O planejamento operacional após o corte do canavial é uma das principais atividades do processo de gestão agrícola. Entre os diversos desafios enfrentados pelo produtor estão variáveis como condições climáticas, disponibilidade operacional de maquinários e escolha dos defensivos agrícolas, entre outras, com o objetivo de garantir a longevidade do canavial e aumentar a rentabilidade do negócio. Entre as práticas culturais após a operação da colheita temos a adubação, que visa repor os nutrientes exportados, a aplicação de inseticidas com a finalidade de proteger o canavial contra o ataque de pragas e também a aplicação de herbicidas, assunto em que vamos nos aprofundar nesse artigo, com o objetivo de impedir o desenvolvimento das ervas daninhas na área cultivada.
As plantas infestantes presentes na flora do canavial são dotadas de características de alta adaptabilidade, e, quando estabelecidas, comprometem o cultivo da cultura, levando a grandes perdas. As plantas daninhas vão competir pelos recursos presentes no ambiente como água, luz e nutrientes. Em muitos casos, algumas espécies são capazes de liberar substâncias químicas que vão interferir na brotação do canavial. Esses fatores também podem ser agravados de acordo com o tempo de convivência dessas ervas com a cultura, principalmente até os primeiros 90 dias do ciclo do canavial, com perdas podendo chegar a 85% da produtividade. Este artigo tem como objetivo auxiliar com informações que precisam ser levantadas para o planejamento da aplicação de herbicida na soqueira.
Formas de controle das ervas
O manejo de plantas daninhas na canavicultura brasileira está associado com a integração de técnicas culturais, mecânicas, físicas e químicas. Na prática cultural temos o uso de variedades com alto grau de perfilhamento que contribuirão com o fechamento do dossel e, por consequência, o sombreamento do solo. Como controle físico das ervas daninhas precisamos destacar a presença da palhada deixada pelas colhedoras na superfície do solo, que proporcionará a dormência das sementes de muitas espécies. Do ponto de vista mecânico, a capina é a prática ainda presente no manejo; porém, devido à baixa disponibilidade de mão de obra e baixo rendimento, essa prática vem sendo substituída. Todavia, o principal método para o controle das ervas daninhas é o químico, ou seja, o uso dos herbicidas. O controle químico de ervas daninhas tem como objetivo realizar o controle das plantas infestantes com seletividade para a cultura de forma econômica e sem impactos ao meio ambiente.
Atualmente os herbicidas apresentam variações de eficácia no controle das espécies presentes no solo, grau de seletividade para a cultura, condições climáticas, estádio de desenvolvimento das plantas e época de aplicação. Entre as espécies de infestantes, as principais são: capim camalote, grama seda, colonião, braquiária, capim colchão, cipó, mucuna, mamona e tiririca. Essas ervas se destacam pela alta capacidade de propagação e rápido crescimento, interferindo ainda mais no desenvolvimento da cana.
Figura 1: Associação do controle de ervas com práticas físicas (palhada), cultural (variedade com alto grau de perfilhamento) e química (uso de herbicida).
No planejamento do controle químico, precisamos decidir quais moléculas utilizaremos. Para isso, temos a associação de quatro etapas:
- Identificação das plantas daninhas infestantes: nessa etapa é importante que o produtor monitore todos os anos a infestação dos canaviais de modo a identificar as espécies mais representativas da área e, para isso, é necessário deixar uma matologia a cada 50 hectares. Cada matologia deve ser representada por uma área de 100m² (10m × 10m). Essa pequena parcela não receberá o tratamento de herbicida e servirá de testemunha para avaliarmos o nível de controle do posicionamento escolhido. O levantamento deve ocorrer preferencialmente a cada 30 dias até o fechamento do dossel do canavial. Com esses dados será possível ter em mãos as plantas daninhas presentes na área e o nível de infestação de cada espécie. Portanto, o produtor terá mais acurácia na escolha das moléculas para cada área e um posicionamento mais assertivo.
Época de aplicação: nessa segunda etapa, o produtor deve identificar a época em que a aplicação será feita. Para isso, é importante ter em mãos o histórico pluviométrico referente à data de aplicação. Logo, o efeito residual dos herbicidas é determinado pela dinâmica da água no solo. Alguns herbicidas precisam de maior quantidade de água disponível do que outros. O ano agrícola, no ponto de vista do regime de chuva, é classificado em período úmido, semisseco, seco e semiúmido, como demonstrado na figura abaixo.
Figura 2: Épocas de aplicação dos herbicidas (fonte:IAC).
- Características físico-químicas dos herbicidas: após identificarmos as espécies predominantes e a época de aplicação, seguimos com uma das etapas mais importantes que é conhecer as características físico-químicas dos herbicidas, como a solubilidade em água (Sw), o coeficiente de sorção no solo para carbono orgânico (Koc) e o coeficiente octanol-água (Kow).
Cada herbicida precisa de maior ou menor quantidade de água disponível no solo. Com isso, é importante conhecer a solubilidade de cada molécula de herbicida. De maneira geral, herbicidas de menor solubilidade são usados no período úmido e de maior solubilidade no período seco.
Figura 3: categoria de solubilidade dos herbicidas (Fonte:IAC).
O coeficiente de sorção padronizado para carbono orgânico (Koc) é um parâmetro que nos indica a relação de retenção das moléculas dos herbicidas com os coloides do solo e essa característica é responsável pelo efeito residual.
O coeficiente octanol-água (Kow) se refere à afinidade do herbicida com lipídeos. Quanto maior o seu valor, maior a facilidade da molécula em atravessar os tecidos vegetais, sendo um indicador que o herbicida também tem efeito de pós-emergência. Todas essas informações estão presentes nas bulas dos produtos.
- Escolha da dose: a quantidade de herbicida deve ser definida de acordo com a textura do solo. Solos mais argilosos precisam de doses maiores e solos com textura média ou arenosa, doses menores. Cada faixa de dosagem é indicada pelo fabricante. Solos mais pesados necessitam de doses maiores, pois parte das moléculas ficará retida aos coloides e outra parte ficará disponível, ao contrário dos solos mais arenosos que possuem menores quantidades de coloides. A capacidade de dessorção de cada molécula ao solo é importante para manter o equilíbrio do herbicida na solução do solo, ou seja, garantir sua disponibilidade e, como consequência, absorção pelas raízes, e realizar o controle em pré-emergência.
Com isso, o planejamento da aplicação de herbicida na soqueira não é uma tarefa fácil. Como citamos anteriormente, o produtor deve estar munido com diversas informações para um manejo assertivo. Portanto, uma estratégia adequada proporcionará um controle eficaz das ervas daninhas e seletivo para o desenvolvimento da cana-de-açúcar. Essa mesma estratégia associada com variedades bem-posicionadas para cada ambiente e um bom stand de plantas garantirá o sucesso e longevidade do canavial. Todas as informações expostas neste material podem ser obtidas com nosso time Coopercitrus. Para mais informações, procure uma de nossas unidades ou entre em contato com nossos consultores técnicos comerciais.