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Tendências no Agro: Biodiversidade e vida no solo

O solo é um ecossistema complexo. Existem mais organismos vivos em uma colher de sopa de solo do que pessoas na Terra. Isso porque ele abriga mais de 25% da biodiversidade do nosso planeta, ou seja, representa mais de um quarto da diversidade da vida terrestre. Os organismos do solo têm a capacidade de decompor certos tipos de poluição, podendo converter alguns poluentes orgânicos em substâncias não tóxicas.

Além disso, os solos podem ajudar a regular a qualidade do ar e a emissão de gases de efeito estufa por meio do sequestro de carbono, que limpa o ar para respirarmos. Estreando a coluna “Tendências do agro”, o professor do Departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), Fernando Dini Andreote, fala sobre a preservação do solo e de sua importância para o desenvolvimento e a alta performance da produtividade das lavouras agrícolas.

Coopercitrus – Como o produtor rural pode medir a saúde do seu solo?

Fernando Dini Andreote – É preciso olhar para o sucesso que a planta tem em conseguir enraizar. Isso passa por questões físicas e biológicas. A parte biológica está relacionada com a sanidade radicular. Essa medição pode ser tanto de forma indireta, pelo enraizamento eficiente, quanto de forma direta, aí abrimos um outro leque de discussão, que seria a análise biológica do solo. É algo muito crescente, mas que ainda deve ser desenvolvido para termos métricas analíticas de solo.

Coopercitrus – Quais as principais barreiras que os produtores têm para começar a manejar um solo biologicamente mais ativo?

Fernando – O manejo evoluiu muito nestes últimos anos e tem muita coisa para desenvolver. A primeira barreira é a questão de conhecimento, de conceituar a tecnologia de solo. É preciso entender como ela é, como funciona e como podemos trabalhar. Além de entender a inserção da parte biológica do solo, começamos a traçar algumas ações que visam à biodiversidade e às práticas biológicas.

Coopercitrus – Fertilizantes organominerais auxiliam no processo de potencialização da biota?

Fernando – É uma das muitas ferramentas que podem ajudar, porque eles trazem componentes orgânicos para o sistema. Além disso, a biomassa vegetal ajuda e os microrganismos específicos também. É mais a questão de criar um ambiente capaz de suportar a biodiversidade e esse é um ponto chave.

Coopercitrus – Microrganismos aplicados contribuem com o equilíbrio?

Fernando – Sem dúvida nenhuma. A nossa capacidade de estudar os microrganismos desenvolveu muito. Então, começamos a elencar quem são os grupos ativos e quais processos na proteção da planta e aplicar esses organismos vai nos ajudar nesta performance.

Coopercitrus – Será possível conviver com nematoides na agricultura mais intensificada?

Fernando – Na verdade, a gente convive com eles, que vão estar em níveis populacionais distintos, de acordo com o resto do sistema. Então, posso ter uma agricultura eficiente, produtiva, sustentável e que usa recursos biológicos? Sem dúvida. Esse sistema é congruente, não são opostos e tem a produtividade como resultado e toda uma qualidade ambiental que gera na agricultura.

Coopercitrus – O que impacta mais na produtividade: um solo menos ativo biologicamente ou um solo médio quimicamente?

Fernando – Os dois fatores são importantes, não conseguimos preponderar um sobre o outro, porque temos uma complementaridade, que é a nutrição da planta e os processos biológicos. O posicionamento correto de insumos biológicos raramente vem substituir outros insumos, especialmente fertilizantes. Ele vem agregando e potencializando, fazendo o melhor aproveitamento dos nutrientes.

Coopercitrus – O acúmulo de massa de microrganismos pode ser determinante no futuro para acúmulos de créditos de carbono no solo?

Fernando – Essa é uma pergunta que está em aberto. Indiretamente, sim. Sabemos que as atividades microbianas acarretam a produção de biomassa vegetal. Agora, diretamente, tem alguns estudos que estão sendo feitos para entender qual é a atuação e qual a importância desse carbono microbiano nesse pacote carbono que o solo hospeda. Se ela fica maior ou menor e como funciona.

Coopercitrus – Em épocas secas, estruturas de sobrevivência dos microrganismos conseguem manter uma população adequada até a próxima safra?

Fernando – Depende do organismo. Alguns organismos são mais tolerantes e outros não. Muitos organismos vivem em ambientes que não secam, como micropólis de solo. Agora, uma população que aplico hoje para performar na agricultura, dificilmente terá a mesma performance em outra safra, por questão não só de sobrevivência, mas de competição com o ambiente, de organismos ativos e de outros fatores genéticos que tornam uma replicação necessária.

Coopercitrus – Na sua visão, o produtor rural está se tornando mais consciente para cuidar da vida do solo?

Fernando – Acredito que sim. Não é uma das coisas que ele mais olha por questão de conhecimento acumulado, mas aproximamos da parte biológica iniciativas que são feitas para isso. O plantio direto é exemplo disso. Um solo com plantio direto é muito mais confortável para qualquer microrganismo que um solo preparado fisicamente. As plantas de coberturas ajudam muito nessa rotação também. São práticas agronômicas corretas que tocam a parte biológica do solo. Ele está cada vez mais próximo, mesmo que não seja exatamente para isso que ele desenvolve o manejo. E os reflexos são a recuperação do sistema biológico que estava inativo ou pouco ativo e passa a mostrar seu potencial.

Coopercitrus – Mix de plantas de cobertura agrega ao sistema produtivo?

Fernando – Sem dúvida! A qualidade de solo como um todo, química, física e biológica por trazer essas diversidades de raízes, extração radicular e de extração diferencial de nutrientes.

Coopercitrus – Quais os impactos econômicos e em produtividade que o investimento em mais vida no solo pode trazer para o produtor? 

Fernando – A parte biológica ativa funcional será um agente de eficiência que potencializa o resto do manejo. Ela torna o controle de doenças mais eficiente, contornando uma suplementação funcional mais eficiente, ou seja, ela tem multifunções que acabam potencializando tudo o que acontece na área.

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