O bicho-mineiro, ou minador das folhas do cafeeiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrottet (1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é a principal praga do cafeeiro Arábica, Coffea arabica L., principalmente em regiões de clima quente, com temperaturas mais altas e de maior déficit hídrico, como o Cerrado Mineiro. Jamais será erradicado da cafeicultura brasileira, daí a importância de seu monitoramento e controle anual. É uma praga exótica que tem como região de origem o continente africano. Foi constatada no Brasil a partir de 1851, há aproximadamente 170 anos. Naquela época não existiam inseticidas e o inseto já causava prejuízos, como na safra de 1862, de 50%. Seu único hospedeiro é o cafeeiro.
Ciclo evolutivo e suas fases
É a partir dos adultos que acontece o ciclo evolutivo do inseto, que é completo, passando pelas fases de ovo (5 a 21 dias), lagarta (9 a 40 dias), crisálida (5 a 26 dias) e adulta (Fig. 1). Assim, o ciclo evolutivo do bicho-mineiro varia de 19 a 87 dias, dependendo de fatores climáticos. Em regiões de clima quente e muito quente, seu ciclo evolutivo é menor, resultando em maior número de gerações sobrepostas durante o ano, e consequentemente maiores infestações. Ao contrário, em regiões de clima ameno, como o Sul de Minas e Alta Mogiana, está no estado de São Paulo.
O ciclo evolutivo do bicho-mineiro inicia-se pelas mariposinhas fêmeas, que copuladas colocam ovos na face superior da folha, principalmente na região da nervura principal. Após a fase de ovo, eclodem (nascem) as lagartinhas, que se alimentam minando as folhas do cafeeiro. É a fase que causa prejuízos. Terminada a fase de lagarta, quando medem 3,5mm de comprimento, param de se alimentar, saem das minas e descem por meio de um fio de seda por elas produzido até encontrarem folhas baixeiras, em sua face inferior, onde passam para a fase de crisálida, dentro de um casulo de seda característico em forma de X. Após a fase de crisálida, emergem os adultos, iniciando um novo ciclo evolutivo. Numa lavoura infestada, ocorrem gerações sobrepostas com a ocorrência de todas as fases ao mesmo tempo. Em condição desfavorável, como no período chuvoso, as crisálidas podem entrar em dormência por algum tempo para garantir a emergência de adultos posteriormente, quando as condições climáticas voltarem lhes serem favoráveis.
Início da infestação da praga na lavoura de café
Terminado o período chuvoso, ou em uma estiagem prolongada com altas temperaturas, a infestação do bicho-mineiro inicia-se nos talhões da lavoura através de adultos emergidos de crisálidas presentes nos cafeeiros, da infestação do ano anterior, que permanecem vivas em dormência. Assim, inicialmente na lavoura são vistas somente nuvens de adultos, sem nenhuma mina nas folhas do cafeeiro.
A partir daí, as mariposinhas fêmeas são copuladas e colocam ovos nas folhas dos cafeeiros, iniciando o primeiro ciclo evolutivo da praga, que é de pequena duração em regiões de clima quente, e de maior duração em regiões cafeeiras de clima mais ameno.
Bicho-mineiro na cafeicultura do Sul de Minas
Curva de flutuação populacional
Na cafeicultura de clima mais ameno, o ciclo evolutivo do inseto se alonga, gastando-se mais tempo para completá-lo. Em consequência, suas infestações são menores em comparação àquelas que ocorrem na cafeicultura de clima quente.
Outro fator que contribui para as baixas infestações da praga em algumas regiões como o Sul de Minas é a ocorrência significativa de seus inimigos naturais (parasitóides e vespas predadoras), que parasitam e comem suas lagartas no interior de minas nas folhas, estando presentes o ano todo. Assim, a curva de infestação do bicho-mineiro apresenta menores valores, com um só pico populacional em setembro/outubro, coincidindo com as floradas na lavoura (Fig. 2). Daí o seu controle ser simples e eficiente, antecedendo esse pico de infestação.
Monitoramento e controle químico
O monitoramento da infestação do bicho-mineiro é feito somente para a fase de pulverizações. Assim, a primeira fase consiste na aplicação preventiva de inseticida sistêmico em outubro/novembro, só ou em mistura com um fungicida também sistêmico, visando o controle simultâneo e também preventivo da ferrugem nas folhas, principal doença do cafeeiro. A segunda fase, complementar, consiste em monitorar sua infestação nos talhões da lavoura, separadamente, visando aplicar inseticida em pulverização. O monitoramento consiste em coletar, aleatoriamente, 200 folhas em aproximadamente20 plantas, do 2º ao 5º par de folhas, no limite dos terços médio/superior. Após, separar as folhas minadas e as sadias, calculando-se por regra de três a porcentagem de folhas minadas.
O controle químico é realizado com pulverização de inseticidas ao se constatar 30% ou mais de folhas minadas em cada talhão da lavoura. São recomendadas uma a duas pulverizações, geralmente no período junho/agosto, para evitar que ocorra o pico de infestação do inseto em setembro/outubro. A segunda pulverização deve ser realizada 30 dias após a primeira, se ainda forem observadas lagartas vivas dentro das minas ou lesões. Em pulverização estão registrados muitos inseticidas de diferentes grupos químicos. Eficiente controle do bicho-mineiro para as regiões Sul de Minas e Alta Mogiana tem sido proporcionado pela mistura de um inseticida fosforado com um fisiológico (novalurom, lufenurom e outros) em dosagens normais. Outros inseticidas eficientes são o rinaxipir, flupiradifurone e a mistura de cartape e fenpropatrina. Se for necessária uma segunda pulverização, rotacionar o fosforado com o cartape ou vice-versa. Fazer o teste em branco para calcular o volume de água a ser aplicado por hectare; não fixar em 400L de água para qualquer lavoura. Reduzir o pH da calda inseticida para aproximadamente 5,5 e usar espalhante adesivo. Não pulverizar nas horas mais quentes do dia, para evitar evaporação de gotas.
Infestações atípicas de bicho-mineiro
Se ocorrer infestação atípica de bicho-mineiro até novembro, como em 2014, 2015 e 2020, devido ao atraso das chuvas, não há necessidade de seu controle nesse mês, pois com o início das chuvas e da emissão do novo enfolhamento do cafeeiro, sua infestação se diluirá, não ocorrendo queda de folhas minadas.
Ao contrário, se ocorrer infestação do inseto a partir de crisálidas do ano anterior, em janeiro/fevereiro, numa possível estiagem (veranico), realizar seu controle com uma única pulverização de inseticidas, preferencialmente em mistura de produtos. Ainda, se a infestação do bicho-mineiro se antecipar para março/abril, antecipar também o seu controle no ano para essa época. O importante é não se descuidar do bicho-mineiro, monitorando-o sempre. Após o controle químico da praga, as folhas minadas permanecem no cafeeiro, continuando a realizar fotossíntese. Em lavouras novas, em formação, o controle do bicho-mineiro é feito assim que ocorrer a praga, sem a necessidade de monitoramento.
Bicho-mineiro na cafeicultura do Cerrado Mineiro
Curva de flutuação populacional
Na cafeicultura do Cerrado Mineiro, de clima quente, e na região de sua transição com o Sul de Minas, ocorrem dois picos populacionais do bicho-mineiro durante o ano, sendo o primeiro em abril/maio e o segundo em setembro/outubro, ou até mesmo em novembro, se ocorrer atraso no início das chuvas (Fig.3). Nessas regiões o seu controle é específico, através da aplicação preventiva de inseticida sistêmico em outubro/novembro do ano anterior e fevereiro do ano seguinte, para evitar a ocorrência de seus dois picos de infestações.
Complementando o controle da praga durante o ano, duas ou mais pulverizações de inseticidas são requeridas no período seco, sendo a primeira quando for constatado nos talhões da lavoura, separadamente, 20% ou mais de folhas minadas no limite dos terços médio/superior dos cafeeiros. O monitoramento da infestação do inseto é igual ao já descrito para a cafeicultura do Sul de Minas. Outras duas pulverizações são requeridas, sendo a segunda realizada 30 dias após a primeira. A terceira pulverização é feita se ocorrer reinfestação do inseto, o que certamente acontecerá, através de lagartas vivas em minas ou lesões nas folhas.
Infestações atípicas do bicho-mineiro
Se a infestação do bicho-mineiro se prolongar até novembro, devido ao atraso das chuvas, sugere-se o seu controle com o objetivo de reduzir sua infestação no ano seguinte. Fazer uma única pulverização com a mistura de cartape, fenpropatrina e um fisiológico, em dosagens normais. Mesma recomendação para uma possível estiagem no período chuvoso, em janeiro/fevereiro, antes da aplicação de inseticida sistêmico no solo.
Difícil controle do bicho-mineiro em regiões de clima quente
Desde quando a cafeicultura foi implantada no Cerrado Mineiro, de clima quente, no início da década de 1970, há aproximadamente 50 anos, o bicho-mineiro ocorre nas lavouras de café em altas infestações, resultando em desfolhas drásticas dos cafeeiros, daí a importância do seu controle químico. Desde aquela época, muitos inseticidas aplicados em pulverização (piretróides, fosforados, fisiológicos e rinaxipir), antes muito eficientes, perderam-se na após algum tempo, caindo em desuso.
Em consequência, o controle químico, principalmente complementar, com pulverizações de inseticidas no período seco, não tem apresentado a eficiência requerida, inclusive o próprio rinaxipir, antes considerado como a grande solução no controle do bicho-mineiro. Devido a essa realidade, muitos cafeicultores estão fazendo pulverizações com os mais diversos inseticidas, inclusive em mistura de três a quatro deles, sem sucesso e num custo elevado. Assim, o bicho-mineiro tornou-se o principal problema na cafeicultura de regiões de clima quente, estando já em reestudo pela Epamig.
Resultado do controle do bicho-mineiro Uma vez controlado o bicho-mineiro nas folhas do cafeeiro, através da morte de suas lagartas nas minas de qualquer tamanho, as folhas minadas se mantêm na planta, provavelmente pelos inseticidas aplicados no solo e em pulverização atuarem inibindo a síntese do hormônio etileno, além de induzir intenso vigor ao cafeeiro. Ainda, fazer com que os cafeeiros não apresentem nenhuma folha minada é praticamente impossível, o que requereria um grande número de aplicações preventivas de inseticidas em pulverizações, sendo inviável. Assim, os cafeicultores devem conviver com folhas minadas nos cafeeiros de suas lavouras, já que essas, mesmo minadas, continuam realizando fotossíntese.
Engo Agro D. Sc. Júlio César de Souza
Entomologista – Pesquisador
CREA no 10.308/D 4a Região – Lavras/MG
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