Em mais um ano, a Feira Internacional de Tecnologia em Ação de Ribeirão Preto (SP) – a Agrishow 2023 – foi um sucesso. Nos 5 dias de evento, reuniu mais de 195 mil visitantes e gerou R$ 13,3 bilhões em negociações, resultados que exprimem o quanto a busca por tecnologia e inovação, pelo agricultor brasileiro, tem se intensificado, como principal estratégia para aumentar a eficiência, reduzir custos e ter maior rentabilidade.
As soluções tecnológicas no setor vêm para auxiliar os diversos elos do sistema agroindustrial a abastecer uma população global crescente, mitigar o impacto climático e reduzir o uso de recursos naturais. Essas novas técnicas e ferramentas melhoram não só a produtividade, mas também reduzem os custos, aumentam a sustentabilidade da cadeia e trazem transparência para as atividades. Consequentemente, contribuem para a melhoria da qualidade e segurança dos alimentos.
Atualmente, podemos dizer que o agronegócio e a tecnologia são intimamente interligados. Essa relação desempenhou um papel importante na modernização do setor agrícola e pecuário, e ainda pretende aprimorar diversos aspectos da produção em prol da busca essencial e contínua por melhores práticas dentro e fora do campo. É possível observar a transição de uma ideologia tradicional de crescimento econômico atrelada somente a lucro, para estratégias mais ecológicas e conceitos que levam em consideração o impacto das atividades na natureza.
Vamos ilustrar essa evolução com alguns dados? A produção de grãos cresceu aproximadamente 4,5 vezes nos últimos 30 anos, saindo de 68,2 milhões de toneladas no início dos anos 90 para quase 314 milhões de toneladas na safra 2022/23, em andamento, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Nesse período (de 1993 a 2023), a área plantada cresceu em proporção menor, de 2 vezes, isso sem contar que hoje fazemos duas ou até três safras em uma mesma área. Isso só foi possível por conta do aumento na produtividade de 111% no período; ou seja, estamos produzindo mais do que o dobro na mesma área.
Na pecuária de corte, a produtividade cresceu incríveis 162,5% no período de 1990 até 2020, de 1,6 para 4,2 @/ha/ano, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes). Enquanto isso, a área ocupada por pastagens caiu de 191,3 para 165,2 milhões de hectares, uma redução de quase 14%, que possibilita a liberação de espaço para a agricultura sem a abertura de novas áreas.
Inúmeras foram as tecnologias que contribuíram para esse cenário, destacamos cinco: 1) a agricultura de precisão (uso de satélites, drones, sensores e softwares para mapear e diagnosticar as condições das lavouras de forma a utilizar apenas o necessário de insumos e defensivos agrícolas); 2) a biotecnologia e engenharia genética (desenvolvimento de plantas e animais mais resistentes pragas, doenças e condições ambientais adversas); 3) a agricultura digital (tecnologia da informação e inteligência artificial para ajudar os agricultores a gerenciar suas operações e tomar decisões sobre o manejo e gestão baseadas em dados); 4) automação e robótica (robôs e sistemas automatizados que reduzem a necessidade de mão-de-obra e aumentam a eficiência das operações); e 5) a rastreabilidade (uso de blockchain para reunir informações sobre a origem e o destino dos produtos).
O crescimento dessas novas soluções pode ser observado nos resultados do levantamento feito pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em conjunto com as consultorias SP Ventures e Homo Ludens que mostrou um panorama das startups de tecnologia voltadas ao setor do agronegócio. O “Radar Agtech Brasil” revelou, ao final de 2022, que nosso país possui 1.703 AgTechs, quase 290% maior do que há cinco anos. Além disso, o último ano foi o mais próspero para essas empresas em volume de investimentos, chegando a US$ 200 milhões, o dobro do valor registrado em 2021.
Não há dúvidas de que a tecnologia veio para ficar. À vista disso, uma nova era já está sendo estabelecida no mundo do agronegócio, é o que chamamos de Agricultura 6.0, uma proposta de agricultura integradora que se aprofunda ainda mais no desenvolvimento sustentável com o uso de tecnologias que permitam o uso racional dos recursos do planeta.
Diante de um contexto onde os preços das principais commodities do setor seguem “morro abaixo” e os custos de produção ainda são um desafio no campo, o controle preciso dos gastos e o uso eficiente de insumos, unidos aos ganhos de produtividade das lavouras, constituem a melhor estratégia para otimizar os resultados. O caminho para isso? Investir em tecnologias e inovações que possibilitem estas melhorias.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA-RP/USP.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group e aluna de mestrado na FEA-RP/USP com formação em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP.