CULTURAS

Centro de Citricultura em prol da sustentabilidade dos citricultores

“Consumidores de citros e suco de laranja exigirão certificação socioambiental no campo”

Sustentabilidade é a palavra da moda. Da metade do século passado até os dias atuais, houve um aumento na sua menção de mais de 11 vezes em publicações no mundo, com um incremento exponencial a partir de 1980. Contudo, o que é sustentabilidade? A definição aceita atualmente foi formulada pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU): “Capacidade de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer as necessidades das futuras gerações”. Essa definição tem um forte viés ambiental e, entre todos os setores, talvez, a agricultura seja o mais atrelado ao trabalho com recursos naturais.

Assim, no contexto Agricultura (Citricultura) Sustentável, vê-se uma atividade que preconiza a equidade entre os vieses ambiental, social e econômico capaz de preservar a saúde ambiental, por meio da capacidade de conservar o ambiente para as próximas gerações; da capacidade observadora da equidade social, segundo a qual todo produtor rural precisa de seu lugar na sociedade, desempenhando seu papel e sentindo pertencimento, desde aqueles com pequena até grandes propriedades; e, por fim, a capacidade gestora da lucratividade econômica, visto que toda atividade depende da manutenção de lucros para continuar viável.

A citricultura sustentável precisa estar em sintonia com um mundo cada vez mais urbano, um envelhecimento gradativo da população e as desigualdades sociais. Além disso, ela é dependente de poucos citricultores, que precisam ser produtivos e sustentáveis, o que não é uma tarefa muito fácil. Para essa equação fechar, é necessário reduzir desperdícios de alimentos e trabalhar a rastreabilidade, pensando na segurança alimentar, na redução de resíduos de defensivos nos produtos e na questão trabalhista. Esse tema está na rotina de informação e percepção de relevância por parte da sociedade, e o Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM), do Instituto Agronômico (IAC) vem fomentando sua comunicação há mais de uma década. Projetos do Centro de Citricultura, entre 2011 e 2014, visando à sustentabilidade da produção de lima ácida Tahiti, foram apoiados pela Fundação Agricultura Sustentável (Agrisus), figurando como as primeiras iniciativas na citricultura apoiadas por essa fundação. Os resultados dessas pesquisas mostraram incrementos de 30% na produtividade do Tahiti com a adoção do consórcio de braquiária ruziziensis nas entrelinhas dos pomares e da roçadora ecológica para manejá-la, o que proporcionou adequada camada de palha na linha de plantio dos citros (mulching, Figura 1). Essa técnica contribui com o manejo integrado das plantas daninhas, promove o aporte de nutrientes, principalmente de potássio (K), na linha de plantio, e mantém a umidade do solo, a redução da compactação e o aumento da microbiota do solo. Ademais, colabora com a Agricultura de Conservação, preconizada pela FAO, que recomenda não deixar o solo descoberto.

A sustentabilidade esteve em evidência, novamente, no ano de 2016, quando o Centro de Citricultura e o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), juntos à Sociedade Internacional de Citricultura (ISC), realizaram o International Citrus Congress (ICC), na sua décima terceira edição, em Foz do Iguaçu, PR. A temática principal do evento foi “Citricultura Sustentável: o papel do conhecimento aplicado”. Neste evento, foram discutidos: estratégias de manejo sustentável de pragas, insetos vetores e doenças; resultados experimentais em pomares orgânicos, onde foram priorizados a cobertura de solo, o aumento de matéria orgânica e o cultivo consorciado – os resultados experimentais são referente ao cultivo com estas três práticas citadas: cobertura de solo, aumento de matéria orgânica e cultivo consorciado; manejo de nutrientes na citricultura nas últimas três décadas nas condições tropicais da citricultura brasileira, feito com base nos resultados da pesquisa do Centro de Citricultura, focando na importância da transferência de informações por meio dos Boletins de Calagem e Adubação, que muito contribuíram para o aumento da produtividade e sustentabilidade dos pomares locais. Nesse contexto, o evento externou para a comunidade internacional a capacidade de inovação e a inteligência de produção da nossa citricultura para estar forte e apta a continuar e se reinventar frente aos desafios do mundo moderno.

Em busca da sustentabilidade dos citricultores de pequenas propriedades, uma nova parceria entre o Centro de Citricultura e a Fundação Solidaridad foi realizada em 2021. A Solidaridad é uma organização internacional que atua há 50 anos em prol de cadeias produtivas sustentáveis e da inclusão de produtores rurais. No Brasil, visa engajar cadeias produtivas na transição a uma produção inclusiva e de baixo carbono. Por meio do projeto #FrutoResiliente, os parceiros promoverão a adoção de práticas mais sustentáveis pelos pequenos citricultores a fim de que haja o bom gerenciamento das propriedades rurais e o fortalecimento da produção de quase 500 citricultores. O Centro de Citricultura e Solidariedad têm organizado palestras e dias de campo para produtores de laranja que participam do projeto. Para participar, basta acessar o link do blog CitrosConecta e se cadastrar na página do fruto resiliente (https://www.citrosconecta.org/treinamento-fruto-resiliente). O próximo passo da parceria #FrutoResiliente é a certificação da fazenda experimental do Centro de Citricultura com o selo da FSA/SAI (sigla em inglês para Avaliação de Sustentabilidade da Fazenda/Plataforma de Iniciativa de Agricultura Sustentável). Criada em 2002, a SAI é uma organização mundial sem fins lucrativos que ajuda a transformar a indústria de alimentos e bebidas a fim de que haja abastecimento e produção de forma mais sustentável. A plataforma é pioneira na promoção da agropecuária sustentável em todo o mundo, possibilitando que seus membros compartilhem conhecimentos, crie soluções para desafios comuns e promovam a agropecuária sustentável em um ambiente pré-competitivo. Novidades virão, e o Centro de Citricultura, engajado na busca por melhores práticas de produção (Figura 2), estará mais próximo dos produtores em prol de uma citricultura mais sustentável.

Figura 2. Melhorias nas áreas de manejo no campo. Abastecimento de óleo. Preparo de calda para pulverização. Barracão de armazenamento de defensivos. Ações para a certificação FSA-SAI (CCSM/IAC).

Ademais, a citricultura brasileira se reinventa ano após ano investindo em tecnologia como otimização do adensamento de plantio, poda, novas combinações de copas x porta-enxertos e uso eficiente de nutrientes. Este último, assunto contemplado pelo novo Boletim 100 do IAC (B-100), do qual pesquisadores do Centro de Citricultura participam (Figura 3). O B-100 traz recomendações de calagem e adubação para o manejo de cerca de 130 culturas, incluindo os citros, visando à produção com qualidade, lucratividade e sustentabilidade ambiental. São informações sobre as quantidades de nutrientes absorvidas e exportadas pelas culturas, os fertilizantes e valores de referência para o diagnóstico dos teores de nutrientes disponíveis no solo e o estado nutricional das plantas, obtido com a análise de folhas.

Figura 3. Capa do Boletim 100 do IAC

Outra tecnologia para a sustentabilidade que o citricultor tem adotado é a irrigação. Segundo dados da Previsão e Estimativa de Safra (PES, 2021/2022), do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), cerca de 36% dos pomares de citros do estado de São Paulo são irrigados, permitindo melhor enfrentamento das mudanças climáticas. Essa temática ficou evidente, em 2021, quando a citricultura passou pela pior seca dos últimos 90 anos e por geadas repentinas, o que gerou novos desafios aos negócios. 

Além disso, estima-se que agronegócio brasileiro é a segunda atividade que mais emite gases de efeito estufa do Brasil, respondendo por 28% do total, contribuindo para os desequilíbrios climáticos.  Assim, como próximo passo, o citricultor precisará investir em boas práticas que o orientem a atuar respeitando às questões ambientais, sociais e de governança corporativa, o chamado ESG, sigla em inglês: Environmental (Ambiental, E), Social (Social, S) e Governance (Governança, G). O mercado consumidor tomará a decisão: compro ou não compro, assumo ou não assumo o risco com esse produto? O citricultor precisará dar essa resposta, pois as regras já estão impostas, e novos mercados poderão se abrir. Dessa forma, o Centro de Citricultura (CCSM/IAC) orienta seu programa de pesquisa e relacionamento com o citricultor para que juntos possam inovar e continuar fortes na agricultura brasileira.

Dr. Fernando Alves de Azevedo
Dr. Dirceu Mattos-Jr
Dr. Rodrigo Martinelli
Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM/IAC)

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