CULTURAS

Requeima na Bataticultura: Desafios Fitossanitários e Estratégias de Manejo

A requeima, causada pelo Phytophthora infestans, é um problema grave na bataticultura, exigindo estratégias de manejo eficazes.

A bataticultura tem um grande desafio para quem a produz, devido ao grande número de problemas fitossanitários que assolam o ciclo inteiro da cultura.  Trazemos sementes de outros países e de outras regiões dentro do Brasil, facilitando a dispersão de pragas e doenças com mais facilidade. A doença com maior expressão e severidade é a requeima, causada por Phytophthora infestans, deteriorando facilmente a parte aérea, podendo também infectar todas as demais partes da planta. Seria interessante termos genótipos de batata com mais resistência à pragas e doenças e com maior durabilidade em pós-colheita, porém não temos essas facilidades e temos que trabalhar com detalhes tanto em preparo de solo quanto em nutrição e resistência, que irão nos ajudar a ter um melhor controle fitossanitário.

Essa doença ficou conhecida mundialmente quando desolou a Irlanda em meados do século XIX e matou aproximadamente 2 milhões de pessoas, onde a população se alimentava basicamente de batata. Essa doença apareceu e acabou com as lavouras e a população ficou sem o alimento base de toda alimentação local.

Vários patógenos podem viver por muito tempo no solo, como é o caso da Phytophthora que, dependendo do clima, podem aumentar consideravelmente e perigosamente, dispersando por completo na lavoura de batata. Hoje existem muitos trabalhos realizados onde o mesmo patógeno não produz o mesmo efeito na mesma cultura com nutrição diferente. Isso prova que a doença vegetal depende da nutrição da planta. Esse patógeno está disseminado em todas as áreas produtoras de batata, porém, algumas lavouras se perdem com a doença, mesmo utilizando os mesmos defensivos químicos, e outras conseguem um melhor controle. O que elas têm de diferente é o solo e a sua fertilidade.

Sintomas

O patógeno é capaz de afetar todos os órgãos da planta, principalmente as folhas, onde se manifestam os sintomas mais típicos, mas que também podem ser observados nos tubérculos. Nas folhas, os sintomas se iniciam como lesões aquosas, com rápido crescimento no limbo foliar e que, em pouco tempo, provocam a necrose, apresentando bordos de tonalidade verde mais clara se comparada com a dos tecidos sadios. Sob alta umidade, pode ocorrer a formação das estruturas do patógeno, geralmente na face abaxial das folhas (figura 1). Sob condições de surtos epidêmicos, as lesões coalescem e destroem as folhas de forma rápida, dando aspecto de queimada, o que originou o nome característico da doença. Em pecíolos e caules, o ataque do patógeno pode resultar na morte da porção acima das lesões (figura 2). Em tubérculos, ocorrem uma podridão seca inicialmente marrom, que escurece com o tempo, chamada de mancha-chocolate (Miranda & Silva, 2017).

Clima adequado

É favorecida por temperaturas de 15°C a 20 °C e alta umidade relativa do ar (acima de 90%). Climas amenos com aquele orvalho no início da manhã são bem propícios ao desenvolvimento e infecção da planta. Em locais com temperatura acima de 30° C a doença não se manifesta, porém, continua na área e quando tiver as condições favoráveis começam os ciclos de infecção.

Desequilíbrio Nutricional

Lavouras com deficiência de potássio, fósforo e com excesso de nitrogênio são certeiras para o aparecimento da doença, até mesmo mais certo do que o próprio clima em si. Algumas regiões produtoras chegam a usar 200 pontos ou mais de nitrogênio no ciclo da cultura e colhem boas produtividades, porém, sofrem muito com requeima, canela preta e com escurecimento/podridão de cargas que são enviadas para locais mais distantes, onde a batata não aguenta viagem sem ser acondicionada em caminhão câmara fria. É fato que, para pragas e doenças, sempre se tem associado uma deficiência mineral, sendo a sanidade das raízes um dos fatores mais importantes.

O excesso de nitrogênio faz com que diminua a absorção de potássio, cálcio e magnésio, que trabalham pela resistência da planta. Sabe-se ainda que a requeima (Phytophthora infestans) vive de substâncias nitrogenadas e que, para absorção adequada de potássio, necessita de zinco, iodo e lítio, essenciais para prevenção da Requeima. Quanto mais se coloca nitrogênio, sem balancear os elementos já citados, mais fácil será a entrada da requeima. Citamos que necessita daquele clima ameno e com lâmina d’agua para dispersar a requeima, sendo que em época chuvosa e fria é fácil perceber as lavouras com ataques severos da doença, pois o potássio é facilmente lavado do solo e com o excesso de nitrogênio piora a condição, diminuindo a resistência da planta e facilitando a entrada da Phytophthora. Em relação à fonte de potássio a ser usada, é de bom grado dar preferência ao sulfato em detrimento ao cloreto, pois batata não gosta de cloro.

Pontos relevantes

  • Evitar acidificação do solo, que dificultará a vida dos fungos patogênicos.
  • Restringir nitrogênio. Controlar as doses e as fontes de nitrogênio que serão colocadas na lavoura de batata. Restringir não é eliminar ou colocar doses insuficientes, é apenas ajustar para se obter um equilíbrio ideal com cálcio e potássio.
  • Reestabelecer a vida do solo, reestabelecer a estrutura fofa (grumosa), facilitando a nutrição adequada da planta.

Muitas doenças com alta severidade, como é o caso da requeima, são difíceis de ter um bom controle. É cada vez mais fica dificultoso ter bom controle somente com o defensivo químico. Solo com vida, grumoso e planta com boa estruturação nutricional são, de longe, menos afetadas por essas doenças.

Controlar o nitrogênio sem deixar excesso, abastecer de cálcio, magnésio e potássio, visando um bom equilíbrio nutricional, já garante boa parte do sucesso de se ter uma lavoura sem requeima.

Considerações

Sempre buscar o equilíbrio na condução da lavoura, pensar na planta como um todo e sempre pensar no solo, água e nutrição como um tripé de produção. O manejo adequado quem dita é a própria cultura, pois tudo que é vivo está submetido às leis da natureza.

Por Débora dos Santos Lopes, Consultora Especialista em hortifrúti da Coopercitrus

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