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Como serão os custos de produção para a safra 2023/24?

Por Marcos Fava Neves, Vinícius Cambaúva e Beatriz Papa Casagrande

O custo de produção sempre foi um aspecto de muita atenção para os produtores. Mas em, 2022, esse fator ganhou destaque e foi motivo de preocupação, isso porque os preços dos insumos aumentaram significativamente. No início do ano passado, até mesmo antes do conflito entre Rússia e Ucrânia, o comportamento dos custos já estava se apresentando de maneira ascendente, devido à alta do dólar e aumento da inflação, além dos impactos ainda sentidos da pandemia de covid-19. No entanto, a invasão russa ao território ucraniano mudou completamente a dinâmica da econômica global, o que elevou os preços, principalmente, dos insumos como fertilizantes, a patamares nunca vistos.

A cotação dos adubos químicos chegou a atingir US$ 790/t em meados de 2022, o maior valor da série histórica, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O valor gasto com a importação de fertilizantes passou de US$ 15,1 bilhões em 2021, para US$ 24,7 bilhões em 2022, uma variação de 63,6% ou US$ 9,6 bilhões a mais só de um ano a outro. Em 5 anos, o desembolso aumentou em quase 200%. Enquanto isso, o volume importado caiu de 41,5 milhões de t para 38,1 milhões de t, uma retração de 8,3%.

Apesar da enorme volatilidade experienciada pela economia global e, sobretudo, pelo comércio de commodities nos últimos anos, atualmente, o mercado se apresenta mais calmo. Os percalços estão sendo gradualmente contornados e, como consequência, os preços dos insumos se tornam mais acessíveis. O valor dos fertilizantes no fechamento do mês de maio deste ano foi de US$ 400/t, 49,4% menor que o pico observado em 2022, de acordo com dados também do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

O Rabobank analisa que esse cenário se estabelece por conta, principalmente, de uma demanda enfraquecida em função dos altos preços alcançados há um ano. A demanda global ainda vai demorar para voltar aos níveis pré-pandemia, mas países como o Brasil e Estados Unidos devem aumentar rapidamente suas compras devido à queda nos preços. O aumento da acessibilidade dos produtores aos fertilizantes vai permitir que o consumo aumente, tornando 2023 um ano de transição após o choque observado em 2022. Devemos levar de 2 a 3 anos para retornar aos níveis observados em 2021 (isso se eles voltarem a este patamar).

Apesar da queda nos preços dos fertilizantes, a relação de troca (indicador que mensura a capacidade de compra dos agricultores, ou seja, o volume de determinado produto agrícola necessário para cobrir seus custos de produção) ainda preocupa os produtores rurais. Conforme dados da Consultoria Cogo, no caso da soja, o indicador do município de Sorriso (MT) chegou a uma média de 56,4 sc/ha na safra 2022/23. Tendo em vista que a produtividade na região gira em torno de 65 sc/ha, sobram somente 8 a 9 sacas para o produtor. Para o milho, utilizando a mesma região de referência, foi preciso desembolsar 105,4 sc/ha para cobrir os custos, resultando em apenas 15 sc de lucro. Esses números caracterizaram o ciclo 2022/23 com o maior custo de produção em 10 anos.

Felizmente, para a próxima temporada (2023/24) os números são mais animadores. É esperada uma relação de troca de 46,1 sc/ha e 95,7 sc/ha para soja e milho, respectivamente. Apesar da redução nos preços dos grãos, esse cenário positivo se deve a retração mais expressiva dos custos de produção, o que resulta em melhores margens para a safra que está por vir. Ainda que o cenário seja positivo, é preciso ficar atento a diversos aspectos que, além dos fertilizantes, também pesam na conta do custo operacional efetivo, como os arrendamentos, máquinas e implementos, mão-de-obra, defensivos, entre outros. Vale lembrar que, até o momento, muitos custos não caíram na mesma proporção que os preços de commodities e, por isso, é importante ter atenção.

A nossa dica aos agricultores é: sempre ficar melhor antes de ficar maior! Um comportamento financeiro adequado, alto controle do fluxo de caixa; desenvolver opções para diminuir a dependência; estar acompanhando o mercado e atento às oportunidades – são fatores primordiais ao seu sucesso. Depois de tantas turbulências, esperamos encontrar uma atmosfera mais tranquila para continuarmos pilotando o agro brasileiro em direção ao topo.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e mestrando na FEA-RP/USP.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group e aluna de mestrado na FEA-RP/USP com formação em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP.

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