O amendoim vem despertando cada vez mais atenção entre os produtores rurais, motivados pelos bons preços, perspectiva de crescimento no mercado nacional e internacional, além de ser uma excelente opção para diversificação e rotação com a cana-de-açúcar.
Marco Antonio Martins, fundador e CEO da KBM Equipamentos Agrícolas, empresa especializada em máquinas para a colheita de amendoim, se destaca como um profundo conhecedor desse setor, somando mais de 15 anos de experiência.
Com o Brasil se destacando na exportação de amendoim, Martins ressalta que o apoio das cooperativas é essencial para que os produtores aproveitem as oportunidades e garantam um futuro promissor para a cultura, que continua a se expandir para novos mercados.
Coopercitrus – O amendoim é amplamente utilizado na rotação com cana-de-açúcar e outras culturas. Além dos benefícios agronômicos, quais são as vantagens financeiras e de longo prazo para os produtores ao incluir o amendoim nessa rotação?
Marco Antonio Martins – O amendoim está predominantemente no estado de São Paulo, com quase 90% da área plantada, e desse total, cerca de 80% são em áreas de rotação com a cana. A rotação do amendoim é muito interessante agronomicamente e financeiramente, especialmente quando comparada à soja. O custo do amendoim plantado é maior, com investimentos elevados em manejo e máquinas mais específicas. Por outro lado, a rentabilidade para o produtor geralmente é maior do que a da soja. Embora o manejo do amendoim seja mais exigente e seu ciclo, menos flexível, a cultura tem se expandido para outras regiões como Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, e não depende mais exclusivamente do estado de São Paulo, onde os custos de produção (arrendamentos) são mais elevados e há falta de áreas.
Temos dois contrapontos: o custo mais elevado e um manejo bem mais rigoroso em comparação à soja, especialmente em relação ao ciclo da cultura. A soja, por outro lado, é mais tranquila, enquanto o amendoim ainda carece de variedades mais precoces. Dito isso, o amendoim tem desbravado novas fronteiras, começando por Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Coopercitrus – Quais são os principais desafios enfrentados pelos produtores no cultivo de amendoim, especialmente em relação às condições climáticas e à falta de insumos?
Marco Antonio Martins – Às condições climáticas são um desafio em todas as culturas. Este ano, muitos produtores de soja com áreas irrigadas estão plantando ou arrendando áreas para amendoim. Será o plantio com a maior área irrigada na história, o que representa um avanço significativo, especialmente após as dificuldades climáticas do ano passado. O manejo do amendoim é mais complexo do que o da soja, com maior demanda por herbicidas devido ao fato de o amendoim se desenvolver abaixo da terra. Apesar disso, não estamos enfrentando falta de insumos, embora os custos tenham aumentado significativamente nos últimos anos. Sempre lembrando que, dentro do custo do plantio do amendoim, os dois fatores que mais pesam são arrendamento e sementes.
Coopercitrus – Quais tecnologias ou práticas inovadoras você acredita que têm mais impacto em aumentar a produtividade e reduzir custos no campo?
Marco Antonio Martins – Esse é um desafio, e todos os dias buscamos novidades. Neste ano, estamos inovando nos arrancadores, com foco em aumentar a produtividade e minimizar perdas. Como minimizar perdas e aumentar a produtividade? Utilizando o GPS no plantio, casando o número de linhas da plantadeira com o modo de arrancar o amendoim. Sugerimos que o produtor utilize um arrancador correto para cada situação, e desenvolvemos os módulos de 2, 4 e 6 linhas para garantir uma melhor performance no arranquio. Mesmo com o melhor manejo, ainda enfrentamos perdas de 10% a 15%, e queremos reduzi-las.
Trouxemos em 2010 o equipamento RIP STRIP, que faz o preparo localizado na linha de plantio do amendoim sobre palhada. No último ano, em razão do clima muito quente e sem chuvas, tivemos áreas de RIP STRIP com temperatura no solo cerca de 22 °C abaixo do preparo convencional. Além disso, é essencial escolher as variedades de ciclos curto, médio e longo, escalonando o plantio não apenas em função das chuvas, para que o amendoim não amadureça todo ao mesmo tempo. Caso contrário, o produtor não terá equipamentos suficientes para realizar a mecanização durante a colheita. Quem recebe o amendoim também precisa se programar para receber a matéria prima de forma escalonada.
Coopercitrus – O Brasil tem se destacado como um dos maiores exportadores de amendoim para mercados exigentes como a Europa. Quais são as principais exigências dos compradores internacionais? E como os pequenos e médios produtores podem se preparar para atender a esses requisitos?
Marco Antonio Martins – Essa é uma tarefa árdua, e estamos constantemente atentos a essa questão. A cadeia do amendoim precisa se movimentar em todos os aspectos, não só na exportação, para se fortalecer e obter o reconhecimento que merece. Fico muito contente em ver que, nos últimos anos, o amendoim se tornou protagonista. Um passo importante foi a criação da Câmara Setorial; depois veio a pandemia, seguida pela guerra entre Rússia e Ucrânia — região que mais compra amendoim do Brasil, representando cerca de 50% das exportações. Esses eventos forçaram o setor a sair da zona de conforto, buscando novas alternativas e mercados para escoar nossa produção.
Nesse contexto, a AbexBr (Associação dos Produtores, Beneficiadores, Exportadores e Industrializadores de Amendoim do Brasil) e a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas intensificaram os trabalhos e suporte à cadeia, promovendo ainda mais o amendoim brasileiro.
Temos uma produtividade muito boa e o produtor brasileiro é competente em tudo o que faz. Com o amendoim não é diferente. Quando comparados com a média de produtividade dos Estados Unidos, Argentina e outros países, o Brasil geralmente está sempre à frente.
Mesmo assim, enfrentamos alguns gargalos. No mercado europeu, por exemplo, existem exigências quanto aos residuais de alguns herbicidas, o que nos exige mais atenção em todas as etapas, desde o plantio até a colheita. Esse trabalho não é simples; precisamos ter segregação e rastreabilidade, e toda a cadeia está empenhada nesse processo.
Ainda precisamos de mais infraestruturas de recebimento que permitam uma separação criteriosa dos grãos com as qualidades exigidas. A Abicab e a Abex têm nos dado muito suporte, e devemos valorizar mais essas entidades. Brinco que, no Brasil, todo mundo gosta de chocolate, mas precisamos focar mais no amendoim. Algumas empresas estão explorando esse nicho, que é um casamento perfeito. O consumo per capita de amendoim no Brasil é de 1,1 kg/ano, enquanto nos Estados Unidos é de 6 kg/ano. Isso é uma questão cultural. Aqui nós colocamos manteiga no pão no café da manhã, enquanto lá é pasta de amendoim. Mas chegaremos lá.
Coopercitrus – Apesar dos desafios, o mercado de amendoim no Brasil ainda apresenta um grande potencial de crescimento. Na sua visão, quais são as principais oportunidades e como os produtores brasileiros podem se preparar para aproveitar esse cenário?
Marco Antonio Martins – O mercado externo de exportação oferece ótimas oportunidades. No mercado interno, por mais que façamos um bom trabalho, o crescimento será mais limitado — se conseguirmos aumentar o consumo para 1,5 kg/ano, já seria um grande avanço. Com base no histórico de crescimento e nas oportunidades, entendemos que o mundo carece de uma castanha com custo mais acessível em comparação a outras. A exportação tem um potencial muito grande para o Brasil, especialmente porque contamos com empresas que estão investindo fortemente na qualidade da matéria-prima, o que nos diferencia. Temos um grande potencial de crescimento e o Brasil certamente assumirá uma posição de relevância global nas exportações. Atualmente, ocupamos a sexta posição entre os países exportadores. Temos áreas disponíveis, produtores tecnificados e melhoramos muito nossas cultivares, principalmente graças ao IAC, através do trabalho incansável do Dr. Ignácio José de Godoy e do Dr. Marcos Michelotto. Enfim, tudo converge a favor do Brasil.
Coopercitrus – Por fim, Marco, como a Coopercitrus e a KBM podem apoiar os produtores que querem investir no cultivo de amendoim ou otimizar suas operações para alcançar melhores resultados no campo?
Marco Antonio Martins – Sempre digo que a Coopercitrus é como uma co-irmã da KBM. Lembro que o primeiro pedido de máquinas que recebemos foi da Coopercitrus. Na época, sentei com José Geraldo e Fernando Degobbi e eles pediram 15 unidades, mas eu tinha a capacidade de entregar somente 10. Hoje fabricamos 4 módulos de arrancador por dia. Ao longo dos anos a Coopercitrus e a KBM desenvolveram uma parceria muito profissional. O amendoim é plantado em outubro e a colheita começa entre janeiro e março, podendo se estender até abril, dependendo do ciclo. O produtor, geralmente, não quer comprar o equipamento antecipadamente, mas precisamos fabricar com antecedência para garantir a entrega. A Coopercitrus sempre faz uma programação antecipada conosco para entregas dos equipamentos a partir de julho, deixando-os disponíveis nas lojas e monitorando a demanda para ajustar o estoque conforme necessário.
No que diz respeito ao produtor, a Coopercitrus desempenha um papel fundamental, oferecendo desde tratores, insumos e implementos. A cooperativa tem uma equipe de campo para dar suporte aos produtores, e, este ano, estamos com novos entrantes no mercado de amendoim, como você mencionou. Muitos querem aproveitar as oportunidades que o cultivo do amendoim está oferecendo.
Temos sempre o cuidado de explicar os desafios do setor para os produtores que estão chegando. Nesse sentido é muito importante ter a parceria de uma cooperativa como a Coopercitrus, pesquisar o mercado e como será seu cultivo.
Quando um produtor me liga, interessado em comprar o equipamento, a primeira coisa que pergunto é: “Você já tem as sementes?” Este ano estamos enfrentando uma escassez de sementes. Não adianta adquirir o equipamento sem ter as sementes ou sem saber para quem vender a produção.
É muito importante fazer parcerias sólidas e procurar uma cooperativa como a Coopercitrus para ter essa assessoria. Assim o produtor tem segurança em todo o processo de plantio, arranquio e colheita.