Considerado o maior desafio atual da citricultura, o greening é uma doença sem cura que provoca grandes prejuízos à produção, como aumento da taxa de queda de frutos, alterações na qualidade da fruta e do suco e dificuldade de renovação e ampliação dos pomares.
A doença tem crescido nos últimos anos no cinturão citrícola de São Paulo e no Triângulo/Sudoeste Mineiro, principal área produtora de laranja e suco de laranja do mundo, tendo alcançado, em 2021, o maior patamar já registrado.
O levantamento anual de greening, realizado pelo Fundecitrus, em 2021, aponta que a incidência média da doença é de 22,37 %, o que equivale a mais de 43 milhões de árvores doentes do total de 194 milhões de plantas. Em relação a 2020, a incidência cresceu 7,2 %, sendo o quarto salto consecutivo da doença (2018: 18,15 %; 2019: 19,02 %; 2020: 20,87 %).
Pela primeira vez, o estudo contou com uma segunda projeção dos dados, desconsiderando o plantio de novas mudas e incluindo a estimativa de plantas doentes eliminadas ao longo de 2020, componentes que reduzem a incidência, que chegaria a 26,52 %.
Causas do aumento do greening
O aumento do greening no cinturão citrícola, em 2021, é resultado de uma combinação de fatores. Um dos principais pontos é o aumento da não eliminação de plantas doentes nos pomares comerciais, especialmente de árvores adultas em produção. Esse cenário associado à ocorrência de falhas de manejo do psilídeo, como a não rotação de inseticidas com diferentes modos de ação, os intervalos longos entre as aplicações no período de brotação e as falhas na cobertura de pulverização, permitiram o aumento da população do inseto dentro das fazendas, reduzindo a eficiência de controle da doença.
Além disso, as condições climáticas de 2019 e 2020 também contribuíram para o aumento da incidência. A combinação de chuvas, estiagem e altas temperaturas, a poda de pomares muito adensados e a irrigação no longo período seco induziram uma maior frequência de brotações durante todo o ano, o que, por sua vez, favoreceu a reprodução do psilídeo e sua dispersão.
Análise regional mostra gravidade da situação e indica o manejo adequado
A gravidade da situação torna-se ainda mais evidente quando analisada regionalmente. A doença cresceu consideravelmente em regiões que mantinham baixas incidências (Avaré e Itapetininga) e atingiu índices alarmantes em outros locais (Limeira, Brotas e Porto Ferreira).
Em algumas regiões do centro-sul do estado, as incidências chegam a valores próximos aos da Flórida, principal região citrícola dos Estados Unidos, que tem sido seriamente prejudicada pelo greening e deve colher, neste ano, a menor safra de laranja desde que a doença foi identificada na região.
Em Limeira, a doença já afeta 61,75 % das plantas; em Brotas, 50,40 %; em Porto Ferreira, 37,84 %. Nas regiões de Avaré e Duartina, no sudoeste do estado, as incidências são consideradas altas: 29,41 % e 26,15 %, respectivamente. Essas cinco regiões representam metade do parque citrícola, reunindo 51% das laranjeiras do cinturão.
Essas altas incidências de greening também dificultam o controle em pomares jovens, que representam a continuidade da cultura. Plantas jovens são mais suscetíveis a novas infecções por brotarem frequentemente e, quando há muitas plantas adultas doentes e controle insuficiente do psilídeo por perto, é mais difícil de se evitar que a doença avance para os plantios novos. Assim, nessas regiões, parte significativa das laranjeiras com até cinco anos já estão doentes.
Além disso, em cada região e local em que a propriedade está inserida, existem diferentes realidades quanto ao risco que o greening representa – se é um local mais isolado, se existem vizinhos próximos e se eles estão realizando o controle adequado da doença. Assim, cada situação exige diferentes ações de manejo.
Adoção de manejo rigoroso e coletivo é eficiente para controle do greening
Com todo o conhecimento produzido ao longo dos anos e a adoção de um pacote completo e rigoroso de manejo por todos os citricultores, é possível combater o greening e reverter a situação.
A região de Matão é um exemplo disso. Apesar de ter condições climáticas favoráveis para o greening e já ter registrado altos índices entre 2015 e 2017, a doença está em queda na região nos últimos anos. O sucesso é consequência da adoção rigorosa, pela maioria dos citricultores, do controle interno do greening e do psilídeo e do controle externo – a região foi a primeira a iniciar a substituição de plantas de citros e murtas localizadas ao redor das fazendas por outras espécies frutíferas e ornamentais não hospedeiras do inseto vetor, ainda em 2011.
Campanha “Greening é coisa séria” faz alerta ao setor
Com o objetivo de conscientizar os agricultores sobre o perigo que a doença representa para a citricultura, estimular a união de todos os elos da cadeia citrícola para ações conjuntas, urgentes e rigorosas e baixar a incidência de greening, o Fundecitrus lançou a campanha “Greening é coisa séria”, que tem como peça principal um filme com Rolando Boldrin – disponível no canal do Fundecitrus no YouTube.
Juliano Ayres – Gerente-geral do Fundecitrus, Renato Bassanezi – Pesquisador do Fundecitrus
Ivaldo Sala – Engenheiro agrônomo do Fundecitrus, Marcelo Scapin – Engenheiro agrônomo do Fundecitrus