfatório: em dez anos, aumentou os negócios em cinco vezes, arrendando novas áreas e ampliando a produção.
Odilon relata que, ao retornar para a fazenda, se deparou com grandes desafios para administrar os negócios: “Os controles eram precários. Não tinham muitas informações sobre receitas, despesas, estoques e resultados”. Decidido a organizar seu negócio, ele passou a aplicar seus conhecimentos de administrador para implantar a gestão na propriedade onde cultiva cana-de-açúcar, grãos e cereais.
“Para crescer, é preciso olhar a fazenda como um negócio. O produtor rural gosta muito de estar acompanhando a lavoura ao invés dos números. Mas é muito importante ter um olhar voltado para a gestão profissional. Se eu não estivesse gerenciando a fazenda, provavelmente o nosso negócio, em termos de cultivo e produção, já teria acabado, com a nossa terra sendo arrendada”, comenta.
O produtor rural modernizou toda a estrutura de gestão. “No primeiro momento, desenvolvi todo o controle em planilhas de Excel e fui aprimorando, até que senti a necessidade de profissionalizar”, relembra o produtor. Então Odilon investiu em um sistema de gestão para melhorar seu processo de administração geral dos negócios.
“O sistema é conectado com a fazenda e controla todas as nossas informações. Ele é bem completo, tem módulos específicos, como o financeiro, o controle de estoque e a produtividade por talhão. Tudo isso me permite visualizar os dados como um todo e ainda tem o diferencial de contar com uma consultoria financeira que nos ajuda a analisar os Demonstrativos de Resultados Econômicos (DREs) e o nível de alavancagem e a fazer as projeções”, informa José Odilon.
Com essa estrutura, ele pode planejar melhor seus investimentos, entender a hora ideal de comprar insumos, investir em tecnologias e tomar decisões mais acertadas.
O cooperado recomenda que todo produtor rural tenha os números de sua produção em mãos e faça bem a parte financeira: “É importante contar com um bom contador, ter todas as notas fiscais de recebimento e venda de produtos, recolhimento de impostos, notas de despesas e que ele consiga fazer o livro-caixa bem feito. A partir daí, o produtor dá o primeiro passo e, depois, ele pode avançar na sua gestão”.
Mais perto da cooperativa
Atualmente, José Odilon faz parte do Conselho de Administração da Coopercitrus, cuja função é a tradução do interesse dos cooperados em ações, as quais ficam a cargo dos colaboradores.
“É uma troca de experiência, saímos da fase da produção para uma esfera mais institucional, econômica e política, passando a ter uma visão ampla de todo o negócio. Todas as reuniões são dinâmicas, pois é preciso negociar, opinar e entender todos os passos que estão no negócio. Tudo que eu aprendo ali, aplico no meu negócio. Me sinto parte da gestão da cooperativa, além de conseguir entender todas as áreas da cooperativa e qual rumo seguir. Me sinto parte da empresa, como se fosse um funcionário. Qualquer coisa que vejo me envolvo imediatamente”.
Investindo em mudanças
O cooperado Bruno Lopes, de Itumbiara, GO, também viu os resultados melhorarem depois que passou a fazer o controle financeiro do seu negócio familiar. Filho e neto de produtores rurais, Bruno se formou em Agronomia e trabalhou em empresas fornecedoras de insumos em diversas regiões do Brasil. Durante a pandemia, ele decidiu retornar a sua cidade natal para trabalhar na propriedade familiar ao lado de seu pai, Alberto Lopes, e tocar a propriedade de 580 hectares, onde produzem grãos.
Bruno relata que, no início, a família foi resistente às mudanças que ele quis implementar na parte de gestão da fazenda. “Eu comecei a querer levantar os números e teve alguns questionamentos, mas eu fui persistente e, depois que comecei a apresentar os resultados, comparar com outros períodos e a mostrar as projeções, eles entenderam”, conta.
Para Lopes, a gestão eficiente da propriedade é determinante para planejar todas as operações, desde a compra de insumos até a venda da produção. “Tudo era muito rústico, com algumas anotações no caderno. Nós não tínhamos uma estrutura de controle básico. Então, passei a planilhar todos os custos com insumos, máquinas e despesa com pessoal. A gente precisava saber quais eram os custos fixos e variáveis. Com isso, passamos a entender como estava o nosso resultado e onde podíamos melhorar. Isso deu muito mais segurança para o negócio”, analisa o cooperado.
A parceria com a Coopercitrus também contribuiu para que o engenheiro agrônomo melhorasse os indicadores dentro da porteira. “Com a análise de solo, passamos a aplicar os insumos na dose certa, evitando o desperdício e colaborando para aumento de produtividade e consequentemente da rentabilidade. Depois, compramos um pulverizador para melhorar o nosso trabalho operacional.”, celebra.
Gestão rural: um hábito a ser criado
Na avaliação do gerente de desenvolvimento técnico de mercado da Coopercitrus, André Rossi, quando o produtor cria uma rotina de gestão, ele consegue se organizar e planejar suas ações, definindo as necessidades do negócio e o que deve ser feito para aumentar a produtividade do campo.
“O produtor rural precisa entender a importância de uma gestão eficiente. Sabemos quantos quilômetros por litro faz o nosso carro, qual o consumo médio de energia da nossa residência, mas quanto custa cada saco de soja ou de café que produzimos? Qual é o custo de produção de cada tonelada de cana ou da caixa de laranja? São essas as informações que a maioria dos produtores não têm e isso deveria constar numa tabela, seja em uma planilha ou software de gestão”, analisa o gerente.
Rossi comenta que a escolha do insumo ideal é apenas um dos fatores determinantes para se ter uma gestão eficiente: “É preciso mensurar o custo por hectare da aplicação do insumo, considerando o produto, a mão de obra, a máquina, enfim, tudo isso tem que ser contabilizado para saber se o produtor está fazendo a gestão de maneira correta”.
Ele também enumera os serviços da Coopercitrus que contribuem com a gestão dos produtores: “As operações de barter permitem que o cooperado trave seus custos de produção e tenha mais segurança em suas negociações; o Seguro Coopercitrus é uma ferramenta importante para cobrir os riscos de produção; o Consórcio Coopercitrus é interessante para o planejamento de compras, a renovação de frotas e o investimento em tecnologias. Falando em tecnologias, os serviços de agricultura de precisão, aplicação por drone, análise de solo e sistematização garantem bons resultados, gerando maior rentabilidade e uso racional de insumos e defensivos. As oficinas para manutenção de tratores e máquinas melhoram a vida útil dos equipamentos. Além disso, nossa equipe está à disposição dos cooperados para auxiliar no planejamento da renovação de frota e no dimensionamento dos equipamentos de acordo com a propriedade dos cooperados”.
Gestão: um tabu a ser quebrado
Com o objetivo de desenvolver ações técnicas voltadas ao desenvolvimento dos produtores rurais, a Coopercitrus firmou parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SP) para promover a troca de informações, criar projetos e oferecer consultoria de gestão a fim de melhorar o desempenho dos cooperados da Coopercitrus.
O consultor do Sebrae Luiz Felipe Cavallari explica que o projeto Agro Sebrae trabalha com três pilares: gestão, mercado e tecnologia: “Quando olhamos para a gestão rural, analisamos todos os números e os indicadores para sabermos como podemos melhorá-los em termos de produtividade, custos, processos e estratégias. Também destacamos a importância da tecnologia e como ela pode impactar positivamente o negócio. Hoje, sem tecnologia, o produtor não consegue permanecer no mercado. Por meio dessa consultoria, a nossa meta é aumentar em 8,5% o faturamento desses produtores ao longo dos 8 meses de atendimento”.
Mercado de trabalho em alta
Sabendo da importância da administração profissional para melhorar o desempenho dos produtores rurais, a Coopercitrus, por meio da Fundação Coopercitrus Credicitrus, em parceria com o Centro Paula Souza, oferece o curso Técnico em Agronegócio, que prepara os alunos para atuarem na gestão de fazendas e empresas rurais, combinando conhecimentos sobre atividades agrícolas e técnicas de gestão de acordo com as boas práticas agrícolas, normas técnicas e legislações.
A coordenadora Lizandra Godoy explica que o curso ensina técnicas de gestão e de comercialização, como avaliação de custos de produção e aspectos econômicos para a introdução de novos produtos e serviços.
“Além da parte técnica, o profissional aprende a ter essa visão de gestão financeira. Ele aprende a montar um plano de negócios e a analisar cadeias produtivas, adquirindo respaldo para analisar o que acontece dentro e fora da porteira”.
O curso, com duração de 18 meses, é gratuito, e as aulas presenciais são realizadas no período noturno na Fundação Coopercitrus Credicitrus, em Bebedouro, SP. Ele é indicado para jovens e adultos com Ensino Médio completo que vivem e trabalham no campo ou desejam dominar procedimentos de gestão e de comercialização do agronegócio. Para participar, os interessados devem passar por processo seletivo, que acontece duas vezes ao ano, em junho e dezembro.
Saiba mais sobre o Curso Técnico em Agronegócio da ETEC pelo site https://www.etecbebedouro.com.br/cursos/tecnico/agronegocio
Dicas importantes para implantar a gestão econômica
Separe as contas pessoais das profissionais
Entenda que as finanças pessoais e as contas da fazenda são diferentes. Isso possibilita a correta visualização da saúde financeira do seu negócio e sua evolução a longo prazo.
Estabeleça um pró-labore
Estabeleça um salário mensal e transfira esse dinheiro para sua conta pessoal para, por exemplo, pagar contas e fazer compras, ou seja, fazer aquilo que não tem relação com o seu negócio, mas com o que você precisa para se manter.
Não use dinheiro de uma conta para cobrir a outra
Evite usar o dinheiro do caixa da empresa para custear despesas de sua vida pessoal. Com isso, você visualizará melhor os lucros, podendo investir cada vez mais no negócio.
Faça um planejamento financeiro
Liste todos os seus gastos, assim como as entradas e saídas. Com essas informações, é possível traçar as estratégias mais assertivas para conseguir atingir os objetivos. Conhecendo as projeções de entradas e saídas, você poderá comparar melhor os resultados de cada período, planejar novos investimentos, programar a compra de insumos para as melhores épocas, entre outras decisões da sua atividade rural.
Crie uma reserva de emergência
Esteja preparado para todos os cenários possíveis e proteja a atividade rural. Tenha uma reserva para garantir o dinheiro necessário caso surja algum imprevisto.
Utilize ferramentas ajudar no controle Invista em ferramentas para que a sua gestão seja feita de maneira eficiente. Planilhas de Excel são fáceis de operar e facilitam essa organização. Com o avanço da tecnologia, existem diversos aplicativos e sistemas especializados para a gestão rural.