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Qual o futuro do mercado dos biológicos no Brasil?

Que a sustentabilidade e o agronegócio são grandes parceiros e trazem resultados positivos um para o outro, isto nós já sabemos. Mas você sabia que o agro brasileiro liderou um ranking como o país que mais adota práticas sustentáveis no mundo? De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria McKinsey, olhando apenas para o controle biológico, 55% dos agricultores do nosso país utilizam esse tipo de insumo nas propriedades, contra 23% na Europa, 6% nos Estados Unidos e apenas 4% na Argentina. Além disso, o Brasil também garante o primeiro lugar em outras técnicas importantes do ponto de vista ambiental, como o plantio direto na palha, culturas de cobertura, biofertilizantes, bioestimulantes e outras.

O setor de bioinsumos tem ganhado espaço na economia mundial nos últimos anos, e suas perspectivas de crescimento são bastante animadoras. Enquanto a taxa de crescimento global é da ordem de 15% ao ano, no Brasil, os produtos biológicos crescem a 28% no mesmo intervalo, quase o dobro do restante do planeta, segundo dados divulgados pela empresa Spark Smarter Decisions.

Outras organizações revelam um aumento ainda mais ambicioso: um estudo feito pela Croplife Brasil em parceria com a S&P Global analisou que somente no mercado de biodefensivos, estima-se cerca de R$ 3,3 bilhões em negociações na safra 2021/22, alta de 219% em comparação com a safra anterior. A pesquisa também ressalta que, no período entre 2018 e 2022, a taxa de crescimento anual dos biodefensivos atingiu 61,2%. Até 2030, o mercado de controle biológico deve chegar a valer R$ 17 bilhões.

Em 2022, os principais agentes de controle utilizados para combater nematoides nas lavouras foram os produtos biológicos. De acordo relatório da Kynetec, as vendas de bionematicidas representaram 75% do faturamento do setor no ano passado. Da mesma forma, a indústria já está prevendo pelo menos três grandes avanços para os bioinsumos, são eles: a entrada dos bioherbicidas; os biofungicidas para o controle da ferrugem-asiática; e bioinseticidas para o manejo de percevejos. Muita pesquisa e desenvolvimento ainda são necessários para validar esses produtos em larga escala no campo, mas o futuro é promissor.

O uso dos insumos biológicos, além de representarem um enorme ganho ambiental, também são uma estratégia para reduzir os custos de produção. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o uso no controle biológico de pragas tem o potencial de economizar R$ 165 milhões por ano para o setor agrícola, enquanto a adoção dos inoculantes deixa de gastar U$ 13 bilhões anuais somente na cultura da soja. Somado ao fato de que esses insumos potencializam a proteção e nutrição das plantas, esses números também refletem os ganhos logísticos para o país, visto que quase a totalidade (97%) dos insumos biológicos comercializados no Brasil, são fabricados localmente.

Com o intuito de desfrutar do vasto potencial da biodiversidade brasileira e reduzir a dependência de insumos sintéticos obtidos de recursos minerais e processos químico-industriais no mercado internacional, o Mapa lançou o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB) em 2020. Este programa tem como principal missão ampliar e fortalecer a utilização dos insumos de origem biológica no Brasil, a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável e beneficiar o setor agropecuário. A iniciativa representa um passo fundamental no trajeto do setor, especialmente em um período de crescimento significativo e uma série de oportunidades em expansão.

Os bioinsumos surgem como um complemento importante aos insumos convencionais, possibilitando um manejo integrado e entregando resultados relevantes no campo. O compromisso futuro do Brasil de entregar alimentos, fibras e energia de forma segura e sustentável será, cada vez mais, aprimorado com práticas sustentáveis. Os bioinsumos se inserem como uma alternativa valiosa nesse contexto.

Colaboração de:

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness Scholl (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração pela FEA-RP/USP e Instrutor “In Company” na Harven Agribusiness School. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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