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Inovação e conectividade no agronegócio brasileiro

Colaboração de:

Viviani Silva Lirio

A inovação surge a partir de uma inteligência’. A frase, proferida pelo professor Anderson Amendoeira Namen[1] em meio a um debate coordenado sobre o agronegócio brasileiro, abre as portas para um tema tão amplo quanto fundamental, em termos de reflexão e aplicação no agro: a relevância dos processos inovativos e seus desdobramentos positivos para um dos mais relevantes setores da economia nacional. Nas últimas décadas, são visíveis os saltos inovativos no agro brasileiro. Em poucos anos – se considerarmos como referência a década de 1990 – foi introduzido o uso de GPS e da agricultura de precisão, além das transformações focadas na sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos processos produtivos (agricultura 3.0), tudo isso sendo acompanhado, em paralelo, pelo crescimento da digitalização (acréscimos da agricultura 4.0) e da automação (agricultura 5.0), envolvendo robótica e inteligência artificial (IA), por exemplo.

No âmbito destes debates, em janeiro de 2021 a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) produziu uma reflexão sobre a importância da tecnologia e conectividade para o agro brasileiro[2]. O artigo, que abre suas considerações em meio aos desafios da Pandemia por Covid-19, ressalta a informação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de que das aproximadas cinco milhões de propriedades rurais brasileiras, cerca de 70% não estão conectadas. De acordo com o artigo, apesar das disponibilidades de acesso via celulares e smartfones (mais de 90% dos produtores afirma possuir os equipamentos), a simples posse não assegura a efetividade do processo de conectividade no agro. Ademais, de acordo com dados do Ministério da Agricultura Agropecuária e Abastecimento (MAPA) para o ano de 2021, menos de 30% das propriedades ruais do país estavam com cobertura de rede, seja por meio de rádio, satélite ou rede 3G[3].

O Brasil é uma potência na produção agro, cuja ampliação e inserção qualificadas está diretamente relacionada à capacidade de inovação, internalização desses processos inovativos e conectividade. O tema é de tal pertinência que o próprio MAPA possui uma área especificamente destinada à conectividade rural. Para Sibelle Silva, à época das discussões já referenciada representante do MAPA para tais questões, o desafio, além da ampliação e enraizamento dos processos é, de fato, o uso da conectividade como elemento democratizador de acessos. Ou seja, para além dos ganhos em redução de custos, aumento da produtividade e consolidação de práticas sustentáveis, é importante que o movimento conectivo seja integrador e inclusivo. A esse respeito, Dias (2022)[4] ainda destaca que o acesso da internet (em sua plena aplicação) às regiões de produção agrícola “tende a aumentar a eficiência do setor, bem como atrair novos talentos e ajudar a promover s sustentabilidade”, além de permitir a geração de novos postos de trabalho. Ademais, não se pode perder de vista o impacto da conectividade sobre a eficiência, já que a tendência é de aumento do uso de tecnologias integradas de produção e gestão.

Todavia, se, de um lado, são visíveis os ganhos advindos de uma agricultura mais eficiente e precisa, por outro, existem desafios importantes, como aliar a capacidade estrutural disponível no meio rural (redes de transmissão, ampliação de fornecimento de sinal, qualidade de equipamentos etc.), sem que isso amplie os custos de produção. Em outras palavras, é preciso balancear para que os investimentos a serem realizados não ultrapassarem a retração de custos advindos da eficiência nos processos e o aprimoramento da gestão e na tomada de decisões, além dos acessos mercadológicos advindos da rastreabilidade e melhoria da qualidade. É preciso conhecer, investir, aplicar-se e abrir-se aos aspectos inovativos e conectivos, mas de maneira consistente e coordenada, de modo que seja possível absorver os potenciais ganhos advindos desse processo.


[1] Doutor em Engenharia de Sistemas pela Coppe/UFRJ e engenheiro de computação pela PUC-RJ.

[2] O artigo, na íntegra, pode ser encontrado em https://www.sna.agr.br/cerca-de-70-de-cinco-milhoes-de-propriedades-rurais-no-brasil-nao-tem-conectividade/

[3] Informações complementares sobre este tema podem ser encontradas na obra Cenários e perspectivas da conectividade para o agro, produzido pelo MAPA em 2022, e disponibilizado no endereço https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inovacao/ruralconectado/livro

[4] Dias, E. O poder da conectividade para o agronegócio brasileiro. Disponível em https://www.agtechgarage.news/o-poder-da-conectividade-para-o-agronegocio-brasileiro/#:~:text=Um%20dos%20aliados%20do%20agroneg%C3%B3cio,existiam%20antes%20da%20sua%20chegada.

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