As moscas-das-frutas estão entre as principais pragas da citricultura brasileira. Segundo levantamento realizado pelo Fundecitrus na safra 2020/2021, os ataques de mosca-das-frutas e bicho-furão foram responsáveis por 4,76% da queda de frutos, o que corresponde a 16,3 milhões de caixas. No Brasil, na cultura dos Citros ocorrem duas espécies de mosca-das-frutas: Anastrepha fraterculus (mosca-das-frutas-sul-americana) e a Ceratitis capitata (mosca do mediterrâneo) (Figura 1).
Em citros, as infestações de Anastrepha fraterculus e Ceratitis capitata ocorrem em períodos distintos. As infestações de Anastrepha fraterculus são mais intensas (picos) entre os meses de março e maio, abrangendo o período de frutificação das variedades cítricas precoces (Hamlin, Rubi, Westin, Bahia, Lima) e Pera Rio, causando danos aos frutos em qualquer estágio de desenvolvimento, inclusive frutos verdes e no estágio de “pingue-pongue”.
Neste estágio, embora a larva não consiga completar o ciclo, ocorre queda precoce do fruto. Já a Ceratitis capitata ocorre preferencialmente de julho a novembro, atacando principalmente as variedades semi-tardias e tardias (Valência, Natal e Folha Murcha). Ataque intenso dessa espécie ocorre durante o amadurecimento e colheita de cafés circunvizinhos aos talhões de citros. Há também impactos indiretos fora da porteira, pois são pragas quarentenárias para diversos países importadores gerando assim restrições no comércio exterior.
As duas espécies se encontram amplamente distribuídas nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, Os adultos são o único estágio com vida livre e franca mobilidade. A emergência geralmente ocorre nas primeiras horas do dia. Os recém-emergidos são ávidos por alimento e se alimentam de uma grande variedade de substratos, desde porções exsudadas dos frutos até fezes de pássaros, matéria orgânica em decomposição, néctar e pólen e sua disseminação e estabelecimento é facilitado pela grande diversidade de espécies de frutíferas hospedeiras como acerola, carambola, café, goiaba, jabuticaba, manga etc., com frutos em diferentes fases de maturação ao longo de todo ano.
Com relação ao ciclo da vida das duas espécies, as fêmeas colocam os ovos no interior do fruto por meio de um ovipositor de onde nascerão as larvas que se alimentarão da polpa do fruto. À medida que as larvas vão se alimentando e se desenvolvendo, começa surgir um amarelecimento da casca de forma circular no local da postura dos ovos. No local da lesão, na superfície da casca, ocorre uma exsudação da polpa fermentada do interior do fruto devido a entrada de fungos, bactérias e outros insetos.
A lesão torna-se amolecida, evolui para o apodrecimento e ocorre a queda dos frutos (Figura 2). Porém, antes da queda, as larvas caem na terra onde penetram cerca de 5 cm de profundidade, se transformam em pupa e depois emergem da terra na forma adulta. Vale lembrar que já no início do ataque das larvas os frutos apresentam alterações na textura, sabor e cheiro da polpa.
Para determinar a necessidade e o melhor momento de iniciar o controle da mosca-das-frutas, é necessário realizar o monitoramento por meio de armadilhas com atrativo alimentar ou sexual. Existem dois tipos:
- 1) Armadilha modelo McPhail ou “frasco caça moscas”: feitas de plástico e com base amarela, utilizam um atrativo alimentar líquido proteico diluído a 5% em água.
- 2)Armadilha modelo Jackson: possui forma triangular e utiliza o paraferomônio sexual trimedlure que atrai os machos da espécie Ceratitis capitata.
Para variedades precoces, o monitoramento deve ser iniciado quando os frutos estiverem com metade do seu tamanho final. Em variedades tardias, as armadilhas devem ser instaladas antes dos frutos iniciarem o amarelecimento.
As estratégias de controle da mosca-das-frutas incluem:
A aplicação com isca tóxica consiste na utilização da mistura envolvendo água, atrativo alimentar (melaço, proteína hidrolisada, dentre outros) e o inseticida.
Conhecendo o ciclo das moscas-das-frutas, após a emergência da mosca adulta que passa por um período de pré-oviposição, variando próximo de uma semana, quando ocorre o amadurecimento do seu aparelho reprodutor. Durante esse tempo, o inseto precisa se alimentar, para o um rápido desenvolvimento, que após o acasalamento, inicia o seu período de postura dos ovos.
A oferta da isca tóxica nessa fase, quando a população ainda não está causando danos econômicos ao pomar de citros, permitirá que essa população não cresça ao nível de causar maiores danos. A devida concentração do atrativo alimentar e do inseticida registrado para ser utilizado na Cultura dos Citros trará um bom controle da praga.
Em razão do hábito alimentar do inseto ser lambedor, a oferta de gotas grandes da mistura do atrativo mais o inseticida deve sempre ser colocada no interior das copas com um volume ao redor de 200 ml por planta. Recomenda-se iniciar pelas bordaduras dos talhões, próximas as matas, do lado sol nascente e de preferência no período da manhã, quando a mosca tem o seu maior movimento, na busca do orvalho que ajuda a reidratar as gotas da isca tóxica depositada no interior das plantas, para se alimentar. Tal estratégia permitirá assim um manejo adequado no seu controle.
A empresa Herbicat desenvolveu um aparelho para fazer aplicação específica, com baixo volume de isca tóxica por planta, ao redor de 20 ml de uma solução, formada pela mistura de 6,4 litros de água + 1,6 litros de Success, com um residual de atratividade e controle de 30 dias. O espaçamento entre os pontos de aplicação deve considerar o raio limite de atratividade da isca que é de até 3,5 metros (7 metros entre os pontos de aplicação).
As dificuldades no êxito quando se utiliza a isca tóxica estão:
- 1) na ocorrência de chuva após as aplicações;
- 2) no baixo volume de isca aplicado por planta;
- 3) na colocação da isca no interior da planta, evitando assim a degradação pelo sol, aproveitando a reidratação das gotas pelo sereno da noite;
- 4) na aplicação tardia da isca tóxica, fazendo com que a sua atratividade seja diminuída, devido à grande quantidade de exsudados (líquido escuro) liberados pelos frutos atacados pelas larvas, servindo de fonte energética para as moscas na fase de pré-oviposição.
Fontes consultadas:
Comunicado Técnico: Manejo de moscas-das-frutas em pomares de manga. Material fornecido pela Dra. Clarice Diniz Alvarenga Corsato.
Manual de Mosca-das-frutas: medidas para o controle sustentável. Fundecitrus 2021.
Manual prático – Manejo ecológico de Pragas dos citros. Prof. Dr. Santin Gravena. 2005.
Autores: Luis Felipe Rinaldi, Celso José da Silva, Nelcir Alves de Oliveira, Consultores Especialistas em Citros.