A citricultura passou, nos últimos anos, por um aumento da produtividade em grande parte como resposta às pressões de mercado e aos desafios fitossanitários, como o manejo de cobre em pomares de citros, que exigiram otimização de investimentos, maior uso de insumos como corretivos e fertilizantes e aumento da eficiência do manejo cultural das plantas no campo.
Com isso, a citricultura destacou-se na agricultura brasileira, por sua capacidade de inovação e inteligência da produção, que encontra, nesse binômio, oportunidade para estabelecer pomares produtivos, com qualidade e sustentáveis.
Assim, para cada desafio, uma reação!
E entre os vários desafios enfrentados pelos citricultores, a aplicação de cobre (Cu) às plantas, como nutriente ou como defensivo para o cancro cítrico, aparece como uma prática a ser equacionada.
Primeiro, porque o cobre é um nutriente importante para os citros. Destaca-se que a sua deficiência ocorre geralmente em pomares plantados em solos com baixa fertilidade, e/ou adubados com elevadas doses de fertilizantes nitrogenados (N). O excesso de N estimula o vigor da planta, em cuja condição a absorção de Cu pelas raízes não ocorre proporcionalmente, causando a deficiência induzida desse micronutriente.
Os sintomas visuais da deficiência de cobre nos pomares jovens são caracterizados pela formação de ramos longos e tortuosos, formação de bolsões ocos que se rompem causando exsudação de goma, prejudicando o transporte de seiva. Em geral, as folhas de plantas deficientes são maiores, possuem nervuras mais slientes e o limbo foliar desenvolve-se irregularmente (Figura 1).
Além do seu uso como nutriente, o cobre é aplicado nos pomares como defensivo, dado o seu efeito protetivo a doenças foliares e de frutos. Exemplo disso é o cancro cítrico, cuja aplicação de bactericidas contendo cúpricos é uma medida utilizada para controle, onde a doença é endêmica. Outras práticas, como plantio de cultivares de citros resistentes ou menos suscetíveis à doença, uso de quebra-ventos e controle do minador dos citros, têm sido associadas ao controle da doença no campo. Mesmo assim, a tendência de manejo dos pomares mostra várias aplicações ao longo do ano, muitas vezes em número e doses excessivas de cobre. Daí, parte do nutriente aplicado ao pomar é depositada no solo, onde, dadas a diversas reações, acaba disponível para a absorção pelas raízes.
Então, se melhorar a eficiência de manejo dos pomares é importante para produção, qualidade e sustentabilidade da citricultura, o citricultor deve estar atento a essas duas questões.
A aplicação foliar de cobre é suficiente para a nutrição da planta, uma vez que as quantidades requeridas pelas plantas são pequenas. Pode ser realizada com uso de sais solúveis, como sulfato de cobre, nitrato de cobre ou cloreto de cobre. Ainda, a mistura de sulfato de cobre e hidróxido de cobre tem se mostrado eficiente no manejo dos pomares, cujas doses podem variar de 1,5 a 3,0 kg ha-1 de cobre por ano, tendo-se o cuidado que concentrações altas na calda podem causar queima nas folhas ou manchas foliares quando em misturas com óleos.
A aplicação via solo é pouco eficiente na maioria dos pomares do cinturão citrícola, uma vez que altos teores de argila e matéria orgânica promovem adsorção do cobre e, por consequência, limitam a disponibilidade do nutriente para absorção pelas plantas.
O fim do programa de erradicação do cancro cítrico, em 2017, possibilitou a regulamentação do manejo da doença como uma estratégia oficial. Esta mudança, associada ao aumento da incidência de cancro cítrico, fez com que o número de aplicações e as doses acumuladas de cobre nos pomares aumentassem drasticamente. Isto causou sua maior deposição no solo e acelerou o acúmulo do elemento a níveis excessivos nas plantas cítricas. Em regiões que manejam a doença há mais tempo, foi comum a aplicação de até 30 kg ha-1 de cobre metálico por ano.
Os impactos do excesso de cobre no solo sobre os citros não são facilmente identificáveis e podem demorar a se manifestar, uma vez que causam danos, em especial, às raízes prejudicando o crescimento das árvores e produção. Além disso, em viveiros, o excesso de Cu é relacionado à deficiência de ferro (Fe) em folhas, dada a redução da absorção e do transporte para a parte aérea, além do fendilhamento da haste das mudas, extravasamento de goma (seiva) e seca de folhas e ramos.
O cobre é absorvido tanto pelas raízes como pelas folhas, sendo acumulado no órgão que recebeu diretamente a aplicação do metal. Dada a deposição do metal no solo, resultante das aplicações de defensivos cúpricos no pomar, as raízes podem acumular níveis excessivos, não revelados pela análise química foliar.
Desta forma, o uso racional dos defensivos cúpricos na citricultura é necessário. Por isso viu-se a busca da pesquisa para a racionalização do uso desse defensivo nos pomares, cujos resultados demonstram ser possível manejar a doença com sucesso utilizando anualmente menos de um terço daquela quantidade do metal. Além disso, o ajuste da dose de Cu em função do volume de copa das plantas tem possibilitado uma redução substancial da sua aplicação sem interferir na qualidade do controle da doença. Também, a integração dos manejos de doenças controladas com Cu, como pinta preta, tem contribuído para o uso racional e sustentável do defensivo na citricultura, cuja pauta tem sido tratada pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
Além de seguir as melhores práticas de defesa dos pomares, o manejo de nutrientes no campo é um aliado importante do citricultor para minimizar os possíveis danos causados pelo excesso do metal e garantir a manutenção do potencial produtivo do seu pomar.
Da mesma forma, o Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM/IAC) tem buscado destacar que a correção da acidez do solo, com o uso de calcário, reduz a disponibilidade do Cu para as raízes pelo aumento do pH do solo.
Ademais, pesquisas do CCSM/IAC demonstraram que o suprimento de cálcio (Ca) e fósforo (P) contribuem diretamente para a redução do excesso de cobre em laranjeiras por promoverem a estruturação dos tecidos das raízes, que ficam mais resistentes aos danos causados pelo acúmulo tóxico do metal. Tecidos íntegros limitam a entrada do metal na planta e evitam maiores concentrações de Cu nas raízes, como também nas folhas e flores, partes que recebem diretamente as aplicações frequentes dos defensivos cúpricos.
Também, o suprimento adequado de N contribui para reduzir os efeitos do excesso de Cu, favorecendo o crescimento dos citros e aumentando a atividade do sistema antioxidante da planta. Não obstante a tantos resultados positivos das adubações adequadas, o uso de braquiárias para cobertura do solo, na entrelinha dos pomares, aliada à roçadeira ecológica, que deposita a palha cortada para a linha de plantio sob a copa das árvores, forma uma barreira que limita o aumento do Cu no solo ao longo dos anos (Figura 2). Essa pratica aonda favorece a manutenção ou aumento da matéria orgânica do solo, que imobiliza o Cu e reduz a absorção pelas raízes.
De fato, pesquisas respondem questões que desafiam a boa produtividade e qualidade de frutos na citricultura. Cabe ao citricultor observar e adotar as melhores práticas de manejo, com o emprego racional de defensivos e a manutenção da boa fertilidade do solo dos pomares.
Destacam-se nesta matéria os projetos de pesquisa realizados com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Fundação Agrisus, e a colaboração das equipes de trabalho do Instituto Agronômico (IAC) e do Fundecitrus.
Dirceu Mattos Jr. é Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador Científico e Diretor do Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM/IAC), Cordeirópolis – SP; colaboraram nesta matéria, Rodrigo M. Boaretto e Fernando A. Azevedo (CCSM/IAC).