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Gestão na Propriedade Rural: Revisitando os desafios da sucessão familiar

Sucessão Familiar
Por: Viviani Lírio

A sucessão familiar é o processo pelo qual uma empresa é transmitida de uma geração para outra dentro da mesma família. No caso do agro, trata-se da transmissão de uma propriedade rural, de uma agroindústria ou de uma empresa agropecuária de maior escopo para os descendentes, e esse esforço sucessório constitui-se mais uma regra de conduta do que uma exceção. Para Mendonça (2021)[1]o processo de transmitir a gestão de seu negócio para um (ou mais herdeiros) é algo muito comum no agronegócio brasileiro, pois grande parte das fazendas são negócios familiares.”

De fato, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), cerca de 90% das empresas no Brasil seguem o modelo familiar e no meio rural isso é ainda mais evidenciado.[2] Mesmo assim, nesse contingente de organizações e negócios, de acordo com a Pesquisa Global de Empresas Familiares[3] apenas 19% dos empreendimentos familiares têm um plano ou uma “estratégia” de sucessão.

Dada a relevância dessa temática, em julho de 2022 tivemos a oportunidade de produzir um breve escopo de reflexões intitulado “A família, os sonhos e os negócios: os desafios da sucessão familiar”. Naquela ocasião, foram apresentados dados nacionais[4] que sinalizavam para a conhecida, e preocupante, dificuldade em traçar caminhos viáveis para a sucessão dos negócios no campo. Neste último ano, o cenário pouco se modificou.

Isso ocorre porque um dos maiores desafios da sucessão familiar deriva do fato de que, para que o processo aconteça, é preciso que se permita um fluxo gradual, porém contínuo, de transparência completa, de transferência de responsabilidades, de controle decisório, de gestão de recursos e de todas as demais ações relacionadas às atividades do negócio rural. Esse movimento não possui caráter estritamente gerencial ou financeiro; envolve questões culturais, sociais e emocionais, que podem, se não forem manejadas adequadamente, comprometer seriamente a sucessão. Disso resulta a necessidade imperiosa de pensar-se a respeito do tema e planejar o movimento sucessório. Como já pontuado no artigo anterior,

Organizar a governança familiar exige pragmatismo e objetividade, ao mesmo tempo em que cobra o enfrentamento de sonhos eventualmente acalentados ao longo de muitos anos. A observação das habilidades e qualificações de potenciais sucessores; a identificação de pontos nevrálgicos na linha sucessória; e, acima de tudo, o planejamento da sucessão com a gradual cessão de controle precisa ser incorporado como ações administrativas concretas. (LIRIO, 2022).

Pensar sobre sucessão envolve refletir sobre questões muito particulares, pois envolve a continuidade do negócio. Mais que isso, o planejamento desse processo tem motivações importantes e profundas, que vão desde o respeito aos valores que nortearam o surgimento da empresa, passando pela preservação de valores, revisão da organização familiar, entre outros aspectos. Nesse contexto, o papel do antecessor, daquele que inicia o processo de cessão do controle e gestão, é fundamental, pois ele emite sinais de apoio ou resistência, participação ou contraposição. Nesse sentido, há muitos aspectos a serem considerados, dos quais três serão aqui destacados: inclusão, união e comprometimento (Figura 01)

A inclusão dá-se de parte a parte, no momento em que o antecessor participa ativamente do processo sucessório, bem como permite e estimula a atuação do seu sucessor, independente do modelo de transição escolhido. Esse movimento acolhe, instrui, organiza e aproxima as pessoas, favorecendo a fluidez e garantindo a existência do segundo aspecto, a união. A união precisa estar no cerne das reflexões ao longo desse cometimento. Independentemente das naturais distinções nas posições, as ações devem ser em direção ao consenso, ou, ao menos, à convergência. Por fim, o comprometimento deve ser mentido no foco das atenções e intenções, já que se trata de um longo percurso, com percalços naturais. A sucessão é um processo natural e inevitável. Coordená-lo de maneira assertiva é a melhor forma de garantir seu êxito.


[1] Mais informações em https://www.siagri.com.br/sucessao-familiar-no-agronegocio/

[2] Artigo completo em https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ms/artigos/pais-e-filhos-os-desafios-e-valores-entre-geracoes-de-empreendedores,f646cf80c782c710VgnVCM100000d701210aRCRD

[3]https://www.pwc.com/gx/en/services/family-business/family-business-survey.html#content-free-1-49ff e https://www.pwc.com.br/pt/publicacoes/setores-atividade/assets/pcs/pesq-emp-fam-14.pdf

[4] Resenha sobre o estudo pode ser encontrada em https://opresenterural.com.br/estudo-revela-como-esta-a-sucessao-familiar-no-agronegocio/

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