O agronegócio brasileiro vive um momento de grandes oportunidades, cabendo às lideranças e aos produtores rurais decidir se querem liderar a produção de alimentos no planeta. Para acompanhar esses processos, é necessário que os profissionais do agro e as novas gerações tenham acesso a uma formação adequada que permita capitalizar os benefícios da quarta revolução industrial nos processos transformadores da agroindústria.
Em entrevista exclusiva, o doutor em Ciências da Educação e coordenador do Núcleo de Estudos de Agronegócio da ESPM, José Luiz Tejon, explica que não só a tecnologia pode proporcionar essas mudanças, mas também o talento humano e as organizações devidamente capacitadas. Atualmente, a educação tem contribuído tanto para a sucessão familiar no campo quanto para a formação de novos profissionais.
A nova onda de transformação no agro está na educação!
Coopercitrus – Você acompanhou as principais mudanças tecnológicas no agronegócio. Quais delas foram primordiais para que o agro chegasse ao atual patamar?
José Luiz Tejon – O agribusiness, complexo empresarial que envolve ciência e tecnologia antes da porteira, e a capacitação dos produtores rurais, que utilizaram essa ciência transformando-a em produção de alimentos, energia, agroindústria e supermercado. Toda essa cadeia de produção, do planejamento a tudo o que é produzido na agricultura, pecuária e aquicultura, é agronegócio. Quando eu comecei minha carreira na Jacto, em 1977, nós não tínhamos ainda o nome “agronegócio”, chamávamos de “atividade rural”. O agronegócio surgiu fortemente a partir dos anos 90, com a concepção de agribusiness. Iniciamos ali uma grande transformação científica e tecnológica. Trabalhávamos para lançar pulverizadores que aplicassem defensivos a baixo volume, com bombas de baixa pressão, porque a prática era esparramar os produtos, utilizando bombas de alta vazão e alta pressão, lavando as plantas por completo. Já era de conhecimento científico que a melhor pulverização seria com microgotículas para penetrar, inclusive, por debaixo das folhas. Isso foi uma luta de muito tempo, uma luta educadora para a aplicação correta de defensivos. Paralelamente, acontecia uma revolução na área da genética: as sementes passaram a ser aperfeiçoadas para a realidade do ambiente brasileiro. Foi difícil produzir sementes aprimoradas que resistissem ao estresse hídrico e a determinadas doenças até esperar a colheita. Mais, um trabalho de esforço conjunto da Embrapa e demais institutos agronômicos que transformaram o agro. Do A, do abacate, ao Z, do zebu, o Brasil fez grandes avanços, com três principais fundamentos. Primeiro, em ciência, depois, em educação para o uso da ciência e, terceiro, no empreendedorismo. Podemos ter ciência e educação, mas se não houvesse atitude de pessoas corajosas e ousadas para empreender em mecanização, insumos e técnicas, não teríamos resultados.
O plantio direto foi uma transformação simplesmente gigantesca. Novamente, levou 20 anos para que a ideia original fosse praticada quase que universalmente no país. Quantos anos levou para assumir que a semente hídrica de milho dava muito mais resultados que a semente de paiol? Quanto tempo levou para que a semente com estrutura de engenharia genética fosse um salto espetacular e fundamental na soja e no algodão? Ou seja, esses progressos científicos foram as alavancas com as quais mudamos o agro brasileiro. Para que esse conhecimento chegasse ao produtor, tínhamos a Embrapa, os institutos agronômicos, os empreendedores empresariais no campo da tecnologia e a contribuição gigantesca das cooperativas. Se um cooperado não prospera, ele prejudica a média dos cooperados. A cooperativa é uma casa educadora que orienta e oferece assistência técnica, formação, estrutura, tudo sempre baseado na educação e na capacitação.
Coopercitrus – Além da atualização das práticas de manejo, surgiram novas maneiras de cultivar. Estamos vivendo mais uma onda de transformação?
Tejon – O futuro já está acontecendo na Coopercitrus, através da Fundação Coopercitrus, que pratica essa transformação, preparando sucessores e jovens de várias áreas com visão de futuro, especializando-os para essa concepção de administração e agronegócio. O agribusiness vai além da porteira das fazendas e engloba outros setores, oferecendo oportunidades para administradores, economistas, biólogos, técnicos da tecnologia da informação, jornalistas e publicitários. Então, juventude, temos muito a fazer e precisamos muito de educação nessa caminhada.
Coopercitrus – Para os próximos anos, o que podemos esperar?
Tejon – Velocidade. O produtor rural precisa ser veloz, se capacitar, se adaptar e sair da zona de conforto, e a Coopercitrus representa muito bem essa mudança através da Fundação Coopercitrus. Essa mudança precisa ser feita com amor. Quando amamos o que fazemos, o negócio não se torna chato e sempre estamos em busca de aperfeiçoamento. Somente quem ama aperfeiçoa. Os pais que amam seus filhos querem aperfeiçoá-los, mesmo diante das dificuldades. Se não amarmos a plantação, o solo, os animais, teremos dificuldade em aperfeiçoá-los. O amor é sinônimo de aperfeiçoamento e isso é feito com investimento ao longo do tempo. Mas, professor, como aperfeiçoo? Se não entende do assunto, pede ajuda, busque informações e especialistas que irão ajudá-lo.
Coopercitrus – Essas inovações têm exigido mais qualificação no campo. De que maneiras os produtores rurais devem se preparar?
Tejon – A capacitação para profissionais no agronegócio passa a ser fundamental em todas as áreas. Seja no supermercado, no setor da genética, numa cooperativa ou na produção agropecuária, será preciso ter uma visão estratégica do todo, compreender as tendências de consumo e as exigências dos consumidores para permanecer no mercado. Afinal, não queremos produzir algo que o mercado não irá consumir.
Coopercitrus – Quais competências as futuras gerações de agricultores deverão desenvolver para acompanhar essas tendências?
Tejon – De 2022 para 2042, teremos um oceano de gigantescas oportunidades, muito maiores do que aquelas que realizamos até hoje. A Coopercitrus realiza um trabalho fantástico de restauração das fontes de águas primárias no solo. Trata-se de um trabalho importantíssimo para o produtor rural, pois significa água. Os mercados dos próximos 20 anos irão aumentar o valor do alimento produzido de fonte de água natural, especialmente se for protegida pelo produtor. Muitas práticas agrícolas sustentáveis estavam no campo do sonho, de uma utopia bonita, mas, agora, preservar o meio ambiente garante lucro para o agricultor, além de valorizar a propriedade e proporcionar uma série de vantagens monetárias. Mas independentemente dessas vantagens, olhem as oportunidades da bioeconomia: alimentos sendo produzidos na agricultura regenerativa, produtores industriais aplicando ciência correta e exata, com ética, preservando a água, o solo, o clima e o meio ambiente. O agronegócio brasileiro tem seu fundamento na ciência, na tecnologia e na sustentabilidade. O produtor rural brasileiro pode e deve ser visto como um agente de saúde, que cuida do solo, da água, que gera alimentos e contribui para a manutenção da vida de brasileiros e estrangeiros. São produções sustentáveis que serão escolhidas e priorizadas pelos consumidores do planeta.
Coopercitrus – Quais desafios podem ser encontrados pelos produtores neste momento de revolução no agro?
Tejon – Os produtores rurais precisam entender e se adaptar mais rapidamente às oportunidades. O novo produtor, diante de uma agricultura focada na palavra saúde, precisará ser um estudioso de genética, administração, meteorologia, logística, sistemas de tecnologia, gestão de solos e águas, liderança, saúde animal, antropologia, entre outros. Por isso, ele precisará estar bem acompanhado e assessorado, cultivando a visão de integração das cadeias produtivas, com inovação e superação. E as oportunidades serão imensas.
Coopercitrus – Qual o papel das cooperativas nesse processo?
Tejon – Admiro muito o trabalho das cooperativas, pois elas significam acolhimento, com o papel de auxiliar e orientar aqueles que não compreendem o todo. As cooperativas não trabalham apenas com os excepcionais, os grandes campeões, mas com todos, oferecendo oportunidades a todos. E, nesse processo, os produtores rurais precisam entender que eles são vendedores, vendem o que produzem, existem para atender mercados, segmentos, nichos, desejos e necessidades. “Ah, mas o consumidor precisa de nós”. Se ele não gostar do seu produto, irá procurar outro fornecedor. Nesse sentido, a cooperativa significa a única fórmula de se fazer marketing, reunindo milhares de produtores, do pequeno ao grande, criando uma marca. Por exemplo, a marca Coopercitrus representa mais de 38 mil cooperados. Quando um cliente internacional ou uma grande corporação brasileira está interessada em fazer uma compra de insumos, irá querer fechar negócio com uma cooperativa que atenda aos critérios de compliance e ESG (Environmental, social and Governance). Vamos ter muitas operações business-to-business (comércio estabelecido entre empresas) com cooperativas, porque as grandes companhias do mundo precisam ter na sua cadeia de suprimentos milhares de pequenos e médios agricultores. Diante desse cenário, o cooperativismo assume papel fundamental, porque ele gera oportunidades e prosperidade.