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Os avanços e soluções da Agricultura de Precisão

Em um cenário de demanda crescente por alimentos, fibras e energia, além da necessidade do uso cada vez mais responsável de recursos naturais, o agronegócio enfrenta um ambiente desafiador e exige respostas eficientes e imediatas. Somada a isso, a urbanização promoveu mudanças no comportamento do consumidor que direcionam o mercado para novas preocupações e soluções. Alguns exemplos são o desenvolvimento da biosseguridade, rastreabilidade, produção carbono zero, bem-estar animal e outras tendências. Felizmente, a agricultura digital e de precisão possui diversas soluções que permitem incrementar a produção com maior eficiência no uso de insumos, pois oferece um conjunto de ferramentas e tecnologias que possibilita ao produtor rural gerenciar sua lavoura de forma localizada, considerando as características únicas de cada área para otimizar processos e podendo atingir um maior retorno econômico com redução de impactos ambientais.

Ao final de 2024, a Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa, em parceria com outras instituições, lançou o livro “Agricultura de Precisão: Um Novo Olhar na Era Digital”, trazendo um panorama sobre esse tema e destacando uma variedade de aplicações práticas. No livro, os pesquisadores destacam que o conceito de agricultura de precisão (AP) se consolidou nos anos 90 no Brasil, impulsionado pelo surgimento da prestação de serviços no agro. Foi esse modelo de negócios que possibilitou as primeiras inserções digitais no campo e, desde então, vem desenvolvendo e aprimorando tecnologias para alavancar os resultados nas propriedades agrícolas. Conforme a definição dada pela Sociedade Internacional de Agricultura de Precisão (ISPA), a AP consiste, de forma primordial, em uma estratégia de gerenciamento, em vez de um simples conjunto de ferramentas tecnológicas. No entanto, no cenário atual de boa parte do agronegócio, a disseminação em grande escala da AP ainda depende de recursos tecnológicos, como equipamentos, automação, robótica, ciência de dados, inteligência artificial e muitas outras facilidades digitais.

As diversas soluções da agricultura de precisão permitem que um grande volume de dados seja coletado dentro de um espaço-tempo mais específico, ou seja, em magnitudes menores como centímetros e segundos, trazendo maior precisão às análises. Assim, os dados podem ser devidamente combinados e integrados em sistemas que irão processá-los por meio de modelos computacionais avançados, resultando em informações direcionadas para uma tomada de decisão mais assertiva. Esse processo pode ser feito com o aprendizado de máquina — conhecido como machine learning — que utiliza redes neurais convolucionais (CNN) e inteligência artificial (IA) para processar, reconhecer e classificar imagens.

A agricultura de precisão e digital tem um leque enorme de possibilidades. Para culturas anuais, por exemplo, os mapas georreferenciados com índices de vegetação (NDVI) permitem avaliar o vigor das plantas com o auxílio de algoritmos de inteligência artificial, o que possibilita ajustar de forma mais precisa a adubação mineral (NPK) e efetuar o controle de pragas. Já em culturas perenes, tecnologias como poda mecanizada, armadilhas para pragas, telas de proteção contra eventos climáticos extremos, recomendações fitossanitárias e soluções voltadas ao aumento da produtividade são destaques. Na pecuária de precisão é possível automatizar o manejo de alimentação e ordenha, além de identificar e monitorar a saúde de cada animal por meio de imagens capturadas por drones ou câmeras termográficas.

É notável o avanço da agricultura de precisão no Brasil. Mesmo assim, alguns desafios ainda precisam de atenção, como a identificação e o manejo da variabilidade espacial, a adoção de novas tecnologias digitais (sensoriamento, grandes bancos de dados, IA), a capacitação de profissionais e a integração de sistemas. Aspectos como alto custo inicial, falta de mão de obra qualificada, dificuldade de acesso à internet e incompatibilidade entre equipamentos podem dificultar a adoção dessas tecnologias. Por outro lado, a tendência é que, com o aprimoramento tecnológico e a difusão do conhecimento, a agricultura de precisão se torne cada vez mais acessível e sustentável, trazendo maior eficiência para o agro brasileiro.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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