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Tendências no Agro: Força genuína na transformação

Cada vez mais, as mulheres têm ocupado cargos de lideranças em diversas áreas, e o agronegócio segue essa mesma tendência a passos acelerados. Elas estão presentes em postos de liderança, operação, planejamento e finanças, contribuindo ativamente para a evolução do setor dentro e fora da porteira.

Em entrevista exclusiva à Revista Coopercitrus, a primeira mulher no comando da centenária Sociedade Rural Brasileira, Teresa Vendramini, afirma que torce para que, um dia, seja natural uma mulher estar à frente dos negócios e de entidades. Para ela, o espírito materno no DNA e o perfil mais conciliador da mulher contribuem para o êxito em qualquer setor.

Teka, como é conhecida, representa o agro em diversos fóruns, defendendo uma agenda pautada no futuro e na transformação do setor com base na sustentabilidade. Ela luta para construir um agronegócio mais técnico, cultivado pela união entre homens e mulheres.

Coopercitrus – A senhora é a primeira mulher a assumir a presidência da Sociedade Rural Brasileira (SRB), que tem mais de 100 anos de tradição. Como foi chegar a essa posição de destaque?

Teresa Vendramini – Essa é uma pergunta frequente. Foi grande a repercussão quando, pela primeira vez na história da SRB, uma entidade centenária, uma mulher assumia o comando. Eu costumo falar que torço para que, um dia, não seja preciso comemorar tanto, que seja natural uma mulher estar à frente dos negócios e de entidades, que deixe de ser novidade.

Estamos construindo um agronegócio mais tecnificado e sustentável juntos, homens e mulheres.  Claro que, nestas rodas de conversa, ainda precisamos de mais mulheres com poder de decisão, mas estamos avançando. O olhar aguçado, o diálogo e o perfil conciliador do público feminino têm muito a contribuir.

Coopercitrus – O que representa para a SRB ter uma mulher na liderança?

Teresa – Sinaliza que somos uma entidade atemporal, que está conectada e aberta às mudanças.

Coopercitrus – Qual legado pretende deixar em sua atuação na SRB?

Teresa – Cada presidente tem seu perfil e sua contribuição. Vim somar com a nossa diretoria e conselheiros. Trabalho para os produtores rurais. Viajo muito, ando muito por este Brasil, gosto de ouvir os produtores e aprendo muito com eles. Existem pautas muito relevantes que precisam ser debatidas, como regularização fundiária, conectividade, infraestrutura e logística, gestão, sustentabilidade e agricultura familiar. Faço o papel de mediar esse diálogo e unir todos os elos, porque acredito em uma ação conjunta: governo, entidade e setor privado. Não acredito em ações isoladas, sem envolver todas as partes.

Coopercitrus – A senhora é uma referência no agro brasileiro e inspira outras mulheres no setor. Na sua visão, qual é a importância das lideranças femininas para o agro?

Teresa – Somos todos iguais, homens e mulheres. Podemos trabalhar juntos, nossas características se complementam. Pelo espírito materno no DNA da mulher, acredito que temos um perfil mais conciliador, estamos abertas ao diálogo e isso tem muito a contribuir em qualquer área. Acho que o primeiro passo para conquistarmos espaço é justamente parar de falar de diferenças de gênero.

Coopercitrus – A senhora é socióloga por formação e pecuarista por tradição familiar. Como foi dar continuidade ao legado da sua família?

Teresa – Minha família é de produtores rurais há mais de 80 anos. Então, pra mim, é natural essa posição. Apesar da minha formação, chegou uma hora em que foi preciso assumir o legado da minha família. Na hora que entrei, de fato, no negócio, comecei a me aprofundar, a estudar, a visitar outras propriedades, a participar de seminários, buscando informação consistente para uma boa gestão da fazenda, foi quando recebi o convite do Marcelo Vieira (presidente da SRB de 2017 a 2020) para integrar a diretoria da entidade. Aceitei o desafio de montar um departamento de pecuária dentro da entidade. O trabalho que desenvolvi neste período abriu caminho para a posição atual.

Coopercitrus – Quais foram seus principais desafios e conquistas ao longo dessa jornada?

Teresa – Os desafios são diários. Todo dia, aprendo alguma coisa nova, faço algo diferente e encaro isso com muito estudo e coragem.

Coopercitrus – Quais estratégias são necessárias para aumentar a participação feminina no agro?

Teresa – Não acredito em estratégia, acho que isso é resultado de trabalho e estudo. As mulheres precisam acreditar nos seus sonhos e, com vontade, seguir em frente com muita coragem. Vão falhar, cair algumas vezes, mas seguir em frente construindo o seu próprio caminho.

Coopercitrus – A sucessão familiar no agro é uma pauta que tem ganhado evidência pelos desafios entre as gerações. Na sua visão, quais são os pontos essenciais para o êxito na sucessão?

Teresa – Abrir diálogo na família. Mais uma vez, ter esse espírito conciliador e ouvir o jovem que está chegando para o negócio, pois ele tem muito a contribuir em gestão e tecnologia. Já do lado do jovem, é entender a história daquela propriedade, compreender e aprender com a jornada dos seus antecessores.

Coopercitrus – Mesmo para mulheres que pertencem a famílias do agronegócio não é fácil assumir uma posição de liderança. Qual é seu conselho para as futuras sucessoras do agro?

Teresa – Continuo acreditando no estudo, na perseverança e no diálogo. Vai descobrindo o que gosta de fazer na propriedade, vai apresentando soluções e, aos poucos, vai ganhando espaço na gestão na propriedade da família.

Coopercitrus – O número de mulheres que lideram propriedades rurais no país vem crescendo nos últimos anos. Quais são os fatores que contribuem para o aumento do protagonismo feminino no agro?

Teresa – As mulheres estão ganhando espaço em todos os setores como resultado da força de vontade, do preparo e do espírito empreendedor. As mulheres estão estudando, buscando, e essa igualdade é só uma questão de tempo.

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