EDITORIAS

Plantio direto: vida no solo sendo cultivada e preservada

A família Lelis investe no plantio direto e no manejo da vida no solo. Ao mudar o jeito de plantar, a família elevou a sustentabilidade na fazenda e ampliou o desempenho na produção de soja.

A fertilidade do solo é um dos fatores que influencia diretamente a produtividade e a qualidade das lavouras. O uso de tecnologias é fundamental para deixá-lo mais próximo de alcançar importantes metas de produtividade e de descarbonização do meio ambiente. O sistema plantio direto (SPD) é uma das tecnologias aliadas nessa missão.

Essa técnica de manejo recompõe a estrutura física do solo, reduzindo o impacto da atividade no meio ambiente. O sistema mantém a palha e outros restos vegetais entre uma safra e outra. A semeadura é feita em solo não revolvido, ou seja, sem estar arado ou gradeado. A prática também requer a rotação de culturas, garantindo que o solo fique coberto com a palhada após o fim da colheita. 

Como resultado, o sistema de plantio direto amplia a fertilidade, evita a perda de nutrientes do solo, auxilia no controle de pragas e plantas invasoras, além de reduzir a ocorrência de doenças.

Quebra de paradigmas O plantio direto desembarcou no Brasil em 1972 com o produtor Herbert Arnold Bartz, de Rolândia, PR, que estava em busca de solução para a erosão em suas terras durante os períodos de chuvas fortes. Em contato com o Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária Meridional, de Colombo, PR, ele conheceu uma técnica conhecida como “no-till”, que fazia a abertura de sulcos no solo para semeadura e inclusão de fertilizantes sem o revolvimento do solo.

Revolucionando o manejo agrícola, o plantio direto espalhou-se pelo Brasil durante estes 50 anos, preservando e tornando mais férteis os solos, como o da fazenda Santa Helena, da família Lelis, de Guaíra, no interior de SP.

Visionário, o cooperado José Eduardo Coscrato Lelis foi um dos pioneiros a investir no SPD na sua região. “O plantio direto começou por questão de sobrevivência para implantar a cultura de soja. As principais razões eram as questões notórias de erosão e degradação do solo, qualquer chuva lavava toda a área. Para mudar isso, viajamos até o Paraná e trouxemos a experiência do plantio direto”.

Investir nesse sistema mudou o solo e a produtividade da fazenda Santa Helena, mas o começo não foi nada fácil, pois foi preciso provar a eficiência do SPD: “O grande desafio foi mudar o comportamento das pessoas à nossa volta. Era muito comum colocar fogo entre uma cultura e outra. O meu avô quis continuar utilizando os mesmos métodos. Com o tempo, fomos conhecendo e aprimorando a técnica na lavoura. Graças ao investimento em pesquisa e tecnologia, melhoramos as condições físicas do solo, e a produtividade foi aumentando ao longo do tempo”.

Aumentar a produção agrícola com responsabilidade e sem causar danos ambientais é um desafio que o trabalhador do campo deve estar disposto a superar, e o caminho para essa empreitada está na adoção de uma produção sustentável.

“Acreditamos nesse sistema. No início, não tínhamos máquinas e insumos adequados. Fomos trabalhando, conhecendo, investindo em tecnologia e tudo foi se desenvolvendo diante dos desafios. Temos orgulho de ser uma cidade de baixa altitude, altas temperaturas e sermos vanguarda no trabalho do plantio direto. É a melhor prática agrícola do mundo por contribuir com a produtividade e com a preservação do meio ambiente, pois possibilita o sequestro de carbono. O plantio direto tem um nível de sustentabilidade fantástico”, reforça José Eduardo.

O gerente agronômico da Coopercitrus, André Rossi, explica que a agricultura é praticada em Guaíra de maneira intensiva há mais de 50 anos. “Entra soja, sai milho e fica nesse sistema de culturas: milho, soja e feijão. Em qualquer sistema em que plantamos uma cultura só, sem fazer um mix ou investir em uma sucessão de culturas, a médio prazo, o solo começa a entrar em colapso. Ele passa a ficar mais compactado porque a argila se autoagrega. Em Guairá, o solo é extremamente argiloso. A erosão pode ser causada por tráfego de máquina ou pelo impacto da gota d’água no chão, deixando o solo muito vidrado, impedindo novamente a penetração da chuva. As futuras chuvas vão ocorrer, mas acontece a erosão, porque essa chuva não vai molhar o solo como se deve, não teremos o aproveitamento da água”, detalha. Para Rossi, não existe receita pronta para alcançar bons resultados dentro de campo: “É uma junção de fatores, é investir no manejo de solo adequado, em tecnologias, em novas cultivares.

Benefícios do plantio direto

Pesquisa da Embrapa destaca os principais benefícios proporcionados pela adoção do SPD na agricultura:

·          Redução dos custos de produção e de impacto ambiental;

·          Maior facilidade de infiltração e de retenção de água no solo;

·          Redução da erosão e perda de nutrientes por arrasto para as partes mais baixas do terreno;

·          Evitação do assoreamento de rios;

·          Enriquecimento do solo por manter matéria orgânica na superfície dele por mais tempo;

·          Menor compactação do solo;

·          Economia de combustíveis e menor número de operações, resultando em um menor uso dos tratores e desgaste de maquinário.

Colhendo resultados

Os números falam por si. A produção da fazenda Santa Helena foi evoluindo gradativamente até atingir a média de 88 sacas por hectare. “Nossa produtividade média era de 30 sacas por hectare. Com o plantio direto, fomos melhorando, passamos para 40 sacas, depois 50. Ao longo dos anos, fomos aperfeiçoando o plantio direto. Nos últimos três anos, intensificamos as nossas rotações com plantas de cobertura e melhoramos o germoplasma de materiais, associando a novas tecnologias e alcançamos 100 sacas por hectares em algumas áreas, mas a nossa média é de 88 sacas por hectares”, revela José Eduardo.

O olhar atento para a sustentabilidade é fator de competitividade nos negócios, especialmente na produção agrícola. “Toda casa é feita pelo alicerce, e a nossa produção agrícola também. Temos que analisar a parte física, química e biológica e esses patamares de produtividade começam no nosso solo. Precisamos de um solo vivo e devemos devolver tudo que tiramos do solo. Conseguimos fazer isso com a correção de solo, com plantas de cobertura e com análises regulares. Assim, nós praticamos uma agricultura sustentável e de responsabilidade”, avalia a Maira Coscrato Lelis da Silva.

Professora por formação, Maira deixou a sala de aula para ajudar o irmão na administração dos negócios da família. Sedenta por conhecimento, ela se apaixonou pela arte de produzir alimentos e estudou a fundo a biologia do solo: “Com o solo vivo, as raízes crescem, produzem mais fotossíntese liberando mais oxigênio para a natureza e sequestrando carbono, além de fazer com que a planta cresça forte e saudável”.

Mix de cobertura O mix de plantas de cobertura é uma combinação de espécies gramíneas, crucíferas e leguminosas, que podem tornar o cultivo de culturas sucessoras muito mais vantajoso. A utilização do mix e a adubação verde apresentam vantagens em relação ao cultivo de uma única espécie.

A produtora rural conta que, em 2017, conheceu o mix de plantas de cobertura: “É preciso saber ouvir e prestar atenção à nossa volta, e investimos no mix de plantas de cobertura. Estamos desenvolvendo o nosso solo, e essa construção permitiu que chegássemos ao patamar de produção atual. Temos muito orgulho de aumentar a produtividade nesse mesmo solo e com práticas sustentáveis”.

Os benefícios que essas plantas garantem ao solo é muito grande. Para se ter uma ideia, neste ano, a família Lelis não vai precisar adubar alguns talhões, zerando a aplicação de potássio. “O nosso solo está com potássio elevado, descompactado, fértil e cheio de vida. As minhocas representam a vida que existe no solo! Isso nos enche de orgulho!”, comemora a produtora.

Atualmente, os cooperados investem em dois tipos de mix de cobertura. O primeiro é composto por aveia preta, centeio, nabo forrageiro, crambe, trigo mourisco, milheto, crotalária e ervilha preta; e o segundo, com o ciclo de mais de 45 dias, é a combinação de crambe, nabo forrageiro, trigo mourisco e milheto: “O importante é potencializar o solo. A nossa produtividade vem sendo construída como a nossa casa, e estamos melhorando a cada safra. Mas é importante pontuar que é preciso estabilidade e segurança nessa produção, analisando, manejando e tomando a decisão certa”, enfatiza Maira.

Integrante do time, o filho de Maira, o engenheiro agrônomo Pérsio Augusto Lelis Silva, trabalha nos negócios da família há quatro anos acompanhando todas as etapas da lavoura. “Estou presente no plantio, na colheita, na semeadura de planta de cobertura, nas aplicações de campo diária e no monitoramento. Fazemos um pouco de tudo, e essa função é compartilhada dentro da fazenda. Como dizem, é o olho do dono que engorda o boi, por isso, é estar presente no campo. As tecnologias e as práticas sustentáveis vão passando de geração em geração. Estamos sempre em busca de novos conhecimentos e aprendizados”, reflete Persio.

Suporte que faz a diferença

O suporte técnico da Coopercitrus foi fundamental para que a família quebrasse novos paradigmas e investisse em novos cultivares. “Estávamos em um processo de rotação e correção do solo, com a visão de cuidar da fazenda como talhão e não como um todo. A Coopercitrus chega e nos orienta a conhecer novos cultivares. Já tínhamos uma boa produção, mas fomos convidados a sair da zona de conforto”, comenta José Eduardo.

Maira aceitou a orientação e testou novos cultivares, o que garantiu excelentes resultados na lavoura: “Mudamos todo o portfólio em nível de cultivares, e isso se deve aos técnicos da Coopercitrus que visitaram a fazenda. Essa parceria é forte e consolidada, além de ser muito importante para nós”.

E os testes não pararam por aí. “Nesta safra, realizamos novos testes com empresas parceiras em uma área de 19 cultivares, onde atingimos altas produtividades”, ressalta Maira.

Rossi ressalta que estar aberto a mudanças é o primeiro passo para alcançar bons resultados na lavoura: “O produtor tradicional, aquele que planta há muito tempo a mesma cultura, tem dificuldades de abandonar velhos hábitos e aceitar sugestões do time técnico. Observamos que aqueles que estão dispostos a ouvir e são mais abertos atingem bons resultados na lavoura, e a Maira é um exemplo disso”. Com foco no manejo e no planejamento, a família tem melhorado seus resultados na produtividade e nos custos de produção.“O nosso objetivo é alcançar os três dígitos por saca de soja. Está tudo bem construído e organizado. Produzir mais, com mais qualidade e cuidando do solo. As plantas de cobertura fazem o seu papel. É algo fascinante ver aquelas espécies fazendo o seu serviço, sem nos cobrar nada. Precisamos, enquanto produtores rurais, nos unir cada vez mais. O caminho é único, mas precisa ser construído”.

50 anos de prática plantio de solo no Brasil

A Federação Brasileira do Plantio Direto promoveu, nos dias 5 e 8 de julho, em Foz do Iguaçu, PR, o 18º Encontro Nacional do Plantio Direto na Palha e o 1º Encontro Mundial do Sistema Plantio Direto,reunindo 850 pessoas para celebrar os 50 anos do sistema no Brasil.

Com o tema “Preservando o solo, a vida e as gerações futuras”, os eventos celebraram conquistas já alcançadas pela ciência, pela pesquisa, pelo ensino e pela produção agrícola sustentável e também as conquistas que ainda serão alcançadas com um trabalho contínuo e incansável, que mescla passado, presente e futuro em uma mesma história. “A Coopercitrus também participou dessa comemoração e temos que repercutir histórias positivas. A nossa cooperada Maira foi uma das palestrantes e falou sobre os benefícios do sistema de plantio direto e nos sentimos na obrigação de difundir essa ideia. Optar pelo sistema começou por mérito deles, que quebraram os paradigmas e estiveram abertos a testar novas possibilidades”, exalta Rossi.

ESPAÇO RESERVADO
PARA ANÚNCIOS

Compartilhar nas redes sociais