CULTURAS

Vira-Cabeça: Estratégias de Manejo para Proteger a Cultura da Batata

A cultura da batata (Solanum tuberosum L.) pode ser afetada por inúmeras pragas e doenças, como o “vira-cabeça”, causado por vírus pertencentes ao gênero Orthotospovirus. Essa doença é muito comum em solanáceas, acometendo importantes plantas cultivadas, como o tomato, a berinjela, o pimentão e a batata. O vírus é transmitido por tripes da ordem Thysanoptera, sendo adquirido pelo inseto no estágio larval e transmitido pelo adulto. O gênero Frankliniella engloba duas importantes espécies vetoras dos orthotospovirus: F. shultzei (Figura 1) e F. occidentalis (Figura 2), os quais estão frequentemente associadas à ocorrência de vira-cabeça no campo.

Nestes últimos anos, tem-se observado um aumento populacional desses insetos em diversas culturas, acarretando problemas diretos decorrentes da alimentação e de injúrias ocasionadas pelo inseto nas plantas e também os problemas indiretos, como a transmissão do vírus. Em batatas, observam-se sinais de necrose nas folhas e também tecidos necrosados nos tubérculos, o que faz diminuir seu valor comercial. Esses sintomas foram observados por um cooperado da região de Vargem Grande do Sul, SP, que constatou sintomas de virose em sua lavoura de batata da variedade atlantic na safra 2021. As plantas apresentavam murcha no ponteiro, manchas no caule, necrose nos tubérculos e presença de manchas marrons na polpa (Figura 3).

Em geral, os produtores associam o aparecimento de anéis necróticos ao subgrupo necrótico PVYNTN, por isso a correta diagnose é importante para tentar impedir a expansão da doença, pois há grandes diferenças no controle de pulgões e tripes. Em parceria com a IHARA, foi realizada uma análise com a pesquisadora Renate Sakate, do Departamento de Proteção Vegetal da UNESP, com o objetivo de detectar qual era o vírus presente na batata e, assim, entendermos se ele era transmitido pela tripes ou pela mosca-branca. Observou-se que a área tinha uma alta população de beldroega (Portulaca oleracea L.) (Figura 4) com pequenas lesões amareladas (Figura 5), que podem ser sintomas do vírus, já que os tripes têm como hospedeiros uma grande diversidade de espécies de monocotiledôneas. Além disso, a eliminação de plantas daninhas é parte essencial do manejo de doenças causadas por vírus.

A detecção utilizada foi a extração de ácido nucléico seguido de PCR (begomovirus) e RT-PCR (crinivirus e orthotospovirus), que indicaram a presença de orthotospovirus causador da vira-cabeça nos 4 tubérculos de batata e nas duas plantas de beldroega analisados. Na região, tem ocorrido o aumento de relatos de produtores sobre a alta população de tripes nas lavouras. Nessa área, boa parte dos produtores plantam soja logo após a colheita de batata, o que pode atuar como ponte verde para disseminação da praga. Segundo a pesquisadora Renate, já foi confirmada a presença orthotospovírus também na cultura da soja.

Os ortothospovirus também infectam uma grande gama de hospedeiros de interesse econômico, comotomate,soja,amendoim, batata,pimentão,alface,mamão, entre outras espécies vegetais, além de diversas plantas daninhas. Essa ampla gama de hospedeiros dificulta o manejo da doença, pois essas plantas servem de fonte de inóculo do vírus e permanência da doença no campo.

A partir desse caso, é necessário alertar os produtores para o controle dessa praga, que vem crescendo na região. O correto posicionamento de defensivos químicos é fundamental para controle não só das pragas transmissoras, mas também para o controle das plantas daninhas hospedeiras desse vírus. Climas quentes e secos ou baixas temperaturas associadas à déficit hídrico podem propiciar o aumento desses insetos vetores. O vento também é um fator que contribui para a dispersão da praga a maiores distâncias, levando em consideração a baixa capacidade de voo do inseto. Em 1956, Primavesi encontrou a regra de que não há doença vegetal sem prévia e determinada deficiência mineral. Por isso, deve-se supor que a resistência da planta tem de estar diminuída para que haja um ataque. Então, associar as técnicas de manejo já mencionadas anteriormente, o equilíbrio de nutrientes e o solo com vida também, são técnicas de manejopara diminuir a incidência do vetor do vírus.

Todo produtor preza por boas colheitas, mas se esquece de que, na cultura da batata, se ganha nos detalhes, os quais modificam o cenário dessa cultura, bem como um manejo satisfatório do tospovirus.

Bárbara Bordin
ATV – Ihara

Débora dos Santos Lopes
especialista Coopercitrus em bataticultura

Renate Krause Sakate
UNESP, FCA-Botucatu

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