Hoje, os insumos biológicos, ou bioinsumos, são considerados essenciais no Manejo Integrado de Pragas (MIP) para complementar o uso de outras ferramentas mais tradicionais, como os defensivos químicos. De fato, o controle biológico tem se mostrado cada vez mais eficaz no manejo de pragas e doenças, justificando sua adoção em constante crescimento na agricultura brasileira.
Quando se fala em controle biológico, deve-se destacar a cana-de-açúcar pelo pioneirismo ao receber produtos biológicos. Por exemplo, o uso de Cotesia flavipes para controlar a broca-da-cana, sendo considerado o programa mais bem-sucedido até hoje.
Outra alternativa para controle biológico é o uso da vespinha Trichogramma galloi, que parasita os ovos da broca-da-cana.
A associação das vespinhas C. flavipes e Trichogramma galloi tem garantido excelente controle, visto que atuam em diferentes fases de desenvolvimento da praga (ovo e lagarta). Três liberações semanais consecutivas de T. galloi e uma de C. flavipes acarretam uma diminuição de mais de 60% no índice de intensidade da infestação causada pela broca.
A indústria de biológicos está constantemente inovando em produtos, formulações e tecnologia de aplicação. No caso da Cotesia flavipes, a grande evolução está no modo de liberação das vespas, que, até então, era feita de forma manual. A pessoa tinha de andar no meio do canavial e pendurar o copo com as massas na cana; com o surgimento dos drones, adaptou-se um dispenser na parte de baixo do equipamento, possibilitando a liberação de cápsulas contendo as massas de Cotesia flavipes. Esse novo método traz mais agilidade, segurança e eficiência no controle.
Foto da liberação de Cotesia flavipes com drone
Outra praga que tem ganhado destaque no setor é o Sphenophorus levis. Seu controle é difícil e complexo, uma vez que o adulto fica escondido na palha, e a broca fica no interior do rizoma, onde se alimenta e causa dano à soqueira. O uso dos fungos Metarhizium sp e Beauveria bassiana tem colaborado muito para o manejo dessa praga, pois eles têm a capacidade de infectar a larva e o adulto, causando sua morte. A aplicação desses fungos pode ser realizada com jato dirigido ou em barra total no início do período das chuvas, quando há umidade para a obtenção da eficiência plena desses produtos. Como esses organismos dependem do meio para se multiplicar e desenvolver, no período seco do ano, pode ser que o clima desfavorável os prejudique, causando sua morte e diminuindo o controle da praga.
Outro grupo de pragas que causa severos danos às lavouras, quando não controlado, é o dos nematoides. Por formarem estruturas de resistência e atacarem várias espécies de plantas, eles são de difícil controle. Uma alternativa interessante para o manejo de nematoides na cana é o controle biológico, por meio do uso de organismos vivos, como bactérias. O uso de bactérias do gênero Bacillus sp vem sendo empregado com sucesso. Elas têm a capacidade de se associar às raízes, onde se alimentam dos exsudados da planta e criam um microfilme sobre a raiz, além de produzirem compostos antimicrobianos e fitormônios (promotores de crescimento), solubilizarem nutrientes etc.
Deve-se ter muito cuidado com a Bacillus sp e a comparação de produtos. Cada cepa do Bacillus sp tem sua especificidade, ou seja, dependendo da cepa, ela vai ser melhor em produzir algum tipo de produto mais específico. Por exemplo, há produtos à base de Bacillus sp que são comercializados como solubilizadores de nutrientes, outros para controle de nematoide e outros para aplicação via folha para controle de fungos.
Além de vantagens como ação tóxica contra patógenos e nematoides e a promoção de crescimento nas plantas, a aplicação de Bacillus subtilis apresenta outros benefícios, como: menor custo que o químico; fácil aplicação; boa eficiência; baixa toxidez; ausência de resíduos no ambiente; aplicação em diversas culturas; dispensabilidade de período de carência.
Por outro lado, a utilização dessa ferramenta apresenta algumas desvantagens, como: necessidade de um ambiente favorável para o seu desenvolvimento; necessidade de maiores cuidados no transporte e armazenamento; possibilidade de ter incompatibilidade com alguns produtos, principalmente inseticidas e fungicidas. Nesse caso, quando for usar um produto biológico em mistura, deve-se pedir para a empresa fornecer a compatibilidade entre eles. Essa compatibilidade vai depender de cada produto biológico, pois varia de acordo com a formulação, meio em que o organismo foi produzido e, até mesmo, volume de calda usado.
Foto do trabalho conduzido pelo corpo técnico da Coopercitrus (DTM) e pela Empresa Vittia, demonstrando o uso de produtos à base de Bacillus sp e Trichoderma sp para controle de nematoide e podridão abacaxi, no sulco de plantio. Data de plantio 29/03/2021 e data da foto 11/02/2022.
No mercado, há muitas empresas que criam produtos biológicos com várias formulações, diferentes cepas, diferentes microorganismos, o que, muitas vezes, causa confusão aos produtores. Por isso, procure sempre trabalhar com empresas idôneas que já tenham tradição e conhecimento técnico na produção de biológicos. E sempre siga as recomendações da empresa. Para mais informações, procure uma de nossas unidades ou entre em contato com nossos consultores técnicos comerciais.
Autores:
Cristiano José do Amaral
Adriano Veronez da Silva
Marcos Antônio Zeneratto
Ricardo de Souza Madiolo
Equipe de Especialistas Agropecuários do Departamento de Desenvolvimento Técnico e Mercado da Coopercitrus.