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Mercado Agro: Como estará o agro brasileiro na próxima década?

É inegável a importância do agro para o nosso país e para o mundo. Desde a década de 70, o Brasil vem ampliando sua oferta de alimentos, fibras e outros agroprodutos a fim de suprir as demandas tanto domésticas quanto do mercado externo. Para ilustrar o crescimento do nosso agro em um contexto histórico, vamos destacar alguns resultados de um estudo conduzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério da Economia.  

A pesquisa coletou dados dos produtos (incluindo lavouras e produção animal) e de insumos (área de terras, máquinas, mão-de-obra, fertilizantes, defensivos, entre outros) para calcular a Produtividade Total dos Fatores (PTF), que relaciona as taxas de crescimento entre os dois índices. A partir disso, foi possível observar que de 1975 até 2020, o produto da agropecuária cresceu mais de 5 vezes (de 100,0 para quase 504,9), enquanto o índice de insumos obteve um pequeno aumento de 100,0 para 133,5. Como resultado, a Produtividade Total de Fatores passou de 100,0 para 378,2 nesse período, o que demostra o grande ganho de eficiência conquistado pelo setor.

Ainda segundo o Ipea, que cruzou esses dados com informações divulgadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil começou a liderar a PTF mundial a partir dos anos 2000. Os financiamentos da produção, políticas de crédito, seguro, subsídios e investimentos em pesquisa trouxeram ganhos sem precedentes ao nosso país.

Olhando para o futuro, a pesquisa anual divulgada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), constatou que a produção de grãos no Brasil está prevista para crescer 24,1% nos próximos 10 anos, atingindo uma impressionante marca de quase 390,0 milhões de toneladas na safra 2032/33. Em comparação com os níveis da safra atual (320,0 milhões de toneladas), esse valor representa um aumento de 70,0 milhões de toneladas, equivalendo a uma taxa de crescimento em torno de 2,5% ao ano.  

Em termos de área cultivada, espera-se que a extensão passe dos atuais 78,3 milhões de hectares para cerca de 92,3 milhões de hectares. Vale lembrar que esse acréscimo de 14 milhões de hectares (+17,9%) deve vir, principalmente, da conversão de áreas de pastagens degradadas em agricultura. Ou seja, o aumento da produtividade deve continuar sendo fator determinante para a agropecuária na próxima década.

Dentro desse cenário, as culturas que irão se destacar serão a soja, o milho de segunda safra e o algodão. Os dois primeiros, inclusive, podem ter uma pressão na demanda devido ao aumento da sua utilização em biocombustíveis, como o biodiesel e o etanol de milho. Prevê-se que a produção de soja alcance a marca de 186,7 milhões de toneladas em uma década (+20,6%). Já a projeção da exportação da oleaginosa em grão está em 121,4 milhões de toneladas (+27,7%), com participação prevista de 60,6% nos embarques mundiais.

Já no milho, a produção deverá atingir 159,8 milhões de toneladas em 2032/33 (+27,0%) e os embarques devem corresponder a 65,9 milhões de toneladas, representando uma participação de aproximadamente 30% no total mundial, o que deve nos consolidar de vez como líder global no comércio do cereal. Por fim, o algodão tem como meta atingir 3,6 milhões de toneladas (+26,8%), respondendo por 12,5% da produção global. Estados Unidos, Brasil e Índia devem ser os principais players desse mercado.

Na pecuária, a estimativa da produção total das carnes bovina, suína e de frango é de alta de 6,6 milhões de toneladas na próxima década (+22,4%), passando de 29,6 para 36,2 milhões de toneladas. O crescimento desse nicho deve ser protagonizado pela carne de frango e suína, com altas de 28,1% e 23,2%, respectivamente. Por sua vez, a carne bovina deverá crescer 12,4%, sendo que o Brasil deve seguir na liderança desse mercado, atendendo a demanda de 28,5% do consumo mundial da proteína.

Os números são realmente impressionantes e o nosso país tem o potencial de alcançá-los de forma igualmente notável. Muitos foram os avanços até aqui, mas ainda há alguns desafios pela frente para chegarmos a esse patamar: os problemas de armazenamento; a logística; a mão-de-obra capacitada; a dependência de insumos; e outros. Vamos trabalhar para vencê-los e, quem sabe, somar valores ainda maiores. Avante, agro!

Colaboração de:

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness Scholl (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração pela FEA-RP/USP e Instrutor “In Company” na Harven Agribusiness School. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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