Tempos atrás, as principais pragas destas duas culturas perenes tão importantes para o agronegócio brasileiro estavam relativamente tranquilas no tocante ao controle químico. No café eram Bicho Mineiro do Café (BMC), que foi detectado no Brasil em 1869, e a Broca do Café (BC), em 1924. Nos citros, anos 70 e início dos anos 80 as principais pragas eram os Ácaros da Leprose dos Citros (ALC) e da Ferrugem dos Citros (AFC).
As do café eram controladas com clorados DDT, BHC, organofosforados e endosulfan (os dois primeiros persistentes, e último não-persistente no meio ambiente). Os dos citros eram controlados com acaricidas da época liderados pelo enxofre (ferrugem) e dicofol (leprose). Com a expansão de ambas as culturas, as pragas e doenças foram se agravando e hoje em dias novas tecnologias se fizeram presentes com destaque para os manejos biológicos.
Café
As duas pragas, BMC e BC, eram de difícil controle pois uma era minadora da folha, ficando exposta somente na fase adulta e a segunda ficava exposta somente na fase da fêmea adulta em trânsito, ambas para reprodução. Mas, as coisas pioraram quando, em 1970, a Ferrugem surgiu na Bahia, e o controle sendo preventivamente com cúpricos, estes provocavam desequilíbrios aumentando infestações do BMC e ácaros.
Foi aí que nos anos 70 e 80, chegou-se aos sistemas de MIP primeiro e MEP depois. Com o MIP veio o monitoramento e a amostragem, não só das pragas principais, mas também dos seus inimigos naturais. Ao mesmo tempo surgiram as biofábricas de microrganismos (formulações de qualidade de fungos) e macro (insetos benéficos como os Crisopídeos). Os cafeicultores poderão adotar o MEP que prevê o aproveitamento da ação natural da Vespa Brachygastra lecheguana, principal predador do BMC aliado com aquisição no mercado do crisopídeos. Essas duas táticas levam à diminuição do uso de inseticida para o BMC.
No caso da BC simplesmente será a aplicação do fungo Bovéria (Beauveria bassiana). Para melhor aproveitamento o cafeicultor que puder contar com um pragueiro próprio ou da Cooperativa, poderá saber em que talhão ou parte dele, a BC está com 3 a 5% de incidência e o BMC em 10 a 20% para aplicar o fungo e/ou liberar o crisopídeo, ambos obtidos em biofábricas. Com a inspeção, o cafeicultor saberá também o quanto do trabalho gratuíto da Vespa está ajudando na sustentabilidade ecológica do MEP da sua lavoura.
Citros
O MIP e depois MEP que se desenvolveu para as pragas dos citros era muito tranquilo até 1987 quando surgiu a CVC pelas cigarrinhas, mas ainda era possível manter o sistema, pois a bactéria habitava o floema, contra o fluxo da seiva, a poda funcionava. A coisa piorou quando em 2004 surgiu o Greening (HLB), fazendo com que a grande maioria dos citricultores dispensassem a inspeção e passassem a usar os calendários de aplicação de inseticidas de largo espetro de ação visando tolerância zero ao Psilídeo Diaphorina citri e à Bacteria Candidatus Liberibacter asiaticus, e com isso, manter a produtividade citrícola alta como está até hoje.
O calendário é necessário, mas esbarra num dos princípios mais significativos do manejo de resistência que é a rotação dos grupos químicos segundo o modo de ação das moléculas no corpo do inseto. Não há moléculas suficientes para uma rotação anual que seria o ideal. Então o que sugerimos é a introdução do controle biológico no calendário e retorno da inspeção total das pragas no talhão. Controle biológico via fungos à base de Isaria fumosorosea. Inicialmente em mistura com químico (resguardada a compatibilidade), depois em doses menores do químico, lembrando que o biológico pode ser usado repetidamente que não causa resistência, como os químicos.
Tanto ao Psilídeo como às outras pragas, pesquisas mostraram que nas misturas de inseticidas com fungos existe um sinergismo negativo entre ambos, ou seja, o início da infecção do fungo, se bem tecnologicamente pulverizado sobre a população da praga é facilitada e se tiver resistente, a resistência pode ser isso anulada. Já há evidências de que produtores de citros que agregam maior eficácia quando associam biológicos ao convencional químico da fazenda. Um relato na produção de milho utilizava-se 8 pulverizações quando era só químicos, associando-se com um biológico à base de fungo reduziu-se para 4.
Um vizinho que fazia igual decidiu-se para usar só biológico e obteve o mesmo resultado do relator que continuou com a mistura com o químico. Assim a participação dos biodefensivos vai sendo aumentada em relação ao químico e a sustentabilidade ecológica também.
Colaboração de:
Santin Gravena