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Nematoides: Identificação, Manejo e Prevenção

Nematoides fitoparasitos são vermes microscópicos que vivem no solo e colonizam o sistema radicular das plantas, obstruindo as raízes e dificultando a absorção de água e nutrientes, sintomas que podem levar a falsa impressão de deficiência nutricional. Essas características específicas dificultam sua identificação, fazendo com que o produtor perceba sua presença apenas quando eles já estão em altas populações, manifestando danos. A essa altura o estrago já está feito e pouco se tem a fazer para amenizar o problema naquela safra. Por isso, diferentemente de pragas e doenças comuns, não se faz “controle” e sim “manejo” de nematoides, pois as soluções para esse problema não são imediatas, e devem ser tratadas com seriedade, antes mesmo da instalação da cultura.

Identificando o problema

O primeiro passo no manejo de nematoides é a amostragem. Nematoides normalmente se manifestam em reboleiras, sendo esse o primeiro sinal claro do problema. Como nem sempre as reboleiras são visíveis, é importante que se façam amostragens rotineiras de solo e raízes das plantas para detectar o problema ainda no seu início. As amostras devem ser coletadas na área da maneira mais representativa possível, separando os talhões com características distintas. As coletas devem ser em zig-zag, em torno de 10 pontos por talhão para ser formar uma amostra. Quanto mais amostras coletadas, mais representativo será o laudo. Nas reboleiras, é importante coletar em pontos, dentro, fora e principalmente nas extremidades.

Nematoides são organismos vivos, portanto, alguns cuidados são importantes para conservá-los até o laboratório. O solo (1 Kg) e as raízes (500g) devem ser colocados juntos no mesmo saquinho, que deve ser de plástico e identificados corretamente. É importante que as amostras não fiquem expostas ao sol e a altas temperaturas após a coleta, podendo ser armazenadas em caixa de isopor, ou em geladeira, jamais congelar, até serem encaminhadas ao laboratório. A escolha de um laboratório de confiança, com um profissional capacitado para a identificação, também é fundamental.

Principais espécies

Nematoides de galha (Meloidogyne spp.) – Os nematoides de galha atacam praticamente todas as culturas, e como o próprio nome diz, são facilmente percebidos pelo engrossamento total ou de alguns pontos das raízes. Além dos sintomas nas raízes, é comum que as plantas se tornem menores, amarelecidas e menos produtivas, sendo normalmente encontradas em reboleiras bem definidas. As espécies de nematoides de galha mais comuns em HF são Meloidogyne incognita, Meloidogyne javanica e Meloidogyne enterolobii. A identificação correta de cada uma é fundamental para se realizar o manejo específico, principalmente na hora da escolha de cultivares resistentes.

Nematoides das lesões (Pratylenchus spp.) – O nematoide das lesões radiculares está amplamente distribuído no Brasil. De modo geral, a espécie mais importante é Pratylenchus brachyurus, pois parasita praticamente todas as culturas, mas também podem ocorrer em algumas HFs P. zeae, P. vulnus, P. coffeae e P. jahenny, embora sejam menos comuns. O sintoma típico desse gênero é a presença de lesões necrosadas nas raízes. As lesões são normalmente associadas à presença de outras doenças de solo, como os fungos Rhizoctonia e Fusarium. As plantas, além de menos produtivas, apresentam porte menor e, às vezes, amarelecimento nas folhas, com reboleiras menos definidas.

Manejo de nematoides

O melhor manejo para nematoides é o preventivo, evitando que o nematoide entre na área. Medidas simples como lavar as rodas e implementos, retirando o solo aderido ao sair de um talhão para outro, pode evitar significativamente a entrada do patógeno. Começar os tratos culturais em áreas isentas ou menos infestadas primeiro também é uma boa medida. Outro ponto importante é adquirir apenas mudas certificadas, quando for o caso. Depois que o nematoide infesta a área, não é possível erradicá-lo, apenas conviver com ele.

O uso de cultivares resistentes, quando disponíveis, é um dos métodos mais eficientes de manejo. Além de reduzir perdas, o produtor evita a multiplicação do patógeno na área. Há também cultivares que são ditas como tolerantes e, embora elas suportem melhor a infestação, podem aumentar muito a população do patógeno, o que pode gerar um problema sério para a próxima safra. Ao escolher uma cultivar, é importante se atentar ao Fator de Reprodução (FR) para cada espécie de nematoide. O FR é a capacidade que uma cultivar tem de multiplicar a população inicial do patógeno. Por exemplo, uma cultivar com um FR de 2,5, pode aumentar em 2,5 vezes a população de nematoide até o final do seu ciclo. Dito isso, cultivares que apresentam FR < que 1 são preferíveis.

Outra ferramenta indispensável no manejo de nematoides é a rotação e sucessão de culturas. Esse método, além de beneficiar as qualidades, químicas, biológicas e estruturais do solo, pode reduzir significativamente a presença de nematoides. Mas, para isso, é preciso que as plantas utilizadas não sejam hospedeiras das espécies presentes. Há também plantas consideradas como antagonistas, como por exemplo, as crotalárias spectabilis, breviflora e ochroleuca, que quando utilizadas em rotação são excelentes no manejo de Meloidogyne, Pratylenchus e de outros nematoides. Além da rotação de culturas, práticas culturais como destruição de restos culturais, especialmente as raízes, remoção de plantas daninhas, adubação orgânica e revolvimento e solarização do solo, são ferramentas de manejo importantes que devem ser levadas em consideração pelo produtor.

Uma série de produtos biológicos e químicos tem sido registrada para o controle das principais espécies de nematoides e são ferramentas indispensáveis no manejo. Produtos biológicos, de modo geral, apresentam ação mais branda, porém mais prolongada ao longo do ciclo, sendo potencializados quando há um bom manejo de matéria orgânica no solo. Já os produtos químicos têm um maior efeito de choque, o que ajuda a planta a se estabelecer melhor logo nas primeiras semanas de desenvolvimento, entretanto, há uma tendência de aumento acelerado da população dos nematoides após o fim do período residual. A escolha do tipo de produto vai de acordo com o perfil da cultura e do produtor.

Nematoide é um problema sério e silencioso, e não deve ser subestimado. Portanto, realizar amostragens periódicas para detectar o problema ainda no início e evitar sua disseminação para o resto da fazenda é fundamental. É importante salientar que o sucesso no manejo de nematoides não se baseia apenas em uma única estratégia, mas sim na associação de várias medidas. Embora não seja possível erradicá-lo, muito se pode fazer para conviver com ele sem que se tenham maiores prejuízos.

Daniel Dalvan do Nascimento, doutorando em Agronomia, Unesp/FCAV Campus de Jaboticabal.

Marcos Alan do Nascimento, consultor especialista em hortifrúti da Coopercitrus

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