Viviani Silva Lirio
Ao longo do tempo, liderança e empreendedorismo vêm sendo valorizados como elementos de suporte ao sucesso pessoal e empresarial cada vez mais. Não obstante, muitas vezes, esses termos surgem em contextos distorcidos ou deslocados da realidade, sendo apresentados, de certa forma, como características exclusivamente natas e, também, como substitutos dos esforços cotidianos. Ambas as visões são equivocadas e devemos falar sobre isso.
Naturalmente, não se pretende, aqui, descaracterizar a existência de indivíduos de personalidades ativas e carismáticas, muitas vezes (mas não necessariamente) expansivas e hábeis em enxergar o mundo por uma perspectiva singular. Há pessoas que, sim, possuem em suas essências particularidades muito valorizadas atualmente, podendo se tornar — se bem orientadas e estimuladas — líderes e empreendedores de sucesso. Todavia, é preciso ampliar o olhar e aprofundar as análises quando, de fato, pensamos nessas habilidades. Em que pese as possíveis características natas de liderança e empreendedorismo, visão estratégica e agregação de ideias, é preciso esclarecer que é possível desenvolver essas habilidades, sem que se percam as qualidades únicas de cada indivíduo. Essa realidade é válida para todas as áreas de atuação e inclui o meio rural.
Pensemos inicialmente nos conceitos. Particularmente, gosto da definição trazida por Sulivan França na qual ele afirma que liderança “é comunicar às pessoas seu valor e potencial de forma tão clara, tão forte em que elas acabem por vê-los em si mesmas e que seja capaz de se colocar em movimento sentido parte do processo de ver, fazer e tornam-se capazes”. Essa definição destaca a importância de outros elementos, como a percepção aguçada, a empatia, a competência em equipes e o reconhecimento da importância das ações coletivas. Todas essas são capacidades que podem ser aprendidas e, ou estimuladas. O empreendedor, por seu turno, é “aquele que sabe identificar as oportunidades e transformá-las em uma organização lucrativa. O empreendedor é aquele indivíduo que é criativo, inovador, arrojado, que estabelece estratégias que vão delinear seu futuro”. Ele vê espaços não tradicionais — seja inovando um produto, seja um serviço, seja um
processo — e, por isso, quando se unem ambas as características em uma liderança empreendedora, aumentam-se as chances de sucesso, já que o mundo atual — dinâmico e integrado — exige eficiência e racionalidade.
Além disso, não esqueçamos que boa parte do sucesso dos negócios deriva de muita reflexão e trabalho árduo em sua construção e consolidação. Mesmo para aqueles que possuem características que favorecem sua percepção de liderança e visão empreendedora, ainda repousam no foco, na persistência e no empenho sistemáticos as maiores chances de sucesso. No agronegócio e em suas ramificações, tem-se percebido que se desenvolve, ainda que gradualmente, uma nova visão de negócios, com aumento da proximidade dos consumidores e a necessidade de um novo timming gerencial da operações, que irão requerer mais agilidade e maior visão de contexto: típicos de uma liderança empreendedora. Sabendo-se disso, é importante que empresários, organizações e instituições de apoio aos produtores valorizem espaços de atividade para os líderes empreendedores, bem como fomentem a liderança jovem e os processos de aprendizagem sobre esses temas. Afinal, o Brasil é um representante líder no cenário agro mundial, mas precisará se manter atendo às novas demandas, apoiando os reais tradutores dessas realidades: os empresários rurais.