Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Vinícius Cambaúva
Beatriz Papa Casagrande
O ano de 2022 foi marcado por diversos desafios no agronegócio. A elevação dos preços dos fertilizantes, o risco de indisponibilidade de insumos e as adversidades climáticas trouxeram bastante preocupação aos produtores rurais. Por outro lado, o setor mostrou resiliência frente aos problemas e continuou enfrentando a conjuntura desfavorável com grande êxito.
Para ilustrar esse contexto, podemos citar o recorde no desempenho das exportações brasileiras neste ano. O valor acumulado até outubro superou o total negociado durante 2021 inteiro, com vendas de US$ 136,10 bilhões, representando um incremento de 33% em relação ao mesmo período do ano anterior (dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Mas quais serão as perspectivas para o próximo ano? E quais devem ser as particularidades enfrentadas na safra que se inicia?
A vantagem competitiva que o Brasil possui no cenário internacional ligada ao enorme potencial do país em suprir a demanda de produtos agrícolas tendem a continuar nos trazendo oportunidades dentro do setor. A estimativa de crescimento do PIB é de 2,7% em 2022, e, para o próximo ano, o Banco Central prevê um aumento de apenas 0,7%, puxado principalmente pelo setor agropecuário, que deve crescer 10,9% em 2023, segundo estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Em relatório divulgado pelo Rabobank, constatamos que os sinais dessa desaceleração já são visíveis atualmente pela ampliação da taxa de juros decorrente do momento inflacionário, o que aumenta o custo de crédito a empresas e consumidores e, por consequência, desestimula o consumo. Assim, o PIB deve desacelerar em função do conjunto de condutas adotadas para promover o controle econômico, da redução de medidas de estímulo e da desaceleração do processo de reabertura da economia.
Enquanto isso, as estimativas de produção de grãos são esperadas com altas expressivas, de acordo com dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento, que estimou um volume de produção de 313 milhões de toneladas para a safra 2022/23, apontando um aumento de 15,5% em relação ao resultado obtido no último ciclo. Isso significa que vamos produzir 42 milhões de toneladas a mais, gerando mais uma safra recorde. Tal crescimento decorre, principalmente, da expansão da área plantada de soja devido ao avanço da atividade agrícola em áreas de pastagens degradadas e também da sua melhor rentabilidade.
Em relação aos insumos, segundo estimativas do Rabobank, a safra 2022/23 obteve um crescimento significativo em custos operacionais, cerca de 45% para soja e 25% para o milho safrinha. O segundo foi mais favorável em razão de o período de compra dos insumos ter sido mais tardio, uma vez que pôde aproveitar o início da queda nos preços dos fertilizantes que estavam pressionando os custos morro acima. Para o ano de 2023, essa tendência deve continuar com perspectivas de boas margens para os agricultores, apesar dos custos mais altos. No entanto, é preciso sempre ficar atento a como a safra irá se desdobrar para que os valores e as margens possam ser consolidados.
No mercado de fertilizantes, o Rabobank estima que a entrega desses produtos aos agricultores deve somar 44,5 milhões de t em 2023, um crescimento de 4,1%. Os principais fatores que motivam esse comportamento são os preços mais baixos, o nível elevado nos estoques de passagem e a maior segurança em relação ao fornecimento/entrega dos fertilizantes. Apesar da alta, o consumo deverá ser inferior ao recorde registrado em 2021, que foi de 45,8 milhões de t.
Já os preços das commodities agrícolas também tendem a diminuir no próximo ano, tendo-se em vista que as principais economias que geram grandes demandas globais entrarão em recessão. O aumento nos custos de energia, mão de obra e diversos outros aspectos fizeram que os preços dos produtos agrícolas alcançassem níveis mais altos do que antes da pandemia, em torno de 50%. Por conta desse cenário em conjunto ao incremento na produção previsto para o próximo ano, as cotações devem ser pressionadas para baixo, contudo irão permanecer em altos patamares se comparados aos níveis históricos, segundo o Rabobank.
Além de todas essas projeções levantadas, a população global alcançou em 2022 a marca de 8 bilhões de pessoas e diversas regiões continuam com crescimento populacional (e econômico) acelerado. Esse cenário, junto ao aumento da renda per capita, desenha um expressivo incremento na demanda global por alimentos, fibras e energia, ao mesmo tempo em que discute formas de transição para modelos sustentáveis de desenvolvimento, reduzindo as emissões de gases e o desmatamento.
Enxergamos um ano de 2023 bastante favorável ao agronegócio brasileiro, especialmente se continuarmos nos reinventando e investindo cada vez mais em novas tecnologias, na busca contínua e incessante para o aumento da produtividade. O setor agropecuário do país terá (como sempre) um papel crucial, tanto no mercado agrícola global quanto no setor econômico nacional, sendo um dos principais pilares que sustentarão e impulsionarão o nosso desenvolvimento (pagar a conta de outros resultados negativos). Assim, a nossa visão é de que o Brasil irá “surfar nessa onda” para aproveitar as oportunidades e continuar se consolidando como grande fornecedor sustentável do mundo.
Marcos Fava Neves é professor titular, em tempo parcial, nas Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e na EAESP/FGV, em São Paulo, e especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA-RP/USP.
Beatriz Papa Casagrande é mestranda na FEA-RP/USP com formação em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP.