Viviani Silva Lirio
“Resistir” significa manter-se firme, não sucumbir. “Ceder”, por outro lado, significa abrir mão, renunciar a algo. Nos dicionários, esses termos são apresentados como antagônicos, como frontalmente distintos. Todavia, quando pensamos em resiliência — entendida como a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças —, as duas palavras mencionadas podem ser parceiras e utilizadas de maneira cooperativa. Afinal, decidir quando resistir às mudanças ou quando ceder a elas e em que medida se fará cada um desses movimentos está no cerne da resiliência empresarial e tem se tornado, gradativamente, um dos mais relevantes atributos de um bom gestor.
Os últimos anos têm sido particularmente desafiadores para os empresários brasileiros — e apesar das virtudes produtivas do agro, os negócios agrícolas não são exceção. O aumento da imprevisibilidade macroeconômica, os desafios climáticos e as instabilidades políticas somaram-se de maneira complexa, exigindo maior grau de conhecimento e capacidade de gestão técnica e financeira. Dia após dia, as rotinas e práticas conhecidas tornam-se impróprias ao ambiente mais volátil em que vivemos e estratégias válidas, amplamente utilizadas no passado, aos poucos, mostram sinais de obsolescência. Como sobreviver neste ambiente instável? A resposta a essa pergunta é complexa, mas há alguns atributos e habilidades que podem ser citados como fundamentais, constituindo as partes de um todo que envolve a resiliência empresarial. O primeiro refere-se ao real conhecimento do negócio e seu mercado (incluindo o público-alvo). Muitas vezes, as organizações movem-se — em termos de adequação — muito mais lentamente do que as oscilações e tendências da demanda, criando hiatos de atendimento e abrindo espaço para a perda de parcelas importantes de mercado. Se, por um lado, é certo que vivemos em um país onde o “custo dos negócios” é altíssimo, por outro, não lidar com essa situação pode ser ainda mais grave, pode ser fatal. Reconhecer as mudanças — de padrões, gostos, tendências de acesso, requerimento de facilidades de uso, entre outros — é fundamental à manutenção da capacidade de manter-se ativo, visível e desejado mercadologicamente. Assim, investir
em aprendizagem e aceitar a necessidade de transformação como um processo natural são dois passos importantes para a manutenção e, ou, a expansão das fronteiras de atuação.
Além disso, é preciso reconhecer a importância — individual e coletiva — da transformação, para melhor, de cada contributo socioeconômico e ambiental. Mais do que uma palavra, o termo “sustentabilidade” precisa ser reconhecido como uma necessidade que reflita uma nova forma de produzir, agir, consumir… em essência, uma nova forma de viver. Essas transformações vão muito além do que se pode atribuir a um olhar para a “economia verde”, pois trata-se de reconhecer que há valor social, econômico e ambiental nessa transformação. Sobre esse tema, lanço mão das excelentes reflexões do professor Ricardo Abramovay, quando ele destaca que, na nova ordem que se apresenta, o foco precisa se deslocar dos esforços pelo aumento da produtividade do capital e do trabalho para a produtividade dos recursos, considerando a sua finitude. Portanto, o uso desses recursos deve ser “inteligente, eficiente e parcimonioso de matéria, de energia e da própria biodiversidade”.
Por fim, é preciso que a equipe de gestão dos negócios seja coesa, mas ativa em reflexão, o que implica saber ouvir e lidar com divergências. Em outras palavras, as lideranças precisam ser atuantes junto às suas equipes, abrindo-se, prudentemente, a novas ideias. Isso envolve investimento em capital humano, em reconhecimento de habilidades, em flexibilização de rotinas e, acima de tudo, em capacidade de identificar adequadamente as virtudes, as habilidades e os desafios dos colaboradores, do perfil da gestão e do negócio em si. Naturalmente, esse não é um movimento fácil, mas é importante e exitoso. Ressalto que os temas pontuados são vastos e têm peculiaridades importantes quando são analisados setores específicos (como o agro, em suas diferentes dimensões). Assim, reconhecer a importância de se lidar saudavelmente com as mudanças e diferenças torna-se, aos poucos, pré-requisito para o uso eficiente dos recursos produtivos e mesmo para o acesso a mercados mais rentáveis. Por isso mesmo, ser resiliente passa, aos poucos, de um atributo gerencial complementar a uma conduta imprescindível; de uma palavra desconhecida a um termo de uso comum, mas que não deve, em hipótese alguma, transformar-se em um jargão sem lastro.