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Participação social e desenvolvimento econômico

Viviani Silva Lirio

Durante muito tempo, os termos “crescimento econômico” e “desenvolvimento econômico” foram apresentados como sinônimos ou entendidos como substitutos próximos em textos e discussões. No entanto, particularmente a partir do reconhecimento da importância dos aspectos sociais na compreensão da saúde econômica e mercadológica de regiões e países, aos poucos, pesquisadores e estudiosos iniciaram um processo de reforço na distinção desses dois termos. Em outras palavras, passaram a visibilizar que o desenvolvimento econômico vai além do acompanhamento de resultados de produção e produtividade, buscando compreender os ganhos existentes nas diferentes categorias sociais de absorção do produto gerado.

            Se compreendermos a participação social tal como preconizam Medeiros e Borges (2007), ou seja, como sendo “a efetiva participação dos cidadãos nas decisões políticas e de interesse público relacionadas à comunidade”, percebemos que ligar a participação social ao desenvolvimento econômico impõe compreender essa mesma sociedade como uma força diretamente atuante no motor econômico, isto é, dentro desse contexto, entender a participação social como elemento importante na construção do desenvolvimento (local, regional e nacional) torna-se cada vez mais relevante, pois faculta seu sentido participativo e colaborativo. Na prática, contudo, esse entendimento não teve a fluidez eventualmente suposta, fortalecendo-se ao longo do século XX a partir de lutas sociais significativas que culminaram na ampliação do poder social e nas condições legais de participação da sociedade  em diferentes espaços: políticos, corporativos, institucionais e administrativos, todos eles decisórios em alguma medida.             De toda sorte, é certo que um dos pesquisadores mais importantes nesse debate – e talvez um dos precursores da efetiva segmentação entre crescimento e desenvolvimento econômico – foi Amartya Sen, um dos criadores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador atualmente muito utilizado no acompanhamento das condições de vida e do bem-estar da sociedade. Ele e outros estudiosos, preocupados com a crescente convergência e centralização da renda no mundo e particularmente em países menos

desenvolvidos, ajustaram o olhar para uma perspectiva mais inclusiva da apropriação dos ganhos produtivos e abriram o debate sobre a importância de se canalizar os ganhos produtivos ao longo de toda a sociedade.

            No caso do desenvolvimento rural, vale destacar as interessantes contribuições da narrativa de Petrus e Pereira Júnior (2016), que analisam os comportamentos comunitários rurais referentes à participação social e os seus efeitos no desenvolvimento local. Apesar de se tratar de estudo feito para uma localidade específica no Nordeste brasileiro, as discussões abrem interessante reflexão sobre a importância da ativa participação social no meio rural. Para os autores, tal participação é fundamental para o desenvolvimento local, portanto, deve haver incentivo à organização social formal, estimulando a atuação dos cidadãos nos órgãos representativos, nas câmaras setoriais e em outros espaços. Todavia, para que isso ocorra, é importante também que exista movimentação institucional para que os empresários rurais de todos os portes se sintam partícipes reais desse movimento, independentemente de sua representatividade econômica.

Nesse sentido, é corresponsabilidade das entidades representativas, das integradoras, dos parceiros, das escolas rurais, das cooperativas e das associações o fomento à participação ativa dos produtores e de suas famílias para que exista mais assunção de responsabilidades e, ao mesmo tempo, mais significado nas tomadas de decisão sobre os usos de recursos e a destinação de investimentos no meio rural. Mais que uma reflexão utópica, trata-se de possibilidade concreta, já efetivada em locais como a Itália, a França, a Nova Zelândia e outros países, onde a compreensão da importância da participação social ativa já ganhou contornos sólidos. Caberá a nós, aqui, nesses amplos espaços rurais brasileiros, estimular a participação social crescente, agregada e ativa a fim de que o agro seja cada vez mais reconhecido em sua fortaleza e tenha efetiva contribuição para o desenvolvimento econômico no Brasil.

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