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Um líder à frente do cooperativismo goiano – Luís Alberto Pereira presidente do Sistema OCB/GO

O Presidente do Sistema OCB/GO revela sua visão estratégica para o futuro do cooperativismo, traçando um panorama das ações que impulsionam e fortalecem a competitividade das cooperativas.

Sob a liderança experiente de Luís Alberto Pereira, o Sistema OCB/GO se consolida como um agente de transformação social e econômica em Goiás, estado que pulsa com a força do agronegócio e, ao mesmo tempo, enfrenta os desafios de um mercado cada vez mais competitivo.
Engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Pereira acumula uma trajetória profissional de sucesso. Durante sua carreira, ocupou cargos de destaque na Secretaria da Fazenda de Goiás (Sefaz, atual Secretaria da Economia), como superintendente executivo, superintendente do Tesouro e da Receita Estadual.
A trajetória de Pereira no cooperativismo se entrelaça com a própria história do Sicoob Engecred, cooperativa de crédito que ele ajudou a fundar em 2001 e que hoje se destaca como uma das maiores do Centro-Oeste. Sua paixão pelo modelo cooperativista o levou a ocupar cargos de liderança em diversas entidades, incluindo a OCB nacional e o SESCOOP nacional.
Nesta entrevista à Revista Coopercitrus, Luís Alberto Pereira revela sua visão estratégica para o futuro do cooperativismo, traçando um panorama das ações que impulsionam o desenvolvimento do setor e garantem a competitividade das cooperativas goianas. Ele também fala sobre os desafios que o movimento enfrenta, as perspectivas para o futuro e a importância do cooperativismo para o agronegócio e os produtores rurais.

Coopercitrus – Conte como foi seu início no cooperativismo e o que te motivou a seguir essa carreira.
Luís Alberto Pereira – A minha entrada no cooperativismo se deve a um colega de faculdade, onde cursei Engenharia. No começo dos anos 2000, ele me convidou para participar de um projeto de uma cooperativa do setor de crédito para auxiliar os nossos colegas engenheiros no setor da construção civil. Não conhecia nada sobre cooperativismo, meu único contato foi ter feito uma reforma no prédio da OCB, em Goiás. Como sempre fui motivado a desafios, aceitei participar da criação desta cooperativa e tudo foi acontecendo. Ficamos um ano e meio, trabalhando com a documentação e tentando convencer outras pessoas a aderirem ao projeto e fui assumindo responsabilidade dentro da cooperativa com cargos no Conselho de Administração e, posteriormente, assumi a presidência. Quando era chamado para participar de algum projeto envolvendo o cooperativismo estava presente tanto no Central como na OCB estadual, sempre colaborando com o cooperativismo. Fui pegando gosto pelo cooperativismo e não foi planejado, tudo foi acontecendo e fui aceitando os desafios e estou aqui nesse privilégio de comandar o sistema cooperativismo goiano.

Coopercitrus – Quais são os principais benefícios que os produtores rurais obtêm ao se associarem a cooperativas? 
Luís Alberto Pereira – Fui convidado e aceitei sem entender o que era, e à medida que fui entendendo, vi o valor do cooperativismo. Na questão do crédito, foi um setor em que vi a oportunidade dos cooperados terem acesso mais fácil, com melhores taxas e um contato mais próximo de quem libera o crédito e administra a cooperativa. Além disso, há uma valorização maior do recurso aplicado e a grande vantagem das sobras – pagar taxas menores quando necessário e receber taxas maiores quando há disponibilidade financeira. Esse contato mais íntimo com quem administra e o retorno no final do ano são valiosos. Quando comecei a conhecer o cooperativismo agrícola, vi ainda mais vantagens pois percebi a oportunidade dos pequenos produtores ganharem escala. Um produtor individual de leite ou soja não consegue um bom preço no mercado; porém, ao unir-se a outros produtores, torna-se um player até internacional ou industrializa ou exporta seus produtos. O produto pode ser transformado em leite processado, manteiga, requeijão ou farelo. Ele pode sair da sua pequena produção para ganhar escala e agregar valor ao produto além do apoio que a própria cooperativa oferece com assistência técnica facilitando o acesso a implementos agrícolas. Depois de conhecer bem o cooperativismo agrícola percebi que todos os ramos têm mérito mas no agro é ainda maior por dar voz ao pequeno produtor proporcionando poder de barganha. Por isso mais da metade da produção agrícola passa por cooperativas, pois os produtores entendem a importância desse modelo de negócio.

Coopercitrus – O recente estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás revela que o cooperativismo impacta diretamente na vida de 1,5 milhão de pessoas em Goiás. Como você analisa esse impacto? Quais são os principais benefícios das cooperativas para a sociedade, na geração de empregos, no desenvolvimento econômico do estado, especialmente no setor agrícola?
Luís Alberto Pereira – Essa é outra vantagem para a sociedade do cooperativismo porque os recursos gerados pelas cooperativas ficam nas comunidades em que elas estão inseridas. É evidente que qualquer empresa e modelo de empreendedorismo, quando se instala numa cidade, gera empregos e renda. A cooperativa, além de gerar emprego e renda, mantém sua receita na cidade, não a envia para São Paulo, Nova York ou Hong Kong para ser aplicada em ativos ou bolsa de valores. Eles ficam distribuídos entre o padeiro, o mecânico, a escola, o material de construção. Quando vou a uma inauguração de uma cooperativa de crédito, comparo sempre com o banco tradicional. No banco, as pessoas depositam e ele fica com sua parte de lucros, mas isso não fica na cidade, geralmente vai para São Paulo, diferente da cooperativa de crédito, que deixa o lucro na cidade, beneficiando não apenas as pessoas que trabalham na cooperativa, mas toda a sociedade. Se todos soubessem desses benefícios, teriam conta numa cooperativa. Se temos 500 mil cooperados, eles não moram sozinhos e quase 1,5 milhão de pessoas são impactadas pelas cooperativas. Se não existissem as cooperativas, Goiás, São Paulo e o Brasil seriam mais pobres.

Coopercitrus – Na sua opinião, o que falta para o cooperativismo se fortalecer ainda mais no Brasil?
Luís Alberto Pereira – Conhecimento. As pessoas não enxergam o cooperativismo como ele realmente é. Elas talvez vejam apenas uma associação de pessoas unidas que não tem profissionalismo e não percebem a potência que representa. A nossa maior empresa de Goiânia é uma cooperativa. Muitos não reconhecem a pujança da Coopercitrus, e Credicitrus; em outras palavras, ainda não compreendem esse modelo de negócio, pensando que se trata apenas de um acordo entre compadres. No entanto, é um modelo de negócios sujeito aos desafios da economia atual. Atualmente, o agro enfrenta um grande desafio: os problemas climáticos. As cooperativas estão engajadas no mercado, mas esse modelo vai além do tradicional e muitos ainda preferem um banco convencional a uma cooperativa de crédito ou optam por assistência médica tradicional em vez de uma cooperativa médica. As pessoas ainda não conseguem visualizar os benefícios e o alto grau de profissionalismo que as cooperativas alcançaram. Hoje temos cooperativas em todos os níveis de maturidade e algumas concorrem igualmente no mercado.

Coopercitrus – Quais iniciativas e projetos você tem implementado no Sistema OCB/GO para fortalecer o cooperativismo e apoiar os produtores rurais?
Luís Alberto Pereira – Entrei na presidência da OCB Goiás em 2019, logo após a realização do 15º Congresso Brasileiro de Cooperativismo. Agora, este ano, teremos o 16º. Nesse Congresso, foram determinadas algumas diretrizes para o cooperativismo seguir. Fui prático, adotei as diretrizes que já eram eficazes, pois já haviam sido estudadas. Estou iniciando agora e focamos na inovação; algumas cooperativas foram para o Vale do Silício (região composta por 14 cidades ao redor da Baía de São Francisco na Califórnia, EUA, considerada o maior ecossistema de inovação do mundo) e uma comissão está se preparando para ir à China. Também focamos na comunicação, que não é apenas passar os conceitos filosóficos sobre cooperativismo, mas demonstrar sua pujança, nos fortalecendo institucionalmente a parte da representação, para termos mais vez e voz junto ao poder público e outras entidades. Queremos fortalecer a intercooperação; e temos muito a ser feito nesse sentido. As cooperativas sabem trabalhar o cooperativismo internamente mas precisam fazer isso entre si para agregar valor tanto às próprias cooperativas quanto à sociedade em geral.
Queremos atuar na governança tanto interna quanto das nossas cooperativas através do SESCOOP, levando as cooperativas a conhecer as novidades do mercado e participando de feiras não só de cooperativas, mas de atividades do comércio e visitas internacionais. Acabei de voltar da China em uma missão internacional e precisamos desbravar e levar as cooperativas juntas. Ainda temos poucas cooperativas com acesso ao mercado internacional e tem muitas cooperativas fazendo coisas boas, que o mercado externo tem interesse. É nessa linha que trabalhamos e considero que dentro dessas diretrizes gerais conseguimos nos aproximar mais das cooperativas. Pelo tamanho do nosso estado, as cooperativas que estavam mais distantes do nosso entorno sentiam-se sozinhas por não ter esse contato. Eu fiz um projeto de visitar todas as cooperativas de todos os tamanhos e foram mais de 17 mil quilômetros rodados, uma distância como se fosse daqui a China.
Queria conhecer a realidade de cada uma das cooperativas para dar subsídios a elas. Por isso, criamos os núcleos regionais e dividimos o estado em cinco regiões, além da região central, e inserimos analistas para estarem mais próximos dessas cooperativas, para levarem os nossos programas e trazerem as demandas. Acredito que isso tenha feito uma revolução, pois temos muitas cooperativas se regularizando na OCB, procurando o nosso apoio e aderindo ao nosso programa que chamamos de IncubaCOOP, que é ajudar cooperativas desde o nascedouro.
Temos parceria com o Sebrae, Senai, Sesc e com a Ocesp até mesmo para economizar recursos. Estamos aplicando aquilo que está no nosso DNA, que é fazer parcerias. Fazemos parcerias com outras entidades empresariais e com as secretarias do governo que trabalham com o empreendedorismo, geração de emprego e renda. Temos tentado abrir o Sistema para as pessoas conhecerem mais sobre o cooperativismo, não é fazer por fazer, é fazer para se obter resultados maiores. Queremos crescer o número do cooperativismo e temos a meta de chegar ao faturamento de R$ 50 bilhões em 2027 e estamos com R$ 30 bi, pois com a queda das commodities pode baixar o faturamento, mas podemos recuperar lá na frente.
Queremos crescer o número, dar condições e ajudar as cooperativas a alcançarem esse objetivo geral e também uma maior proximidade das cooperativas, alicerçando tudo isso nas diretrizes determinadas no nosso Congresso. Agora, com o 16º, deve mudar alguma diretriz e acompanharemos para ficarmos em consonância com o que o Brasil está fazendo.

Coopercitrus – Como você avalia a relação das novas gerações com o Cooperativismo?
Luís Alberto Pereira – Vejo as novas gerações bastante abertas para o modelo cooperativista. A culpa por eles não estarem nas cooperativas é nossa, dos mais velhos, porque não estamos conseguindo chegar até eles e, quando chegamos, damos poucas oportunidades. A renovação dentro das cooperativas é muito lenta; muitos, quando entram, querem participar e não querem ficar no papel de subalterno. Primeiro precisamos tocá-los e, segundo, dar oportunidades para eles participarem não só trabalhando, mas no processo de decisão e gestão. Se não tem mais jovens no cooperativismo, a culpa é nossa por não sabermos nos comunicar e também porque não temos dado espaço para eles dentro das cooperativas.

Coopercitrus – Qual é o seu conselho para os produtores rurais de Goiás?
Luís Alberto Pereira –
Primeiro, ser otimista. Hoje só se fala dos assuntos negativos: do El Niño, do preço da soja que caiu e dos preços dos insumos que estão altos. Mas nós precisamos ter otimismo de que temos problemas, mas também temos capacidade de inovar e procurar novos caminhos e alternativas. O segundo conselho é que os produtores se aproximem de uma cooperativa séria; eles vão ganhar muito com isso e também estimularão a cooperativa a se aproximar do Sistema que está estruturado para dar apoio às cooperativas para que elas possam apoiar seus cooperados. Temos apoio na parte institucional de defender as cooperativas e seus interesses e também na questão do Sescoop com vários cursos de qualificação e treinamento. Então é estar junto do Sistema, estar junto de uma cooperativa séria e ser otimista. As coisas ruins já sabemos que existem; então precisamos procurar alternativas para agregar valor ao nosso produto em vez de tentar vender tudo in natura ou procurar se unir para ganhar força. Juntos, pequenos produtores podem se tornar uma potência e temos exemplos no Sul, que são produtores independentes, mas operam juntos em algumas ações. A união define o cooperativismo e quanto mais união, mais parceria e mais resultado. A parceria é a soma de um mais um, que dá mais que dois. Sempre dá mais do que dois. Então, procurar ser parceiro um dos outros e as cooperativas uma das outras.


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