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Um novo olhar para a sustentabilidade

Viviani Silva Lirio

A temática da sustentabilidade tem crescido, ano após ano, em termos de visibilidade e preocupação. Nascida da percepção da finitude dos recursos naturais, ela evoluiu para um olhar mais completo (e complexo), abarcando outros atributos que passaram a fazer parte desse “combo” de análise, como os aspectos socioeconômicos (a equidade econômica, a justiça social, a qualidade de vida e o reconhecimento do pertencimento cultural e socioespacial).

Nesse sentido, é necessário reconhecer que as mudanças a serem desenvolvidas precisam considerar o conceito de limite — natural, orgânico e de insumos —, a fim de que se desenvolvam processos inovativos voltados para sustentabilidade, mas também devem ir além. Ricardo Abramovay, em sua obra intitulada “Muito Além da Economia Verde”, destaca que “é preciso melhorar como se obtém e se transforma a energia, os materiais e a própria biodiversidade em produtos e serviços úteis à sociedade”, de modo que se consiga “reduzir a dependência da vida econômica do uso crescente de recursos materiais e energéticos”, viabilizando o atendimento às necessidades sociais, mas de maneira mais eficiente. Aliás, a eficiência, sempre considerada no bojo dos atributos relevantes para a adequada gestão econômica, deve incorporar atributos que vão além das reflexões exclusivamente econômicas — quando não estritamente contábeis —, ou seja, a eficiência precisa incluir aspectos sociais e ambientais.

Essa mudança na forma de olhar para o conceito de sustentabilidade, compreendendo esse movimento não como ação obrigatória e demandante, ou seja, como algo externo, mas como uma necessidade natural do processo de evolução das relações humanas, tem de acontecer. Parafraseando o já citado professor Abramovay, é imprescindível gestar um novo tipo de metabolismo produtivo e social, no qual seja possível, inclusive, discutir as bases de novos modelos de produção e consumo.

Naturalmente, pensar sobre esses temas em períodos críticos, como o que agora vivemos, torna-se particularmente desafiador — quando não doloroso —, mas, convenhamos, não é exatamente nos períodos de crise que as limitações, os equívocos e as oportunidades ficam mais visíveis? Não é exatamente nesses sofridos momentos sociais em que as disparidades humanas se apresentam mais fortes e a natureza pressiona uma mudança de conduta como uma reação natural aos danos perpetrados? Não é nesse momento em que ficam mais evidentes os locais mais carentes de atenção ou os pontos críticos?

Não se trata de ação de curto prazo ou de movimentação simplista nem mesmo se trata de propor uma revisão produtiva drástica. Não… Trata-se de começar. Trata-se de dar início — individual e coletivamente — a ações objetivas de enfrentamento aos desafios sociais, econômicos e ambientais vividos atualmente, frutos, todos eles, de ações pregressas. Trata-se, por fim, de olhar a sustentabilidade como uma saída, não como algo a ser feito para atender regramentos vigentes, compreendendo que o tecido socioeconômico ambiental é vivo, é orgânico e precisa de atenção.

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