A certificação socioambiental é um importante apoio à produção sustentável. Adquiri-la pode ser um grande diferencial para o seu negócio.
O olhar atento para a sustentabilidade é fator de competitividade nos negócios, especialmente na produção agrícola. Para o consultor de sustentabilidade da Coopercitrus Bóris Alessandro Wiazowski, ao integrar a sustentabilidade à estratégia do negócio, mais do que assegurar a sobrevivência, o produtor trilhará o caminho para a prosperidade da sua produção e da sociedade. Segundo ele, “A sustentabilidade está presente desde a originação até a oferta de produtos. Produzir com sustentabilidade é prosperar em todas essas perspectivas, passando pela gestão da propriedade, pelo atendimento à legislação, pelo respeito e pela segurança das pessoas, pela escolha de variedades, pelo plantio adequado à região e pelo cuidado com o meio ambiente e seus recursos naturais”.
Para elucidar essa realidade, a reportagem conversou com especialistas para incentivar a produção de cana de maneira rentável para o produtor e sustentável para o meio ambiente e a sociedade. Nessa perspectiva, Adriano Veronez ressalta certos benefícios: “Atualmente, os produtores contam com ferramentas que permitem maior segurança e precisão das atividades no campo. Insumos, máquinas e equipamentos agrícolas evoluíram muito nos últimos anos, resultando em maior segurança às pessoas e ao meio ambiente. Contamos com a análise de solo e pragas, que direcionam quais insumos devem ser aplicados, com a quantidade exata, o momento e a forma como deve ser feita, tudo com respeito aos trabalhadores e ao meio ambiente”. Ele adverte que há outra vantagem nas escolhas sustentáveis, a mitigação das mudanças climáticas relacionadas às emissões de Gases de Efeito Estufa. “A prática da agricultura sustentável permite a maior captura de CO2 pelo solo. A cana-de-açúcar, por exemplo, é uma cultura que deixa de 10 a 12 toneladas de palha no solo por hectare, por ano. Esse material e as raízes da cultura proporcionam o acúmulo gradual de material orgânico no solo e, dessa forma, agem como um sequestrador, fixando o carbono no solo. Uma cultura bem cuidada gera muitos benefícios para o meio ambiente e a sociedade”.
Assim, ao adotar padrões sustentáveis, o produtor de cana reduz os riscos sociais e ambientais de sua operação, otimiza o uso dos recursos na propriedade, melhora a gestão da atividade, avança na conformidade legal e melhora as condições de segurança, qualidade de vida e bem-estar dos trabalhadores. Dessa forma, reduz os impactos negativos e potencializa os impactos positivos a todas as partes interessadas.
Nesse momento, entra a importância da certificação. O produtor com uma visão equilibrada entre produtividade e práticas ESG pode obter certificações que proporcionam a melhoria contínua de todos os aspectos do seu negócio, como qualidade, produtividade e sustentabilidade, permitindo-lhe acesso a novos mercados e a uma boa precificação tanto da matéria-prima quanto na venda do produto. As certificações atestam quesitos como qualidade, procedência, conformidade legal, gestão, segurança — de acordo com padrões nacionais e internacionais. “A certificação exige que se cumpra os parâmetros ambientais da lei brasileira, como a reserva ambiental regularizada e georreferenciamento da área. Além disso, para consegui-la, é necessário mostrar na prática que seu negócio é realizado de forma responsável, com projeto estabelecido de segurança do trabalho, mostrando que o trabalhador tem o melhor ambiente para se trabalhar”, destaca Veronez.
BONSUCRO
Certificação internacional. Trata-se de um conjunto de boas práticas socioambientais para o cultivo da cana-de-açúcar e a produção de seus derivados e abrange todos os atores da cadeia produtiva. Ela identifica os principais impactos socioambientais da produção, considerando a conformidade legal, o meio ambiente e a biodiversidade, os direitos humanos, a produção e o processamento da cana e, por conseguinte, estabelece indicadores de melhoria contínua. A certificação é concedida à usina de açúcar e etanol, englobando a auditoria da usina e da área agrícola fornecedora de cana.
- Como conseguir a certificação?
Para obtê-la, primeiramente, a organização deve se registrar como membro Bonsucro, no site www.bonsucro.com, e atender às etapas de certificação: Pré-Auditoria (opcional); Auditoria Documental; e Auditoria na Unidade de Produção.
FSA – SAI PLATFORM
É uma das principais iniciativas globais da cadeia de valor de alimentos e bebidas para a agricultura sustentável. Tem como missão promover o desenvolvimento sustentável, saudável e resiliente do setor agrícola, ao mesmo tempo em que cria cadeias de suprimentos fortes e seguras. A Avaliação de Sustentabilidade da Fazenda (FSA), da SAI Platform, atesta as condições sustentáveis de produção na propriedade rural.
- Como conseguir a certificação?
Inicialmente, deve haver o preenchimento do questionário de autoavaliação, aberto a todos os produtores, e disponível em português no site da SAI Platform (https://saiplatform.org/). As respostas guiam o produtor em questões de gestão, produtividade, meio ambiente e sociedade, indicando as oportunidades de melhoria. Ao alcançar um dos níveis para a verificação, o produtor pode submeter sua operação à avaliação de um auditor externo credenciado pela SAI Platform, o qual irá atestar a adoção de boas práticas na propriedade e o nível de produção sustentável alcançado.
RENOVABIO
O Governo Federal elaborou a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) com o propósito de reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa do setor de transporte no Brasil. Instituído pela Lei nº 13.576/2017, o programa de estímulo à produção e ao consumo de combustíveis provenientes da energia limpa, como o etanol de cana-de-açúcar, entrou em vigor em dezembro de 2019. É uma importante contribuição para que o país atenda aos compromissos assumidos durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21), realizada na capital francesa em 2015. O Brasil estabeleceu metas anuais de descarbonização para o setor de combustíveis com o intuito de aumentar a participação de bioenergia na matriz energética brasileira para aproximadamente 18 % até 2030. A previsão é que o país deixe de lançar na atmosfera mais de 700 milhões de toneladas de carbono nesta década. O programa é composto por três eixos estratégicos:
- Metas de descarbonização
O governo estabelece anualmente metas nacionais para 10 anos, as quais são desdobradas para os distribuidores de combustíveis, que são a parte obrigada a participar da política.
- Certificação da produção de biocombustíveis
Os produtores voluntariamente certificam sua produção e recebem, como resultado, notas de eficiência energético-ambiental. Essas notas são multiplicadas pelo volume de biocombustível comercializado, o que resulta na quantidade de CBios que determinado produtor poderá emitir e vender no mercado.
- Crédito de descarbonização (CBIO)
1 CBIO equivale a 1 tonelada de emissões evitadas, que corresponde a sete árvores em termos de captura de carbono. O número de títulos disponíveis no mercado em 15 de fevereiro de 2022 alcançava 13,05 milhões — 36,6 % da meta para 2022, segundo o Itaú BBA, com base em dados da B3. Do total, 10,4 milhões dos títulos vêm do estoque de passagem do ano anterior, 2,9 milhões foram emitidos em 2022 e 200 mil foram aposentados este ano. O preço médio, em 2022, é de R$ 89,8/CBIO, o maior já registrado na história. Até 2029, serão compensadas emissões de gases causadores de efeito estufa que representam a plantação de 5 bilhões de árvores, o que equivale a todas as árvores existentes na Dinamarca, na Irlanda, na Bélgica, nos Países Baixos e no Reino Unido juntas.
- Tereos certifica unidades e emite CBios
O superintendente de Excelência Operacional do Tereos Açúcar & Energia Brasil, Renato Zanetti, ressalta que a sustentabilidade está no centro do negócio, a começar pela principal matéria-prima, a cana-de açúcar, que opera em um modelo de economia circular, permitindo o seu aproveitamento ao máximo.
“As certificações nos permitem garantir boas práticas agrícolas e operacionais alinhadas aos padrões socioambientais certificados, auditados e credenciados, como também nos ajuda a propiciar parcerias institucionais relevantes e atratividade ao crédito. Utilizamos as certificações como forma de garantir que estamos no caminho certo e seguindo os melhores padrões, evidenciando a busca constante na evolução de práticas cada vez mais sustentáveis e alinhadas com as exigências do mercado e da sociedade”, afirma Zanetti.
Entre as principais certificações, Zanetti cita o Bonsucro e o FSA da SAI Platform: “Na safra 2020/2021, registramos um aumento de 13 % da certificação Bonsucro em nossas áreas agrícolas em relação ao ciclo anterior”.
Na parte de etanol, a Tereos garantiu que todas as sete unidades de processamento de cana-de-açúcar fossem certificadas no programa. “Estamos atuando no mercado de CBios desde 2020. O lucro da comercialização é distribuído com a cadeia de produção de cana, gerando valor compartilhado. Os CBios são negociados na bolsa de valores brasileira (B3) como um ativo financeiro, tornando-se, assim, uma fonte de renda para a empresa emissora e, portanto, para o produtor de cana-de-açúcar”, explica Zanetti.
O mundo passa por profundas transformações que ocorrem em alta velocidade. O produtor rural está atento às principais exigências do mercado e atualizado sobre elas. Assim, aumentar a produção agrícola com responsabilidade e sem causar danos ambientais é um desafio que o trabalhador do campo deve estar disposto a superar e o caminho para essa empreitada está na adoção de uma produção sustentável.
Atenta às oportunidades que a produção de cana sustentável representa aos produtores rurais, a Coopercitrus fomenta boas práticas no campo, promove a responsabilidade social e garante preços melhores, viabilizando a adequação de seus cooperados a esse mercado cada vez mais aquecido. A certificação é um importante apoio à produção sustentável. Por isso, a cooperativa orienta os cooperados a investirem em estratégias que adotam as boas práticas agrícolas a fim de promover tanto o aumento de produtividade quanto a rentabilidade e a melhoria dos indicadores sociais, ambientais e de governança.