Com todas as mudanças ocorridas no setor canavieiro após o fim da cana queimada e com o sistema de cana crua, ainda é um desafio aumentar a produtividade. Precisamos nos atentar para o desenvolvimento do sistema radicular em profundidade, com a construção de um perfil do solo com fertilidade.
Para isso, precisamos enxergar o solo em camadas de 0 a 40 ou 50 centímetros de profundidade em questões química, física, biológica e hídrica. Altas produtividades sempre estão atreladas a solo bem corrigido e com preparo adequado, quer seja preparo convencional, reduzido ou localizado. Cada tipo de preparo possui suas vantagens e desvantagens, de forma que decisão sobre qual realizar depende do nível de fertilidade e de compactação.
Os solos brasileiros apresentam baixos níveis de cálcio, são ácidos e possuem baixa saturação de bases. Se não bastassem estas três situações, ainda nos deparamos com a questão da saturação de alumínio em camadas subsuperficiais. Por isso, analisar o perfil de um solo em maiores profundidades além da superfície é muito importante.
As análises de solos com frequências, e algumas delas de forma estratificada (de 10 em 10 e de 0 a 40 centímetros de profundidade, e em pontos georreferenciados com amostragem até um metro de profundidade ou mais, podendo ou não ser estratificada) permitem diagnosticar o balanceamento dos nutrientes que devem ser adicionados no solo para a construção da fertilidade.
Outro fator importante na construção do perfil de solo é o comparativo de solos arenosos com baixo teor de matéria orgânica, com os solos argilosos com alto teor de matéria orgânica. Os solos arenosos possuem uma capacidade de troca catiônica – CTC, menor do que solos de textura média e argilosa.
Solo arenoso possui menor reservatório de nutrientes para as plantas. Com uma forma bem simplista de comparativo, o solo arenoso corresponde a um balde de 40 litros (CTC igual a 40 mmolc/dm3), o solo médio corresponde a um balde de 60 litros (CTC igual a 60 mmolc/dm3) e solos argilosos ou muito argilosos correspondem a um balde acima de 80 litros (CTC igual ou maior a 80 mmolc/dm3). Portanto, solos médios de argila entre 15% a 35% no comparativo possuem uma capacidade de 1,5 vezes em relação ao arenoso e os solos argilosos a muito argilosos possuem uma capacidade de reservatório de nutrientes acima de 2 vezes mais quando comparados aos solos arenosos.
A Figura 1 representa a relação entre o rendimento relativo de uma cultura e o teor de um nutriente no solo e as indicações de correção e adubação. A construção do perfil do solo consiste em trabalharmos os níveis de nutrientes no solo na faixa adequada (Alto) com alto rendimento em produtividade.
Quando os níveis de fertilidade do solo se encontram muito baixos, baixos e médios, precisamos realizar as correções e a adubação para construirmos o perfil do solo em fertilidade, adequando as necessidades nutricionais nas camadas de solo mais superficiais com cálcio, magnésio, enxofre, fósforo, potássio, micronutrientes, de acordo com cada tipo de solo, necessidade da cultura, manejo e operacional dentro da porteira da área de produção. Para as camadas de solo em profundidades abaixo dos 40 centímetros, é de suma importância os nutrientes cálcio e boro para o desenvolvimento radicular em profundidade. Não existe uma receita de bolo, mas, sim conceitos e regras técnicas.
Figura 1. Fonte: Adaptado de Gianello & Wiethölter (2004)
Os trabalhados da CESB – Comitê Estratégico Soja Brasil, representado na Figura 2, mostram claramente a necessidade de fertilidade em profundidade, principalmente com cálcio para obtenção de maiores produtividades. Ao observarmos os resultados das análises de solo, verificamos que os teores de cálcio para as produtividades acima de 90 sc/ha possuem teores acima de 8 mmolc/dm3 em subsuperfície (de 60 a 110 cm).
Figura 2. Fonte: CESB – Boletim Técnico 1. Relações de enraizamento e cálcio no solo para alta produtividade da safra 14/15.
Em cana-de-açúcar, as oportunidades para a construção de perfil do solo são no momento do plantio e na soqueira, sendo as seguintes situações:
Plantio
São várias as situações, entre elas:
- Áreas com fertilidade degrada necessitam de um preparo convencional para incorporação de calcário de 0 a 40 centímetros de profundidade e as correções de outros nutrientes e de gesso de acordo com a necessidade, em função da análise de solo realizada com o sistema Geofert, sendo a correção em taxa variável ou em taxa fixa.
- Áreas com fertilidade corrigida ao longo da soqueira e que estejam com níveis adequados de fertilidade, dispensam o preparo convencional e deve se realizar o preparo reduzido.
- Áreas com preparo de solo localizado na linha de plantio em profundidades com aplicação de óxidos de cálcio/magnésio de 20 a 60 centímetros, proporcionando condições de desenvolvimento de raiz, que trabalhos de campo encontra raiz abaixo de 1 metro de profundidade com excelentes respostas de produtividade.
Áreas com dinâmica de plantio durante todo o ano e a grande proporção de reforma com soja em sistema plantio direto induz a correções de solo e complemento nutricional sempre na soqueia, reduzindo custos e mantendo o sistema em pleno vigor de produção.
Soqueira
– Em áreas de soqueira, é difícil alocar calcário em profundidade, portanto, o manejo deve ser com uso de calcário, gesso e óxidos de cálcio/magnésio, trabalhando em área total ou em faixa de 50 centímetros de largura na linha da cana como fonte de fertilização de nutrientes cálcio, magnésio e enxofre.
– Outro sistema que vem ganhando adeptos e entregando excelentes resultados é o uso desubsolador com haste de 60 centímetros de profundidade, aplicando óxido de cálcio/magnésio nas profundidades de 40 e 60 centímetros na entrelinha da cana-de-açúcar. A figura 3 é o resultado com a variedade RB-92579, plantio no ano de 2018, correção na entrelinha em 2019 (após o primeiro corte), avaliação em 2020 (segundo corte) e 2021 (terceiro corte), com uma observação que em 2021 e 2022 ocorreram déficit hídrico severos e o manejo utilizado promoveu ganhos em produtividade (2021 ganhos de 28,6 e 2022 ganhos de 13,6 toneladas por hectare) e rentabilidade financeira.
Figura 3. Resultado de produtividade com o uso de óxido CaO60% e MgO30% na entrelinha da cana soca. Fonte: Eng. Agr. Dr. Ronaldo Cabrera, dados não publicados.
A melhoria da fertilidade do solo no âmbito da construção do perfil permitirá aumento de produtividade em escala vertical, mas o manejo deve sempre estar associado a parte física e biológica do solo. Este conceito necessita de um planejamento de curto, médio e longo prazo, com critério técnicos e sem achismo. Para isso, a Coopercitrus dispõe de profissionais capacitados e com experiência de prestação de serviços em análises de solo para orientar os cooperados que desejam iniciar a construção da fertilidade no perfil de solo.
Por Marcos Antonio Zeneratto, Consultor Especialista em Cana-de-Açúcar