Por Ana Paula Oliveira
A viabilidade da pecuária de corte depende da economia em escala e da redução dos custos de produção, por isso a importância de ferramentas que auxiliem nos custos e na produção.
Durante o período de seca, é comum que a disponibilidade de pasto caia, além de ser o período em que as pastagens tendem a apresentar baixos teores de proteína, o que limita a nutrição dos bovinos.
Isso ocorre porque as bactérias responsáveis pela digestão da fibra, chamadas de bactérias celulolíticas, necessitam de amônia (fornecida pela ureia) e de esqueletos carbônicos (fornecidos por carboidratos e proteínas verdadeiras) para seu crescimento.
Existem várias opções de suplementos para o período de seca, que visam suprir as deficiências nutricionais e manter os bovinos em condições adequadas.
Algumas das principais estratégias de suplementação incluem:
Suplementação proteica
Para manter a função ruminal adequada e garantir a utilização eficiente dos nutrientes disponíveis, a suplementação proteica pode ser uma ferramenta eficiente.
Veja, na figura 1, a média de preços dos principais ingredientes utilizados na dieta para suplementação proteica nos últimos 18 meses, em São Paulo.
Suplementação energética
A falta de forragem durante a seca resulta em baixa disponibilidade de energia para os bovinos. A suplementação energética pode ser feita através do fornecimento de alimentos concentrados, como grãos (milho, sorgo, trigo) e coprodutos da agroindústria (farelos de arroz, trigo, milho), para aumentar o aporte energético da dieta.
Na figura 2, estão as médias de preço dos principais ingredientes utilizados na dieta para suplementação energética nos últimos 18 meses, em São Paulo.
Suplementação mineral:
A oferta adequada de minerais é fundamental para manter a saúde e a reprodução dos bovinos. Durante a seca, a disponibilidade de minerais nos pastos geralmente diminui, o que pode levar a deficiências nutricionais. A suplementação mineral específica para as necessidades da região e do rebanho pode ser fornecida em forma de blocos, misturas ou sais minerais soltos.
Na figura 3, está a média de preço de diferentes ingredientes utilizados na dieta para suplementação mineral nos últimos 17 meses, em São Paulo.
Custos com a suplementação
O custo com suplementação mineral compõe parte do custo variável dentro do sistema de produção.
Na tabela 1, apresentamos a simulação de uma suplementação proteico energética de baixo consumo (0,1% PV), para um bovino com 250kg, com um ganho estimado de 0,200kg/dia no período das secas. Foram considerados os dados de preços da Scot Consultoria.
Ponto de equilíbrio do custo de suplementação proteico energética.
Custo Suplementação | 2022 | 2023 |
Preço médio do saco 30 kg | R$ 85,00 | R$ 90,00 |
Custo mensal/cabeça | R$ 21,00 | R$ 22,50 |
Preço do kg do boi gordo | R$ 9,87 | R$ 8,00 |
Custo mensal/kg do boi gordo | R$ 2,13 | R$ 2,81 |
Ganho mínimo para pagar a suplementação (kg/dia)* | 0,071 | 0,093 |
Saldo de ganho kg/dia | 0,129 | 0,106 |
É notável que os custos de produção aumentaram consideravelmente no ano corrente. Apesar da redução nos preços dos insumos utilizados na suplementação dos bovinos, o custo variável associado à suplementação neste período continuou sendo um fator de impacto.
* Em 2022, para se pagar o suplemento com a estimativa de ganho de PV 0,200kg/dia, era necessário um ganho mínimo de peso de 0,071 kg/dia, onde o restante do ganho 0,129 kg/dia seria o lucro (R$0,365/cabeça).
Entretanto, em 2023, com a atualização dos preços dos insumos e considerando uma cotação média de R$240,00/@ do boi gordo, a prazo e livre de impostos nas praças paulistas, constata-se que o ganho adicional mínimo exigido subiu de 0,071kg/dia, para 0,093 kg/dia. Embora o uso desse tipo de suplementação possa gerar ganhos estimados de 0,200 kg/dia, é importante notar que a diferença entre os ganhos esperados e o ganho mínimo necessário é de apenas 0,106 kg/dia, ou seja, o lucro do produtor com esse suplemento por cabeça será de R$0,318/dia. Esses números implicam em desafios adicionais para os produtores em termos de viabilidade econômica e busca por eficiência produtiva.
Essas estratégias de suplementação podem ser vantajosas para os produtores quando corretamente empregadas, mas é importante destacar que cada sistema de produção possui suas particularidades e é recomendável buscar orientação especializada para planejar e implementar a estratégia de suplementação mais adequada às necessidades e aos recursos disponíveis.
Ana Paula Oliveira é médica-veterinária, zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria.