O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo. Junto com a China e a Índia, a produção somada dos três países corresponde a quase metade da produção mundial. O Brasil possui bom potencial de crescimento da produção, que têm limitado nacional pela ocorrência intensa de problemas fitossanitários e pelas oscilações de preços internacionais.
O método mais utilizado no manejo fitossanitário é o controle químico, com gastos médios de mais de um terço do custo total de produção. Assim, é muito importante usar técnicas menos onerosas na aplicação, eficazes no controle e seguras ao homem e ao ambiente.
Para as diversas situações de cultivo de frutíferas, desde as melancias até as laranjeiras, além da variedade de alvos, as recomendações exigem particularidades nas pulverizações para a boa prática da operação. Porém, o que se vê no campo é que ainda faltam técnicos que orientem o bom uso da tecnologia para se obter uma aplicação mais econômica.
De maneira geral, os profissionais da agronomia conhecem os alvos e dos produtos para controle, mas sabem pouco sobre as técnicas de aplicação, desde a maneira de preparar a calda fitossanitária até a calibração dos pulverizadores. Isso, associado à grande quantidade de produtores em áreas de pequeno porte, que demandam um número indisponível de profissionais para atendê-los, faz com que ocorram falhas frequentes durante as aplicações.
Ao se realizar uma pulverização é comum verificar que partes das plantas não recebem cobertura suficiente da calda. As pragas podem selecionar estas áreas para caminhar e se alimentar, tendo pouco ou nenhum contato com os produtos fitossanitários. Para diminuir a ocorrência destas falhas se utiliza tradicionalmente a aplicação de volumes altos, chegando ao ponto de escorrimento da calda que, por si, gera desperdício pelo excesso.
Isso ocorre porque é comum ter equipamentos antigos, mal dimensionados e mal calibrados e mal conservados para a cultura, prejudicando a distribuição suficiente e uniforme da calda sobre o alvo (Figura 1). O resultado é a necessidade de reaplicações constantes, com aumento dos custos e da contaminação ambiental. Infelizmente ainda são comuns perdas por escorrimento ou por deriva de mais da metade do volume aplicado. Se considerarmos o valor anual investido em produto teremos uma ideia dos prejuízos diretos resultantes desta prática carente de melhorias. E deve-se lembrar que o montante de “volume perdido” causa prejuízos indiretos devido às contaminações.
Mas como fazer a recomendação correta do volume de aplicação? Há quatro perguntas básicas a serem respondidas para auxiliar nesta decição. São elas: 1. Qual é o tamanho da superfície a cobrir? 2. Qual é o volume máximo que pode ser retido sobre as plantas? 3. Qual é o volume necessário para controle do problema fitossanitário? 4. Como deve ser a distribuição das gotas na área para que o alvo receba o depósito suficiente em quantidade e qualidade (uniformidade da cobertura) do produto fitossanitário? A consideração destas perguntas pode resultar em volumes de aplicação bastante diferentes. E realizar a calibração dos pulverizadores é de importância extrema para obter a melhor cobertura dos alvos pela pulverização.
Em relação ao que é necessário para o controle, podem ser empregados volumes baixos com sucesso, desde as gotas estejam em quantidade adequada e bem distribuídas. Diversos trabalhos já demonstraram em citros, uva e outros frutíferas, que é possível obter coberturas e controles suficientes com volumes de aplicação menores que 200 L/ha.
Na prática comum, porém são constatados volumes de aplicação geralmente acima de 1000 L/ha. Isso torna evidente a necessidade de ampliar o uso da tecnologia de aplicação para otimizar caldas de produtos utilizados quanto ao necessário para o controle dos alvos. Este desafio integra ações relacionadas a aplicação propriamente dita.
Desde a popularização dos pulverizadores com assistência ou cortina de ar, a partir de meados de 1930, houve grande evolução tecnológica, com modelos envolventes, com sensores e recursos eletrônicos, para operação remota ou mesmo autônoma dos equipamentos (Figuras 2 e 3). Mas de nada adianta esta tecnologia se não se prepara a calda adequadamente ou se não se seleciona o tamanho de gotas correto para o alvo a ser atingido.
Para as aplicações, há modelos de ponta de pulverização para a produção de gotas em tamanho que pode ser selecionado conforme a finalidade. Em fruticultura as pontas de pulverizações mais utilizadas são as de jato cônico (vazio ou cheio) para os tratamentos de fungicidas e inseticidas visando à copa das plantas e de plano para a aplicação de herbicidas.
As pontas de jato cônico são selecionadas por produzirem gotas finas e proporcionarem uma maior probabilidade de penetração através das folhas mais externas da copa. Além disto, a fragmentação do volume em gotas menores implica num grande aumento do número de gotas, que resulta em ganhos de cobertura mesmo sem aumentar o volume de aplicação. Com o posicionamento das pragas-alvo e o porte das plantas requerem mais cobertura, o aumento do volume de aplicação é alternativa onerosa e tende a ser substituída por técnicas mais apuradas na produção e deposição de gotas, inclusive pela melhoria dos equipamentos. Por outro lado, as gotas mais finas são também mais sujeitas à deriva e evaporação. Por isto requerem cuidados como o direcionamento adequado dos jatos de pulverização em relação ao caminhamento do equipamento e em relação às plantas, além de poderem necessitar de líquidos que reduzem a evaporação, como alguns adjuvantes.
Para a aplicação de herbicidas, a seleção de gotas visa tamanhos maiores, sobretudo pela menor necessidade de cobertura das plantas por esta classe de produtos. Associado a isto, a deriva de herbicidas resulta em danos bastante perceptíveis no entorno da aplicação, o que não é desejado pelos responsáveis pelos tratamentos fitossanitários. Neste cenário, surgiram e ganharam espaço a partir do início dos anos 1990 as pontas com indução de ar que formam gotas com bolhas de ar no seu interior e com diâmetro de gota muito maiores que os modelos de pontas convencionais. Estes modelos de ponta resultam diminuição da deriva, com menor influência de fatores meteorológicos sobre a duração e trajetória das gotas. Além disto, as gotas maiores carregam um maior volume de calda, com resultados bons na aplicação de herbicidas.
Em relação ao desgaste das pontas de pulverização é importante frisar que o seu período de substituição é variável e depende de material da ponta de pulverização; pressão de trabalho; e até da qualidade da água. Águas com muitos particulados são mais abrasivas e aumentam o desgaste das pontas. O desgaste e as substituições não dependem, portanto, de um período fixo e predeterminado de tempo, requerendo monitoramento da vazão e da qualidade do jato de pulverização. De maneira geral, recomenda-se a substituição sempre que houver algum dano irreversível à ponta, que implique em perda da qualidade da aplicação, ou quando a vazão atingir valores de 10% ou mais, em relação aos descritos nos catálogos dos fabricantes.
Atualmente já há máquinas equipadas com recursos eletrônicos capazes de monitorar condições durante a aplicação e controlar diversas funções dos pulverizadores, o que vêm permitindo avaliar e manter a qualidade das aplicações com maior precisão.
Entretanto, caso os ajustes não forem bem planejados e realizados nos equipamentos, a eletrônica não será capaz de corrigir falhas conceituais. Por isso, a matriz de responsabilidades deve estar bem estabelecida e endereçada, para que seja maior a eficiência e menor o risco associado à aplicação. A atividade direta a deste quesito é a calibração de pulverizadores, que tem por objetivo o controle econômico de pragas, doenças e plantas daninhas através da distribuição uniforme da quantidade exata de agrotóxicos sobre o alvo requerido.
Há uma vasta diversidade de calibrações possíveis para cada combinação entre culturas, alvos, fatores meteorológicos, produtos fitossanitários, técnicas e equipamentos de aplicação. É neste momento que as atenções com o manejo da cultura e os conhecimentos técnicos devem ser empregados para se realizar adequadamente o plano de ação de tratamento fitossanitário.
Considerando o conhecimento necessário para o tratamento fitossanitário, usar meia hora, em geral, para a calibração do pulverizador traz muito benefício. Erros na calibração são responsáveis por perdas devido à fito-intoxicação e a falhas no controle, necessidade de reaplicar, com desperdício de produto, de água, de tempo e contaminação ambiental.
Os principais parâmetros envolvidos podem ser identificados como sendo o volume de pulverização, a faixa aplicada, a velocidade de trabalho e as pontas de pulverização. Importante frisar que pela ponta de pulverização passa todo o valor investido em produtos. Portanto, este item deve ser de procedência idônea e de qualidade atestada para produzir as gotas necessárias para a cobertura do alvo, minimizando perdas por deriva e escorrimento. Pontas de pulverização de boa procedência normalmente possuem catálogos em seus pontos de comercialização com boas descrições sobre suas características gerais.
Na sequência, a calibração do pulverizador é bastante simples e direta, uma vez que é a observação de quantos litros de calda estão sendo aplicados, para se obter a cobertura necessária ao controle do alvo. Quando estiver tecnicamente suficiente, faz-se a medição da quantidade de volume aplicada numa determinada unidade de área ou planta.
Uma forma peculiar que merece destaque para a calibração de pulverizadores é a aplicação localizada, ou em faixas. Para melhor entendimento, está apresentado o exemplo no qual um produtor de citros possui uma barra lateral, acoplada ao trator, que trata uma faixa de 2,0 m, em cada lado da projeção da copa das árvores. Didaticamente, considere que todas as árvores estão no mesmo porte. Considerando um espaçamento da cultura de 6 x 3,5 (21 m2), qual a quantidade de herbicida a ser comprada para uma aplicação na área plantada 100 ha de uma fazenda, se a recomendação de dosagem do produto é de 2,5 L/ha? Se a sua resposta foi: 250 L, será muito importante ver com atenção aos cálculos a seguir.
A área ocupada por uma planta na fazenda é de 21 m2 (6 m entre linhas x 3,5 m entre plantas) mas área tratada por planta é de 14 m2 (2,0 m x 2 lados x 3,5 m). Portanto, da área da planta de 21 m2 trata-se 14 m2 com o herbicida. Então, em 10.000 m2 (1 ha), trata-se 6.667 m2. Ou seja, para os 100 ha da fazenda, com plantio de citros, considerando a aplicação com a barra lateral, serão necessários 167 L no total e não 250 L. Isto é porque dos 100 hectares da fazenda ocupados com as plantas, são tratados em cada aplicação somente 66,7 hectares. É muito importante entender a esta relação pois as recomendações dos herbicidas (e de outros produtos também) em geral são para a área tratada, que muitas vezes não é igual à área plantada. É um tópico que é recorrente, simples de entender, mas que gera muita confusão e excessos de aplicação no setor produtivo, com gastos desnecessários de recursos. Importante ficar atento.
A recalibração dos equipamentos é recomendada a cada mudança de formulação ou de dosagem dos produtos ou da situação de trabalho (equipamento, meteorologia, estágio de ocorrência da praga, idade da cultura). Também é adequado considerar uma margem de segurança de 3 a 5% nas aplicações, em função das adversidades que podem ser encontradas durante as operações, sem prejuízo do tempo para o trabalho.
Por fim, conforme legislação vigente, deve-se informar ao operador sobre como manusear os agrotóxicos e as medidas de proteção necessárias. Desde os procedimentos de preparo de calda, devem-se respeitar as boas práticas, utilizando a água em quantidade e qualidade adequadas, a sequência correta de colocação de produtos no tanque e a agitação bem dimensionada. Seguindo as orientações deste artigo, em geral o resultado esperado é de uma aplicação eficiente e segura.
Prof. Dr. Marcelo da Costa Ferreira
Departamento de Ciências da Produção Agrícola
UNESP, Campus de Jaboticabal