Produzido em mais de uma centena de países, o tomate Solanum lycopersicum L. está presente em nossa mesa desde as mais simples formas, como a salada, até produtos industrializados, como molhos e extratos. No Brasil, o tomate se destaca como uma das principais hortaliças, sendo cultivado em todas as regiões, principalmente nos estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais, os quais concentram mais da metade da produção nacional. Por ser cultivado de forma intensiva em campo aberto ou em casas-de-vegetação ao longo de todo o ano, o tomateiro está exposto ao ataque de diversas pragas, como a traça do tomateiro.
Características gerais
O ciclo de vida desse inseto dura entre 26 e 38 dias, do ovo à fase adulto, dependendo da temperatura. Cada fêmea coloca em média 260 ovos de forma isolada na face inferior das folhas, do caule, do pedúnculo e dos frutos. A lagarta eclode de três a cinco dias após a postura e possui cabeça de coloração escura e corpo amarelado (Figura 1). Ela se alimenta do parênquima das plantas e forma galerias irregulares conhecidas como “minas”. Em altas densidades, as lagartas penetram nos botões axilares de caules jovens e/ou frutos de tomate minando-os abaixo das sépalas (Figuras 1 e 2). O hábito alimentar de T. absoluta torna sua presença difícil de ser detectada no período inicial de infestação, resultando em danos severos às plantas jovens.
Ataques severos podem destruir completamente as folhas do tomateiro, promover a seca dos folíolos e, consequentemente, a morte da planta. Além disso, o dano direto causado no fruto afeta diretamente o aspecto visual do produto e o torna impróprio para comercialização. A traça ocorre durante todo o ciclo da cultura, sendo a fase de formação dos frutos o período crítico. Devido aos variados sistemas de cultivo do tomate, múltiplas gerações dessa espécie ocorrem durante o ano, o que favorece elevados níveis de infestação e perdas significativas na cultura. Os períodos mais quentes e secos favorecem sua ocorrência, enquanto, nos períodos chuvosos, são observados menores níveis populacionais. Sua disseminação é feita pelo vento e pelo transporte de frutos atacados.
Monitoramento
O monitoramento de populações da traça em tomate poder ser realizado por meio de armadilhas adesivas com feromônio sexual e/ou amostragens visuais de ovos e lagartas nas plantas. A amostragem de ovos e lagartas, embora seja um método eficiente, demanda grande mão de obra e pode resultar em custos maiores para a cultura. Já as armadilhas com feromônio são capazes de detectar as infestações iniciais de adultos na lavoura e permitem identificar o momento apropriado para adotar medidas de controle.
Táticas de manejo
O controle químico tem sido a principal tática de manejo dessa praga. No entanto, ele é notoriamente difícil devido à ocorrência da traça ao longo do ano, às infestações em início de cultivo e à característica de ataque por meio de galerias e em várias estruturas da cultura. Por isso, o manejo por inseticidas químicos é bastante complexo e, por vezes, pouco eficiente, sendo comum, em cultivos comerciais, mais de 5 aplicações semanais e até 36 aplicações por ciclo de produção do tomate. O uso sequencial de poucos inseticidas químicos tem ocasionado a evolução de resistência em populações e, consequentemente, sua eficácia contra essa praga tem sido reduzida.
O controle cultural pode contribuir para evitar a ocorrência da traça ou mantê-la em baixos níveis populacionais. Entre as medidas, devem-se evitar os plantios sucessivos da cultura na mesma área ou de forma escalonada em cultivos irrigados. A remoção de frutos infestados e a destruição de hospedeiros alternativos também estão entre as principais medidas culturais que podem ser adotadas. Embora a remoção dos frutos nas lavouras de tomate seja uma rotina comum, é necessário que seja realizada a destruição total e mais frequente dos frutos brocados. Como o ataque não está limitado aos frutos, a destruição total de plantas altamente infestadas torna-se necessária para que a medida tenha efeitos significativos. Além do tomate, a traça é capaz de se desenvolver em plantas daninhas, que servem como hospedeiras alternativas, por exemplo, as solanáceas silvestres, o joá-bravo e a maria pretinha. Portanto, medidas de controle de plantas daninhas presentes em áreas de produção durante e entre os cultivos de tomate são necessárias e podem reduzir a pressão da praga na área.
O controle biológico como tática de manejo em cultivos comerciais de tomate tem avançado com sucesso no Brasil e demonstra resultados promissores no manejo da traça do tomateiro. Entre as estratégias promissoras, o uso combinado dos agentes biológicos Trichogramma pretiosum, que é um parasitoide de ovos, e a aplicação do bioinseticida à base da bactéria Bacillus thuringiensis para o controle de lagartas tem apresentado resultados similares ou superiores ao uso de inseticidas químicos, com reduções significativas nos níveis de ataque aos frutos. Além disso, o uso de produtos biológicos favorece o estabelecimento de inimigos naturais da traça, os quais contribuem para manter a população da praga em níveis que não causam danos econômicos à cultura. Com o avanço nas pesquisas e o fomento de indústrias biológicas que fornecem agentes de controle para utilização em larga escala e com custos cada vez mais acessíveis, o controle biológico deverá ser utilizado cada vez mais.
Desde a sua introdução no Brasil, a traça do tomate tem sido um dos principais desafios para a produção dessa cultura. As aplicações excessivas e a baixa eficiência de inseticidas químicos para o seu manejo tem elevado consideravelmente o custo de controle. Somam-se a isso as perdas de produção ocasionadas pelos danos causados pela praga. Nesse sentido, o uso de estratégias integradas que preconizem o monitoramento da população durante e entre os cultivos e o uso de métodos de controle associados mostram-se essenciais para o manejo eficiente da traça e, consequentemente, a produção sustentável do tomateiro.
Por Marcos Alan do Nascimento, Consultor Especialista HF – Coopercitrus
Marcelo Mueller de Freitas – Eng. Agrônomo – Doutor em Entomologia -Departamento de Ciências da Produção Agrícola, Unesp/FCAV